Conheça a história de ‘Capim Guiné’, música de Wilson Aragão imortalizada por Raul Seixas
Raul Seixas conheceu a música quando estava em Piritiba, em 1980

O cantor e compositor Wilson Aragão morreu no último sábado (23), aos 75 anos. Ele é o autor de Capim Guiné, um dos maiores sucessos gravados por Raul Seixas.
A história começa em 1980. Raul havia passado por uma cirurgia no pâncreas e estava em Salvador, na casa dos pais, no bairro da Graça. No mesmo edifício morava Beto Sodré. Como estava de repouso, Beto apareceu com um filme do Elvis para eles assistirem. A partir daí a amizade cresceu.
Beto falava muito de sua cidade natal, Piritiba, na região da Chapada Diamantina, no interior baiano, a cerca de 300 km da capital. De tanto ouvir, Raul quis conhecer. E, então, foram Beto, Raul e Kika Seixas, na época grávida de Vivi.
Chegando lá, a cidade parou: afinal um astro do rock visitava Piritiba. Raul ganhou presentes, a prefeitura fechou, o comércio também. Todo mundo queria tomar “uma” com Raul.
Foi em Piritiba que Raul ouviu uma música conhecida na região, uma tal de Capim Guiné, escrita por um tal de Wilson Aragão, nascido e criado em Piritiba.

Aragão a escreveu em 1979. O seu pai era proprietário da Fazenda Folha Branca, no Morro do Chapéu, a cerca de 70 quilômetros de Piritiba. Como o pai era opositor do governo, grileiros receberam “aval” para invadir as terras. O personagem da canção é seu pai, revoltado com essa situação (“Com muita raça fiz tudo aqui sozinho. Nem um pé de passarinho veio a terra semeá”).
Também estão na canção o gerente do banco que não emprestou dinheiro para que seu Aragão fizesse a cerca, os deputados e o delegado que não estavam nem aí para a invasão (a suçuarana, a dona raposa, o pardal, entre outros personagens).
Foi Beto quem sugeriu a Raul gravar a canção, mas no início ele não concordou, mesmo afirmando ao amigo que era uma música que ele gostaria de ter feito.
Quando estava preparando o disco homônimo, lançado em 1983, ele decidiu incluir. Falou com o Beto e depois ligou para o Aragão, que não estava na cidade quando Raul esteve naquela visita de 1980.

Raul fez algumas mudanças na letra e queria a autorização de Aragão. No início, ele já queria homenagear a cidade. No lugar de “Comprei um sítio, plantei um pé de jabuticaba”, da letra original, Raul propôs: “Plantei um sítio no sertão de Piritiba”.
O compositor questionou: “E vão ser dois pés do que para rimar com Piritiba?”. E Raul já tinha a solução e rima: “guataíba”, fruta que não existe — uma junção de guabiraba da letra original com a gíria de “pindaíbas” que tomava.
Aragão concordou com as mudanças e assinou os documentos para a gravadora, sem nem mesmo ter ouvido a canção pronta. Além de Aragão, Raul queria incluir também nos créditos o amigo Beto Sodré por o levar até Piritiba, onde conheceu a canção. Porém, ele não aceitou.
Fonte: Raul Seixas: por trás das canções. Carlos Minuano. Rio de Janeiro: Beste Seller, 2019.
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