‘Às Vezes Quero Sumir’ revive Daisy Ridley com romance que aborda depressão
Longa mostra o potencial da atriz após nove anos de esquecimento em Hollywood
Cine R7|João Acrísio Loyo*
Talvez, em 2015, o nome de Daisy Ridley fosse o mais falado de toda Hollywood. A atriz inglesa pouco conhecida estava prestes a ser lançada ao estrelato por ser a protagonista Rey da mais nova trilogia de Star Wars. Entretanto, depois de três filmes medianos e nove anos sofrendo com o ódio dos fãs, Daisy viu sua carreira sumir diante de seus olhos.
Hoje, quase dez anos depois do começo do que parecia um sonho, a atriz tem participações esquecíveis em obras de qualidade duvidosa. Em seu novo longa, Às Vezes Quero Sumir, que estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (23), Daisy quebra esse ciclo medíocre com um filme que deixa ela trabalhar a sua personagem, Fran.
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O longa se passa em uma cidade portuária sem muito movimento nos Estados Unidos, com foco no trabalho comum de Fran e seus colegas de trabalho que reforçam estereótipos de um ambiente alegre, enquanto ela se destoa do resto com seus desejos mórbidos de “sumir”.
Sumir é um termo adaptado para a versão brasileira do título. Se fosse traduzido do original “Sometimes i think of dying” ficaria algo como “Às vezes eu penso em morrer”, um nome mais direto à vontade real de Fran. O longa aborda a questão da depressão frente aos relacionamentos sociais, mesclando as falas, ou falta delas, com cenas breves do imaginário da personagem.
A narrativa começa a engrenar quando a vida monótona de Fran muda com a chegada de um novo colega de trabalho. Em mais um de seus devaneios sobre como morreria, ela percebe um novo ser em seu imaginário, Robert, o cinéfilo divorciado que acaba de se mudar para a cidade.
Na tentativa de se aproximar dele, a protagonista acaba se aventurando, como indo ao cinema ou à casa de conhecidos, o que gera momentos engraçados pelo seu humor distorcido tentando se socializar.
Guiada por uma ótima fotografia, o filme trabalha o silêncio da protagonista e a sua falta de expressões faciais para mostrar a sua depressão e a apatia por tudo, mas, ao mesmo tempo, deixa a atriz com espaço para uma atuação impactante e empática nos momentos de clímax.
O realce deste filme não está na sua história, longe disso. O enredo e o roteiro acabam ficando superficiais demais para uma narrativa densa como foi proposta. Quando se aborda um tema delicado como a depressão e o desejo de morrer, muito filmes acabam escapando da linha, o que vira um gatilho para muitos telespectadores. Porém, em Às Vezes Quero Sumir, a condição de Fran se torna apenas um ponto motivador para o desenvolvimento do personagem e não toca nos detalhes do transtorno, tanto por medo de errar, quanto para manter o foco na relação com Robert.
O verdadeiro charme do filme fica com a fotografia de Dustin Lane, que consegue transmitir o sentimento de calmaria e tristeza de Fran. Inspirado em longas como Manchester à Beira-Mar, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças e Submarine, as cenas dão espaço para a personalidade estranha e singular da personagem principal, além de estabelecer cortes bem definidos entre a imaginação da protagonista e a sua realidade.
Outro detalhe interessante está na direção da Rachel Lambert, que para destacar esses poucos e impactantes momentos imaginários movimenta câmera durante as cenas, enquanto uma imagem estática predomina o restante do filme focado na monotonia do ambiente do trabalho.
Apesar de Daisy Ridley nunca ter feito um longa que entregue realmente uma boa atuação, ela segura rapidamente a plateia com sua interpretação, deixando a obra mais completa e não apenas um show de cenas bem filmadas. Pode se dizer que Às Vezes Quero Sumir é o primeiro filme no qual sua atuação realmente saltou do restante e a distanciou de seu passado cercado por ódio e decepção, mas sua jornada ainda é longa para retomar a posição de sucesso que estava há nove anos.
*Sob supervisão de Lello Lopes
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.