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‘O Reformatório Nickel’ é retrato poético dos horrores da América segregacionista

O filme do diretor RaMell Ross, que chegou na última quinta (27) no streaming, está indicado a Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado no Oscar 2025

Cine R7|Larissa Yafusso

'O Reformatório Nickel' é um dos indicados a Melhor Filme no Oscar 2025 Divulgação

Na década de 60, os Estados Unidos viram o auge do Movimento dos Direitos Civis. Líderes como Martin Luther King pediam por um país sem segregação racial, em que negros pudessem ter os mesmos direitos que os brancos, que ambos pudessem andar na mesma calçada, frequentar os mesmos lugares.

É nesse contexto que se passa O Reformatório Nickel, um dos dez indicados ao Oscar de Melhor Filme e que estreou diretamente no streaming na última quinta (27).

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O longa é uma adaptação do livro The Nickel Boys, escrito por Colston Whitehead. Para quem nunca ouviu esse nome, ele é apenas um dos quatro escritores que ganharam o prêmio Pulitzer duas vezes. E The Nickel Boys é um desses livros premiados, tendo ganhado o prêmio de ficção em 2020.

Acompanhamos a história de Elwood (Ethan Herisse), um jovem negro, criado pela avó, com algum futuro pela frente, afinal, ele ganhou a oportunidade de estudar em uma escola técnica. Mas no caminho para iniciar esse sonho, uma fatalidade do destino: uma carona com o homem errado.


Elwood é enviado injustamente para o reformatório Nickel e passa a viver de forma ainda mais intensa o racismo da América segregacionista. Em meio a uma realidade violenta e brutal, ele conhece Turner (Brandon Wilson) e a amizade entre os dois os ajuda a sobreviver ao inferno que é a instituição.

RaMell Ross usa uma narrativa poética para mostrar uma realidade duríssima. E, para isso, além do utilizar muitas imagens de arquivos para, muitas vezes, amenizar os horrores que acontecem no reformatório, o diretor faz da câmera os olhos dos garotos; enxergamos tudo através dos olhos de Elwood e Turner.


A escolha da câmera subjetiva não é fácil para o espectador, a princípio. Além de ser um pouco confuso, especialmente quando os pontos de vista de Elwood e Turner se alternam, estamos acostumados a ter uma visão além, ampla, conhecemos os personagens retratados.

Em O Reformatório Nickel, não sabemos como é a aparência de Elwood, a não ser por breves reflexos no ferro de passar roupa da avó, algumas fotos e, por fim, pelo olhar do amigo Turner. Mas isso é justamente o que nos aproxima dos rapazes; vemos o mundo pelos olhos de dois jovens negros com pensamentos e condutas completamente opostas, mas unidos pelo fato de serem julgados pela cor da pele, e pagarem caro por isso.


Apesar da vitória na categoria de Roteiro Adaptado na premiação do Sindicato dos Roteiristas, as chances de O Reformatório Nickel no Oscar 2025 são pequenas. O filme não teve uma divulgação adequada, ficando pouquíssimo tempo nos cinemas americanos e faturando menos ainda na bilheteria.

No Brasil, nem chegou à tela grande. O que é uma pena. Apesar de um certo estranhamento inicial, as escolhas narrativas do diretor, a linguagem em primeira pessoa são elementos acertados, já que impedem que o filme se transforme em uma série de imagens chocantes devido à violência do dia a dia dos internos. Nada é explicito, e nem precisa.

O Reformatório Nickel é um filmaço que merece ser visto. Mais do que é isso, é uma obra necessária em um mundo em que ainda falha quando permite casos como o de George Floyd e tantos outros.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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