Jovem, aos 18 anos aliste-se no exército do Lollapalooza
Festival levou 200 mil pessoas nos dois dias de shows no Autódromo de Interlagos
Pop|Marco Bezzi, do R7
Enquanto assisto ao concerto do Duran Duran no conforto da minha casa, lembro da experiência do sábado, quando o primeiro dia do festival Lollapalooza teve como principal atração as 100 mil pessoas que estiveram no Autódromo de Interlagos.
É estranho estar num local com tanta gente. A visão não está acostumada a tamanha gigantismo. O corpo e a mente saem de órbita muitas vezes. Você anda, anda, anda e anda, e sempre encontra multidões de gente.
No sobe e desce das pistas, tendas de comida e bebidas e food trucks não conseguiam comportar a demanda de pessoas querendo comer e matar a sede. Os banheiros tinha enormes filas. E se a estrutura não suporta a quantidade de pessoas, é necessário rever este ponto de necessidade básica de quem pagou caro pelos ingressos (cerca de R$ 500 por dia). Outra atitude necessária é criar bolsões para taxis e carros de aplicativos como Uber, Cabify, no estilo do aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro.
A festa do Lollapalooza no primeiro dia tinha como intruso o Metallica, banda acostumada a tocar para grandes multidões em festivais espalhados por todo o mundo. Por aqui, a banda sempre foi inserida em noites conceituais de “rock pesado” e “metal”. Ontem, para mim, que assisti ao meu primeiro show do grupo em 1989, foi estranho ver tantos adolescentes dançando ao som de riffs tão pesados como os de Sad But True e Whiplash.
Aliás, para uma pessoa com mais de 40 anos que acompanha show desde os 12 anos de idade, a experiência do Lollapalooza é demasiada cansativa. Nem as bebidas e as comidas vindo do Lolla Lounge são suficiente para diminuir o cansaço. Na minha época (olha o papo de velho começando), tudo era direcionado para cima do palco. Grandes bandas, conversas sobre o setlist, os integrantes, se este ou tal show foi melhor. Para as novas gerações, o importante é fazer parte da tribo da música, postar tudo o que necessário, fazer centenas de stories, snaps.
Isso porque o Lollapalooza traz sempre ótimas bandas. Ontem, além do Metallica, Chainsmokers, The XX e os veteranos do Rancid, além dos brasileiros do Suricato e do Bayanasystem representaram a diversidade de sons e gêneros. O festival é inclusivo, menos no preço.
Em muitos momentos, é este tipo de evento que separa os homens das crianças. No meu caso, o lado adulto tem gosto de velhice quando olhava o quanto cada pessoa andava pelos quilômetros e quilômetros no Autódromo de Interlagos sem reclamar. As crianças viram adultos e os adultos querem descanso.
Metallica faz show burocrático
E o Metallica? O show trouxe músicas do novo álbum, o excelente Hardwired... to Self-Destruct. O palco minimalista, sem efeitos ou fogos de artifícios, mostrava mais uma vez o que a banda realiza no Brasil há quase dez anos: shows burocráticos, ligado no automático, e sem a intenção de causar uma surpresa para os headbangers que conheceram a banda no início de 1893, quando lançou o álbum Kill ‘Em All.
Mas quem disse que o Metallica toca para essas pessoas? Se a grande maioria do público é composta de jovens que preferem dançar a bater cabeça, nada mais “justo” do que tocar os hits e ganhar a plateia logo nos primeiros acordes.
Vou voltar para o meu sofá que minhas costas e joelhos ainda doem do dia de ontem.