Estante da Vivi Biografia detalha bastidor do catastrófico encontro de Oppenheimer com Truman

Biografia detalha bastidor do catastrófico encontro de Oppenheimer com Truman

Para Peter, filho do físico, pai teria tentado impressionar o presidente e acabou sendo destratado e chamado de 'bebê chorão' 

Capa da biografia 'Prometeu Americano'

Capa da biografia 'Prometeu Americano'

Divulgação

Baseada em milhares de registros e cartas encontrados em arquivos nos Estados Unidos e no exterior, em relatórios do FBI e em mais de cem entrevistas com amigos, parentes e colegas do físico J. Robert Oppenheimer (1904-1967), a biografia que inspirou o filme nos cinemas demorou 11 anos para ser escrita.

Mas, apesar da vasta bibliografia, o trecho de Oppenheimer: O Triunfo e a Tragédia do Prometeu Americano (R$ 99, 640 págs., Intrínseca) que ficou eternizado, tanto na mente do leitor quanto na de quem viu o filme, foi o encontro do físico com o presidente americano Harry S. Truman (1884-1972), quem autorizou o disparo da bomba nuclear contra o Japão, em 1945.

Ironicamente o mais recente mandatário americano a não ter diploma universitário, Truman debochou do “pai da bomba” quando este pensou estar lidando com um par e confessou que sentia “sangue nas mãos”.

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Após as bombas atingirem Hiroshima e Nagasaki, Oppenheimer passou a defender um acordo mundial contra a fabricação de armas nucleares, em claro processo de arrependimento.

Truman não gostou. Encerrou a conversa e, furioso, chamou o físico de “cientista chorão” pelas costas. “Ele tem metade do sangue que eu tenho nas mãos. A gente simplesmente não sai por aí se lamentando por isso”, afirmou. “Não quero ver esse filho da p. nunca mais neste escritório.”

Foi o único encontro entre os dois. E Oppenheimer acreditava ter perdido a chance de evitar uma potencial corrida armamentista nuclear que poderia matar centenas de milhões de pessoas.

“Ele não convenceu o presidente, e o presidente não gostou dele, infelizmente”, disse Charles Oppenheimer, neto do físico, ao The Washington Post, em reportagem publicada no último dia 21. “Meu avô deu o conselho certo e o presidente não o seguiu. O que ele disse sobre ter sangue nas mãos foi claramente algo de que Truman não gostou.

Esse trecho aparece tanto em Prometeu Americano, livro de Kai Bird e Martin J. Sherwin lançado em 2005, que venceu o Prêmio Pulitzer, quanto em Robert Oppenheimer: A Life Inside the Center, obra de Ray Monk sobre a vida do físico lançada em 2012 e sem tradução para o português.

Na página 356 de Prometeu, consta ainda que Truman enfeitou a história no decorrer dos anos. Segundo um relato, ele teria respondido: “Não faz mal, vai sair quando você se lavar”. Em outra versão, ele teria tirado o lenço do bolsinho do paletó, oferecido a Oppenheimer e dito: “Bem, pegue aqui. Gostaria de limpar as mãos?”

Charles Oppenheimer disse ao Post que perguntou a seu pai, Peter — o filho mais velho de J. Robert Oppenheimer — sobre Truman, e que a teoria de seu pai era que o físico estava "tentando impressionar" o presidente em algum nível.

“Ele era o tipo de cara que cumpria seu dever”, disse o neto. “E quer tivesse sucesso ou não, ele precisava tentar.”

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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