‘O Agente Secreto’ une memória, resistência e tubarões em filme genial
Longa dirigido por Kleber Mendonça Filho, que vai tentar uma vaga no Oscar, estreia nesta quinta-feira (6) nos cinemas brasileiros

Em Tubarão, o terror ronda os personagens sem mostrar a cara (bom, pelo menos até o ato final). Não é por acaso que o clássico de Steven Spielberg é altamente referenciado em O Agente Secreto. No filme de Kleber Mendonça Filho o terror também está lá, à espreita, o tempo todo, sem ser explícito.
Esse é apenas um dos elementos que fazem de O Agente Secreto um filme genial. O terror, no caso, é a ditadura militar, já que a história se passa principalmente em 1977. Mas o tema é tratado de maneira muito sutil, incorporado ao comportamento dos personagens e aos ambientes por onde eles passam.
Veja também
Também é só uma parte do delicioso quebra-cabeça criado por Kleber. O filme, que estreia nesta quinta-feira (6) nos cinemas brasileiros depois de uma caminhada bem-sucedida por festivais internacionais, traz uma série de elementos já tratados pelo diretor em trabalhos anteriores, como Aquarius, Bacurau e Retratos Fantasmas.
A preservação da memória (individual e coletiva), a arte e o cinema como meios de resistência, a violência cotidiana de quem deveria nos proteger, a visão arrogante do Sul/Sudeste em relação ao Nordeste... Tudo está lá. E se encaixa de maneira orgânica na história.
A cola é a atuação magistral de Wagner Moura. Ele é Marcelo, um homem que está voltando ao Recife para reencontrar o filho. Enquanto não pode ficar com o menino, ele se instala em uma espécie de pensão para refugiados comandada por Sebastiana (Tânia Maria).
O filme acerta ao demorar bastante para mostrar quem de fato é Marcelo e o motivo de ele estar sendo caçado pelo ex-militar Augusto (Roney Villela) e o seu comparsa Bobbi (Gabriel Leone).
Moura trafega entre a fragilidade e a altivez de seu personagem com extrema delicadeza e naturalidade. E brilha com a ajuda de um elenco coadjuvante inspirado, com destaque para Tânia Maria, que entrega um caminhão de carisma e os momentos mais engraçados do filme com sua Sebastiana.
O caldo fica completo com a cuidadosa ambientação do Recife do final dos anos 70, salpicado de elementos da cultura popular e embalado por uma trilha sonora marcante. E ainda dá tempo de colocar o mistério de uma perna humana achada na barriga de um tubarão e uma cena de puro terror B sobrenatural.
“Eu tenho um desejo muito especial de que esse filme seja descoberto por gente muito jovem, meninos e meninas que vão ao cinema para ver um filme brasileiro, que conta uma história brasileira, e que talvez, como jovens, possam descobrir alguma coisa nova, algum ponto de vista interessante sobre o nosso país. O Brasil é um país que tem algumas questões com memória. É um país que tende a esquecer de muita coisa”, disse Kleber Mendonça, na semana passada, em conversa com a imprensa em São Paulo.
É com esse espírito que O Agente Secreto se credencia com um dos grandes filmes na temporada. No Festival de Cannes ele faturou dois prêmios: as Palmas de Prata de Melhor Diretor e Melhor Ator.
Escolhido para representar o Brasil no Oscar, é muito bem cotado ser indicado em pelo menos duas categorias, como Melhor Filme Internacional e com Wagner Moura como Melhor Ator.
“Nenhum país se desenvolve sem se olhar, sem se ver. Quando a gente vai para fora com esse filme, as pessoas veem o Brasil. É um negócio a mais, é um bônus, porque as pessoas lá fora também estão vendo. É uma imagem que a gente tá levando para fora, mas sobretudo somos nós aqui nos vendo”, disse Wagner Moura.
É isso. Acima de tudo, O Agente Secreto é um filme com a cara do Brasil, com seus sotaques, suas mazelas e suas esperanças. Uma obra imperdível.
👉 Siga o Cinema de Segunda no Instagram, no YouTube e no TikTok!
✅Para saber tudo do mundo dos famosos, siga o canal de entretenimento do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp



