Conheça a história e a evolução do trio elétrico, o palco do axé no Carnaval baiano
Criado por Dodô e Osmar, carro sonorizado surgiu em 1951 com um Ford 1929
Pop|Helder Maldonado, Do R7
Enquanto o axé completa 30 anos, em 2015 o trio elétrico comemora 64 anos de existência. Sem essa carreta sonorizada, o Carnaval baiano definitivamente não seria o mesmo.
Mas quem frequenta os circuitos da festa baiana e se impressiona com a estrutura dos palcos móveis, sequer pode imaginar que no início os trios não passavam de um carro com um amplificador ligado à bateria. E não era trio. Era dupla. E que dupla: os músicos Dodô e Osmar (que dão nome a circuitos de desfiles de Salvador) foram os criadores desse conceito.
Tudo começou em 1951, quando o clube recifense Vassourinhas convidou os dois músicos para tocar no Carnaval de Salvador em um Ford 1929 que foi restaurado para a apresentação. O sucesso entre o público foi enorme.
No ano seguinte, eles chamaram o músico Temístocles Aragão para participar do Carnaval. Foi com essa formação que começaram a ser chamados de Trio Elétrico. O nome pegou e outras bandas que tocavam em carro aberto passaram a receber o mesmo nome. Armandinho, filho de Osmar, lembra que, com o passar o do tempo, os veículos que levavam os músicos foram aumentando de tamanho para acompanhar o crescimento das bandas que participavam da festa.
Nos anos 60, os amplificadores usados nos trios tinham uma potência de 100 watts. Nos 70, atingiam 20 a 30 mil watts. Hoje, alcançam entre 100 a 500 mil watts, superando concertos de rock e de orquestras.
— No início, era um carro. Depois, começaram a desfilar em caminhonetes e caminhões pequenos, que eram melhores para acomodar bandas completas. Eles não imaginavam que um dia o trio seria uma carreta, mas viveram o suficiente para presenciar essa evolução.
Em 1976, o trio elétrico começa a se profissionalizar e ter impacto cultural e econômico importante no Carnaval baiano. O grupo Tapajós se transforma numa empresa e, em 1978, contrata Moraes Moreira para tocar, inaugurando a fase vocal da festa. Antes, as bandas eram estritamente instrumentais.
— A partir de então, os trios começaram a receber músicos com influência de rock e afoxé. Nos anos 80, o axé surgiu e esses novos artistas colocaram novas características na música.
Outros elementos do Carnaval baiano estão ligados aos trios. Os abadás, por exemplo, foram criados para os foliões curtirem a festa bem próximos da banda. A pipoca também. Pois é lá, do outro lado da corda que o folião sem abadá desfila.
Junto com o surgimento do trio elétrico, Dodo e Osmar criaram também a guitarra baiana, espécie de bandolim eletrificado de quatro ou cinco cordas feito especialmente para tocar frevo, que era o estilo que imperava na década de 50.
Hoje, esse instrumento não está mais tão presente nos trios. Armandinho é um dos poucos músicos baianos que ainda mantém viva a sonoridade do instrumento criado pelo pai.
— Vejo com felicidade essa preservação e evolução dos trios, mas gostaria que os blocos afros tivessem mais espaço, assim como a guitarra baiana. Temos feito trabalhos para resgatar essa tradições tão importantes para a música baiana.