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Estante da Vivi

O tarifaço de Trump, o complexo de vira-lata e o Maracanazo de 1950

Cronista esportivo Nelson Rodrigues imortalizou a ressaca nacional com a expressão que hoje nos remete aos caramelos fofinhos por aí

Estante da Vivi|Vivian MasuttiOpens in new window

O cachorro caramelo, um símbolo nacional que certamente são sofre de vira-latismo Freepik

Complexo de vira-lata ou vira-latismo pode até soar como uma afronta aos nossos amados cachorros caramelos, mas o termo está longe de ser novo: nasceu em 1958, quando o cronista esportivo Nelson Rodrigues (1912-1980), fervoroso torcedor do Fluminense, usou a expressão para se referir à tendência do brasileiro de se sentir inferior em relação ao resto do mundo.

Se no esporte a dificuldade de reconhecermos nosso próprio valor caiu como uma luva na ressaca pós-Maracanazo, quando a seleção de Barbosa e Zizinho perdeu a Copa de 1950 para o Uruguai, na política atual o “vira-latismo” virou tudo o que o governo Lula quer evitar.

O termo foi usado nesta-terça-feira (29) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para servir como alerta ao presidente Lula em uma provável ligação a Donald Trump.

A expectativa é que esse telefonema seja a cartada final do governo para tentar reverter o tarifaço sobre produtos brasileiros que terá início nesta sexta-feira (1º).


A memória do ministro, certamente privilegiada, não necessariamente provém da derrota no futebol. Dos anos 1950 para cá, o complexo de vira-lata deixou o mundo do futebol, adentrou nossa cultura e passou a ser visto na economia e até na política — numa sombra que se recusa a deixar de pairar sobre a identidade nacional.

Vale lembrar que, na semana passada, o ministro do Supremo Alexandre de Moraes também recorreu às letras para reforçar a decisão de impor medidas cautelares ao ex-presidente Jair Bolsonaro.


“A soberania nacional é a coisa mais bela do mundo, com a condição de ser soberania e de ser nacional”, disse, reproduzindo uma citação de Machado de Assis (1839-1908).

Mesmo autor esse que, no famoso ensaio Identidade Nacional, lá de 1873, já criticava a literatura da época por se prender a um modelo europeu e romântico em vez de refletir a então realidade contemporânea.


Menos vilão do que irmão da brasilidade, o complexo de vira-lata pode ter nascido no Maracanazo, mas absorveu tanto a aguerrida alma nacional que hoje tem tudo para se assumir como caramelo e virar orgulho.

Mas aí vai depender da postura e do ponto de vista de quem citá-lo.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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