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Disco de Michael Jackson com defeito vale dinheirão entre fãs

Por incrível que pareça, álbuns com erros toscos dos mais diversos viraram raridades e itens de colecionador em lojas e na internet

Música|Daniel Vaughan, do R7

Fãs querem comprar qualquer coisa do ídolo Michael Jackson
Fãs querem comprar qualquer coisa do ídolo Michael Jackson

Ser fã de música significa colecionar tudo sobre o ídolo. Até aí tudo bem. Mas tem gente que consegue ir além do normal. Por incrível que pareça, muitas pessoas compram até disco com defeito para fazer a diferença na coleção.

Em sebos e na internet, um vinil de Michael Jackson que toca músicas de outro artista, por exemplo, vale uma boa grana entre fãs. E não para por aí.

O R7 visitou lojas de vinil em São Paulo para saber mais sobre os caçadores de discos inusitados.

Os álbuns fora do comum variam muito de preço e categoria. Para entender melhor o fenômeno, é preciso lembrar que esse tipo de produto não é necessariamente caro e, na maioria das vezes, pode ser encontrado com certa facilidade. O destaque aqui é o gosto peculiar da clientela.


No Brasil, um item está no topo das curiosidades. Um disco picture (com capa estampada no próprio LP) de Dangerous, de Michael Jackson, de 1991, chama atenção no mundo todo. Isso seria normal, se não fosse por um erro drástico. O som registrado na edição promocional brasileira traz, no lado B, músicas do pianista francês Richard Clayderman. Porém, com o tempo, o objeto foi promovido de descartável para tesouro "cult".

Vinil de Michael Jackson com defeito é procurado em sites do mundo todo
Vinil de Michael Jackson com defeito é procurado em sites do mundo todo

Marcos Antonio Lombardi, da Vinyl Mania, vende um exemplar do picture por R$ 1500, assim como vários sites gringos especializados espalhados na web.


— Acredito que a gravadora queria prensar algo para fazer propaganda do disco, daí pegou qualquer coisa da mesma empresa. Mas os fãs gostam dessas coisas.

O DJ e dono do Sebo do Disco, Marcelo Paixão, também fatura com a "dobradinha" entre o Rei do Pop e o pianista romântico.


— Isso virou artigo de colecionadores de Michael no mundo todo. Uma vez eu vendi no eBay uma cópia por 990 dólares (quase R$ 4 mil).

O DJ e dono do Sebo do Disco, Marcelo Paixão, fatura com os vinis com erros
O DJ e dono do Sebo do Disco, Marcelo Paixão, fatura com os vinis com erros

O empresário diz que esbarrou sem querer nesse tipo de comércio.

— Em 2002, montei um site bem antes das lojas virtuais fazerem sucesso. A partir disso, comecei a vender muitos discos para fora do País. E foi aí que reparei que eles procuravam essas curiosidades.

Em loja de SP, vinil dos Beatles com defeito é mais caro do que o normal
Em loja de SP, vinil dos Beatles com defeito é mais caro do que o normal

Marcos Antonio, que está no centro da capital há 28 anos, também destaca outra peça procurada. Ele tem duas cópias diferentes do chamado álbum branco dos Beatles (1968). Um dos LPs traz um lado com a rotação variando entre lento e rápido, deixando a faixa Revolution imprestável para audição. Mesmo assim, a curiosidade custa R$ 380, enquanto o normal sai por R$ 150.

— Foi a primeira prensagem brasileira, em mono, mas depois eles arrumaram. O disco é procurado por beatlemaníacos daqui e fora do País. Esse tipo de produto vem, às vezes, em lotes, descartado pelo antigo dono. É para quem quer um acessório bem diferente na coleção (ouça abaixo).

Fora do nível elevado da citada dupla "Michael & Clayderman", o freguês pode adquirir curiosidades mais em conta. Vicente Mallone Neto, da Vinil SP, vendeu recentemente por R$ 70 o clássico Kaya, de Bob Marley, com defeito de fábrica. Um dos lados do álbum traz nada mais do que as músicas pesadíssimas do grupo Slayer. Ou seja, o álbum virou um mix de reggae e thrash metal.

