Com humor e dançarinas, É o Tchan criou nova fórmula para o axé nos anos 90

Ninguém segura e nem amarra o tchan. A banda que está na ativa há quase trinta anos, é uma das mais populares do axé. Formada no Recôncavo Baiano, se destacou nos anos 90 por trazer uma fórmula que reunia samba de roda, letras bem humoradas, três dançarinas e coreografias que se tornaram clássicas na música pop nacional.

O resultado dessa ideia então inédita no axé pode ser medida em números e feitos: são 16 milhões de discos vendidos (três milhões no exterior) e a histórica participação no festival de Montreux (Suiça), em 1997. Beto Jamaica diz que o grupo rompeu não só com o samba reggae como também com o axé pop que estava bombando pelo Brasil via Daniela Mercury.

— Ninguém tinha ouvido uma banda de samba de roda com letras de duplo sentido, figurinos temáticos e uma postura bem humorada. Essa fórmula, criada por mim, pelo Compadre e o empresário Cal Adam, superou todas expectativas. Tínhamos uma linguagem tão pop, que atingimos crianças e fomos convidados licenciar nossa marca para produtos voltados a esse público.

A cada disco lançado nos anos 90, a banda apostava em letras sobre países com culturas exóticas aos olhos ocidentais, como Japão, Egito e o estado do Havaí, nos Estados Unidos. Ao lado das letras, o É o Tchan aparecia como figurinos típicos desses locais, mostrando um visual lúdico..

— Depois de nossa geração, não aconteceram muitas mudanças radicais e por isso o axé perdeu um pouco o gás. Antes de nós, isso rolava a cada cinco anos. Precisa surgir gente sem medo de romper os padrões.

Muito além dos palcos

O sucesso do É o Tchan não é restrito às músicas, shows e discos. A banda criou o conceito de dançarino-celebridade. Carla Perez, Sheila Mello, Scheila Carvalho e Jacaré foram tão importantes para o sucesso do grupo quanto os vocalistas. Prova disso, é o sucesso que fazem até hoje, sendo convidados para eventos, entrevistas e ensaios fotográficos. E isso porque eles não fazem mais parte do É o Tchan.

Carla e as Sheilas também foram grandes ícones sexuais dos anos 90 e 2000. Carla posou duas vezes para a Playboy e, em uma delas, causou polêmica por aparecer na capa com o Papai Noel segurando seus seios. As Sheilas também estrelaram capas da mesma revista. Entre as dez edições mais vendidas, as três dançarinas aparecem com seus ensaios ocupando quatro colocações. Prova de que a escolha das beldades foi acertada. Ao todo, as edições que figuram no top 10 garantiram nada menos do que 3,5 milhões de cópias vendidas.

— Quando começamos o grupo, não pensamos em dançarinos. Depois, veio o Jacaré. E na sequência a Deborah Brasil e a Carla. Mas não dá para negar que as Sheilas juntas chamaram bastante atenção.

Outro ponto além da música que garante o sucesso do Tchan após tantos anos é o bom humor e os bordões de Compadre Washington, que viraram meme na internet. Recentemente, a personalidade carismática do músico foi resgatada em uma campanha publicitária que trazia Compadre soltando frases espirituosas. Com essa propaganda, além de embolsar uma grana, Compadre criou um novo bordão: “sabe de nada, inocente”. Ele explica a importância do bom humor para a história do Tchan.

— Surgimos de um lugar muito pobre. As pessoas que moram na favela sempre enfrentaram dificuldades, mas nós podemos falar sobre esses problemas com uma pitada de humor e também brincar com os problemas. A gente já sofre com a realidade e se transformarmos todo esse sofrimento em música, vamos dobrar o sofrimento. Também temos que levar alegria para as pessoas.