‘A Verdadeira Dor’, que pode dar Oscar a Kieran Culkin, reflete sobre luto e peso da ancestralidade
Longa é dirigido pelo ator Jesse Eisenberg, que também assina o roteiro
Cine R7|Cris Massuyama
“O resultado de mil milagres”. É assim que David (Jesse Eisenberg) se refere ao primo Benji (Kieran Culkin) no filme A Verdadeira Dor, em cartaz nos cinemas brasileiros.
Na verdade, David também é a soma desses tantos milagres. A avó deles é uma sobrevivente do Holocausto. Mas a honra de representar uma família que lutou pela vida também é um fardo para os dois — e a forma como cada um lida com isso é a grande jornada que Jesse Eisenberg apresenta neste longa sensível que ele também roteirizou e dirigiu.
A trama tem forte tom autobiográfico e mostra a viagem dos dois primos americanos para a Polônia, terra natal da avó. Depois da morte dela, David e Benji querem conhecer a casa onde a matriarca morou. A diferença de personalidade dos dois é clara desde o primeiro minuto: David é reservado e neurótico, enquanto Benji é impulsivo e carismático.
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A viagem não tem um caráter de aventura: David e Benji seguem em um grupo de excursão temática, que busca revisitar a identidade judaica pelas cidades polonesas. Tudo liderado por um guia turístico, com vans e hotéis reservados. A aparente tranquilidade do passeio é palco perfeito para os momentos performáticos de Benji.
À primeira vista, parece difícil não achar que estamos diante de dois atores interpretando eles mesmos. O papel de Culkin tem aquela rebeldia provocativa que já causou furor em Succession. Mas as vivências de Eisenberg estão nos dois personagens: ele escreveu uma peça com tema bem semelhante e pensou em interpretar Benji inicialmente.
O ator só mudou de ideia depois do conselho de uma das produtoras do filme: a atriz Emma Stone, que contracenou com Eisenberg em Zumbilândia. Para ela, o papel que acabou com Kieran Culkin seria mais exaustivo para alguém que também comandaria a direção.
O “toque” deu certo: Culkin está indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante e é considerado o favorito da categoria. Jesse Eisenberg também foi indicado na categoria Melhor Roteiro Original.
Conforme a viagem segue, os caminhos do luto de cada um dos personagens se revelam. David busca estabilidade para manter o rumo familiar e não se conforma com a vida caótica do primo. Afinal, ele sente que deveriam honrar o legado de sobrevivência da avó — os “mil milagres”. Mas o jeito livre como Benji lida com os sentimentos também é algo que David inveja. E que vai trazer muitos aprendizados.
A Verdadeira Dor também é sobre entender como uma perda causa reações bem diferentes. Mesmo sem perceber, às vezes é inevitável achar que certas angústias não fazem sentido, como se existisse uma “verdadeira dor”. Quando deixamos de ser esses “juízes” das emoções para tentar de fato compreender e acolher o outro, é aí que o horizonte se abre — na vida e no filme de Jesse Eisenberg.
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