— O cara só entrou e levou o LP. É puro colecionismo. Tem gente que só procura itens assim.

Luiz Calanca, dono da Baratos Afins, também testemunhou "encontros" estranhos na estante da loja.

— Eu tive CDs do Metallica, "black album", que tocavam Maria Bethânia. Reparamos no erro, só que acabamos vendendo tudo antes de reclamar para a gravadora (risos). As pessoas queriam assim mesmo.

O experiente Chicão é especialista em música brasileira
O experiente Chicão é especialista em música brasileira

O experiente Francisco Carlos de Carvalho, dono da Chico e Zico, confessa que ainda está apreendendo a lidar com esse tipo de peculiaridade.

— Na minha opinião, muito erro aconteceu na pressa de fabricar o material. Trabalho há muito tempo com isso, mas tenho que prestar atenção no produto para não ser pego de surpresa na loja.

Luiz ouviu CDs do Metallica que tocavam Bethânia
Luiz ouviu CDs do Metallica que tocavam Bethânia

Carlos Soares, do Big Papa Records, veio de Miami (EUA) para vender vinis em São Paulo. Ele relembra que tomou um susto ao descobrir tal extravagância. Além disso, Carlos faz questão de ressaltar que não curte esse tipo de produto.

— Peguei um disco do Procol Harum que trazia uma música fora de rotação, mas acabei lendo na internet que o álbum era procurado pelo defeito. No meu caso, são casualidades. Sinceramente, não tenho o objetivo de faturar tanto em cima disso. Se acontecer, avisamos e vendemos por um preço justo.

Mais caros e menos comerciais

Outro caso mais comum entre "vinil maníacos" é a raridade original. Todos comerciantes entrevistados concordam que a maioria dos discos antigos muito procurados no momento não foram sucesso de vendas na época. Porém, com o tempo, muitas obras acabaram redescobertas. Então, isso cria, hoje muito via internet, um certo fetiche de consumo pela "caça ao tesouro musical". 

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Entre os discos mais famosos desse tipo, estão os dois volumes de Tim Maia da fase Racional (1975 e 1976) e o primeiro LP de Roberto Carlos (Louco por Você, de 1961). São trabalhos que os dois artistas se arrependeram e tentaram tirar de circulação. No dia da matéria, a reportagemencontrou o LP do Rei por R$ 7 mil. Lembrando que esse é um álbum considerado ruim dentro da discografia do compositor.

Outro exemplo da lista é o experimental Paêbirú (1975), de Lula Côrtes e Zé Ramalho, cujos originais foram quase todos levados em uma enchente. E, mesmo relançado fora do País, o fã roots ainda prefere aquela peça sobrevivente do "dilúvio". 

Disco "fraco" de Roberto vale R$ 7 mil
Disco "fraco" de Roberto vale R$ 7 mil

O DJ Marcelo Paixão explica um pouco sobre o fenômeno.

— São objetos raros porque restaram poucos originais no mercado. Viraram relíquias. E, às vezes, o cara nem gosta tanto assim do som, mas quer ter aquilo porque é difícil de encontrar.

Carlos Soares, que comercializa LPs há 38 anos, reconhece que existe uma moda entre caçadores hipsters.

— Clientes vêm procurar determinados álbuns que eles leram na web que é "cult". Esse tipo de notícia mexe com a curiosidade das pessoas, que nem sempre vão curtir o conteúdo do álbum. Muitos desses trabalhos trazem uma audição difícil, são experimentais.

Detalhes fazem a diferença

Se você acha que as manias de colecionadores param por aí, se enganou. Tem gente que passa do nível leve para o avançado, depois de conseguir tudo o que é considerado usual. Marcelo Paixão, que trabalha com discos desde 1991, entrega pedidos estranhos da freguesia "diferenciada".

— Tem gente que adora determinado grupo e quer todas as versões do mesmo disco que saíram no mundo todo. Assim, como existe cliente que procura pequenas diferenças entre capas e prensagens. Qualquer detalhe faz a alegria da coleção.

