Novo livro de autora francesa, ‘Triste Tigre’ choca com relato real de abuso sofrido na infância
Lançada nesta semana, obra premiada de Neige Sinno traz episódios de estupro vividos nos anos 1980

A missão de ler Triste Tigre, lançado no Brasil neste sábado (17), é um mergulho devastador.
O livro expõe, em todos os pormenores, as memórias da autora, a francesa Neige Sinno, hoje com 48 anos, vítima de estupro sistemático quando criança.
Em um ato corajoso não só de revisitar o abuso, mas de colocá-lo em palavras, ela narra a infância na qual foi estuprada sucessivamente pelo padrasto — dos sete aos 14 anos.
O crime aconteceu nos anos 1980, no interior dos alpes franceses. E seu relato é íntimo, sincero e violento ao extremo.

Nele, Neige questiona se é possível entender a mente de um abusador. “Por que escrevo este livro? Porque eu posso”, diz, em trecho.
E o fato de ela tê-lo feito muda absolutamente tudo.
Numa onda de autoficção puxada pelos conterrâneos Annie Ernaux e Édouard Louis, a autora se vale da literatura para adentrar uma reflexão profunda sobre um tabu coletivo.
Emula, mais especificamente, o poema The Tyger (1794), de William Blake (1757-1827), para descrever as consequências ferozes do estupro no restante da vida de quem o sofre.
Por que a sociedade o perdoa há tanto tempo? Como os algozes seguem livres? Existe um padrão entre eles? Qual o perfil de quem o sofre? Existe motivo para sentir culpa?
Nesse contexto, o tigre é o abusador; a vítima, o cordeiro.
Numa busca por respostas que não vêm, Neige evoca de Vladimir Nabokov a Virginia Woolf, passando por Toni Morrison. Contextualiza o Holocausto e a Guerra da Argélia.
A perspicácia da autora está na clara percepção de que, ao compartilhar sua experiência, ela a torna coletiva.
O problema, agora, é de todos nós.
✅Para saber tudo do mundo dos famosos, siga o canal de entretenimento do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp
