Não acredite (muito) nas críticas: A Pequena Sereia ainda vale seu ingresso
Filme tem alguns problemas de execução, mas a história encanta — especialmente na versão atualizada, em cartaz nos cinemas
Cine R7|Bia Cioffi, do R7 e Bia Cioffi
Fui ao cinema a contragosto para ver A Pequena Sereia, não vou mentir. Depois de tantas críticas negativas, fiquei com pena de gastar meu dinheirinho com um filme que já estava com a bola cantada: tinha tudo para ser ruim. Mas sabe que eu estava enganada?
A essa altura do campeonato, você certamente está saturado de tantos textos (e vídeos e tiktoks) falando mal do longa-metragem. Mas venho aqui a público para dizer que você pode dar uma chance ao lançamento da Disney. Especialmente se tiver uma criança (mas não muito) para acompanhá-lo nessa empreitada.
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Primeiro que Halle Bailey foi mesmo uma linda escolha para viver a protagonista. Com olhar doce e inocente (uma menina!), a atriz, com naturalidade, dá vida a uma Ariel que está disposta a largar o mágico mundo marinho pelo sonho de conhecer terras inexploradas. Uma sonhadora, com carinha de quem sonha. E você acredita nela! Sem falar na sua voz, realmente digna de sereia, capaz de encantar o público e quem mais cruzar seu caminho.
Segundo que as músicas são deliciosas — como os mais velhos (alô, millenials e boomers!) já sabem desde a animação de 1989. Repaginada (e ampliada) graças à parceria de Lin-Manuel Miranda (do musical Hamilton e de Encanto e Moana) com Alan Menken (compositor original do desenho), a trilha emociona nos números clássicos e surpreende nas novas canções. O flow do Sabichão é um bom momento inesperado do filme.
E por falar em surpreender, o elenco como um todo garante alguns sobressaltos conforme se desenrolam as cenas. Javier Barden como Tritão chama a atenção. Melissa McCarthy está interessante como a Úrsula — bruxa que vive um momento de hype com a geração Z.
Até o desconhecido Jonah Hauer-King, que está sendo tão criticado nas redes sociais, convence em cena. E olha que seu papel é difícil — tanto quanto e pelos mesmos motivos da Ariel.
Ele vive Eric, o príncipe que precisa ser lindo e bem apaixonante (no desenho, Ariel larga toda sua vida para ficar com ele!), mas que pode facilmente ser lido como um bobo, já que é tão sonhador quanto a sereia e passa meio filme garantindo a seu povo que está apaixonado por uma mulher que ninguém nunca viu.
O jeitinho inocente de Hauer-King fica fofo (no melhor sentido) e bem contos de fadas na telona. O que combina super com a interpretação de Halle Bailey. E os dois vencem a missão de seus papéis usando a mesma fórmula: uma docilidade frágil que convence o público de que são mesmo dois novinhos, purinhos, sonhadores.
E se o papel de Hauer-King era para ser de Harry Styles, o ator contratado não deixa por menos. Os dois fazem o mesmo tipo, têm belezas semelhantes em quadro.
A Pequena Sereia peca porque é literal demais. A estética “mermaid” pode ser bela no desenho, mas fica um pouco vergonha-alheia quando transportada para a realidade. A cena final do filme, que deveria ser emoção pura, provoca alguns risos no público, ao parecer um baile de carnaval depois da chuva.
Os amiguinhos da Ariel, especialmente Sebastião e Linguado, também mereciam mais carinho. Sebastião é forte demais no desenho, dono do mais famoso número musical, e no filme ele é apenas... bem, um caranguejo. Linguado por sua vez é um erro, parecendo um peixe recuperado do freezer.
E deixo aqui um vídeo que melhor explica como havia outras saídas inteligentes — e biologicamente mais corretas, inclusive — para colocar o peixinho amarelo e azul no patamar que ele merecia nesse live-action:
Pelo menos a literalidade parou no aspecto visual desta transposição do desenho para o filme. Na história em si, atualizações importantes foram feitas — e é aqui que o longa ganha mais uma redenção.
Entre outros pontos, Ariel não abandona mais a família e a vida de sereia por um homem que viu poucas vezes, mas sim por um sonho maior, por sua liberdade, para conhecer o mundo. Úrsula não diz mais para a garota ceder sua voz na justificativa de que homens preferem “mulheres caladinhas” — ela nem tenta convencer a protagonista de que sua voz não é importante, já que esse seria hoje um argumento absolutamente absurdo. E esses são ganhos importantes, que se somam à discussão da representatividade, para apresentar A Pequena Sereia para novas gerações.
Soma daqui, soma dali, “noves fora”, o público sai do cinema cantarolando as lindas músicas e feliz da vida com a bonita história contada. As crianças riem gostoso em algumas cenas, o que é sempre legal. E, principalmente para quem curte um bom romance, A Pequena Sereia entrega tudo. E ainda promete: a gente vai ver muita Halle Bailey (e quem sabe Hauer-King) por aí — e, a melhor notícia, felizmente, sem esse Linguado de dar medo ao lado.
Veja como são os animais de A Pequena Sereia na vida real:
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.