Capas diferentes dos mesmos discos também são itens de colecionador
Capas diferentes dos mesmos discos também são itens de colecionador

Fabiano Oliveira, da Chico e Zico, tem diversos títulos surpreendentes de música brasileira.

— O Roberto Carlos, a partir do Ritmo de Aventura (1967), saiu também em estéreo, além de mono. Os fãs curtem a tarja azul na capa contando sobre a novidade. E ainda tem muita gente atrás de fotos e artes diferentes do mesmo trabalho lançado em outros países, como aconteceu com Djavan, Wilson Simonal e Beatles.

Carolina Calanca, que trabalha com o pai Luiz na Baratos Afins, entrega quem são os admiradores mais exagerados.

— Fãs de Madonna são os mais loucos. Eles compram até o mesmo disco com código de barras diferente (representação gráfica de dados numéricos). O cliente chega aqui e pede tudo que temos da cantora, daí começa a verificar todos os detalhes.

Tarados por capas

Segundos os comerciantes, existem compradores que só curtem a arte do LP. O áudio nem conta, em certos casos. São clientes que colecionam capas com mulheres nuas, aviões e até chapéus.

Dirleison Leite, do Tuca Discos, confirma o costume peculiar.

— Tem um cara que sempre passa aqui e pergunta: "E aí, novidades? Bumbuns, peitos..." (risos). Ele tem todas as coletâneas dos anos 80 com aquelas modelos seminuas nas capas. Cada um coleciona o que quiser, né?

Tuca segura o disco do Led Zeppelin com arte descaracterizada
Tuca segura o disco do Led Zeppelin com arte descaracterizada

DJ Paulão, sócio da Patuá Discos, também destaca um "taradão musical". 

— Lembro que pediram o LP do Wando que tem uma calcinha de encarte. E só queriam se tivesse a dita cuja!

Já em matéria de gafes, Dirleison, que está há 19 anos no centro de São Paulo, tem um exemplar diferente do quarto trabalho de Led Zeppelin. O disco seria comum se não fosse um detalhe. Parte da primeira prensagem nacional, de 1971, traz na capa uma propaganda enorme com o nome da banda, título do LP e a chamada: "Inédito - simultâneo USA/Brasil". E, na verdade, a ideia original consiste justamente em não ter nada escrito. O quarto álbum, que não tem nome oficial, vem apenas com a misteriosa foto do velho camponês. O material "danificado" custa R$ 300, o dobro do normal.

— A matriz recolheu os LPs, porque isso foi um pecado que cometeram com a arte da banda. Creio que eles ficaram horrorizados quando viram tal ideia. Mas, com o tempo, esse vinil se tornou objeto de consumo, principalmente, para gringos. Acham que é algo exclusivo do Brasil. 

Existe fã que só compra capa com mulher seminua
Existe fã que só compra capa com mulher seminua

Dirleison relembra casos divertidos.

— Tem um disco dos Vibrators que se chama Pure Mania (1977). Só que muitos fãs querem uma edição nacional com erro ortográfico no título do selo, que ficou Pure "Maria" (risos). É o tipo de besteira que passaria batido, se não fosse o costume dos fãs em procurar detalhes esquisitos.

E, para quem ainda não se acostumou com a ideia, o vendedor recomenda ficar de olho antes de descartar qualquer coisa.

— Querendo ou não, esses discos inusitados são uma boa fatia do mercado de vinis para ser explorada. Imagina, o comerciante se depara com o que seria um defeito, mas acaba descobrindo que o disco tem valor. É preciso ficar esperto (risos). E cada um com sua mania, pois o que vale é a diversão.

Agradecimentos:

Tuca Discos - http://facebook.com/tuca.discos

Vinylmania - (0xx11) 3361-8155

Sebo do Disco - http://sebododisco.com.br

Baratos Afins - https://www.baratosafins.com.br

Patuá Discos - http://www.patuadiscos.com.br

Chico e Zico - https://www.facebook.com/Chico-e-Zico-Vinil-367269166811881/

Big Papa Records - http://www.bigpaparecords.com

Vinil SP e UP LPs - https://www.vinilsp.com.br e https://www.facebook.com/uplps

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