Em ‘Sumud’, Roger Waters projeta Marielle Franco como símbolo da resistência global
Nova faixa do ex-Pink Floyd homenageia Marielle Franco e transforma sua militância em símbolo global de resistência

Roger Waters voltou a usar a música como megafone político. No fim de semana, o ex-Pink Floyd lançou em suas redes a canção “Sumud”, palavra árabe que significa “perseverança firme”, “resistência inquebrantável”.
“Sumud” surge como um mural sonoro: liga a violência em Gaza, a luta de ativistas ao redor do mundo e a memória de Marielle Franco, transformando a vereadora carioca em referência internacional permanente.
Marielle na letra de uma lenda do rock
Na música, Waters cita Marielle ao lado de nomes como Rachel Corrie, Shireen Abu Akleh, Sophie Scholl e Anne Frank. É uma lista incômoda: todas figuras associadas à resistência e à violência de Estado.
Antes de mencionar essas pessoas, Waters canta:
Te lembro bem / onde estavas, onde caíste / foste brutalmente assassinada / mas teu espírito permanece.
Para além do impacto poético, há um dado simbólico poderoso: uma mulher negra, vinda da favela, vereadora do Rio de Janeiro, assassinada, aparece agora na narrativa de um dos maiores nomes do rock mundial como ícone de resistência global.
Não é a primeira vez que Waters faz isso. Em 2018, no Rio (ano e lugar em que Marielle morreu), ele subiu ao palco com uma camiseta “Lute como Marielle Franco” e chamou ao palco Luyara Santos, Anielle Franco e Mônica Benício, filha, irmã e viúva da vereadora. Em 2022, exibiu o nome de Marielle em seus shows, lado a lado de outros defensores de direitos humanos.
“Sumud” é, de certa forma, o passo seguinte dessa homenagem.
A estética da resistência
Musicalmente, a faixa traz a assinatura de Waters: voz crua, quase em tom de confissão, sobre um arranjo que começa contido e cresce aos poucos até explodir no refrão. Enquanto isso, o vídeo exibe imagens de manifestações pró-Palestina e protestos contra guerras e opressões pelo mundo.
O próprio Waters já antecipou que a gravação divulgada é uma espécie de demo. Em entrevista ao canal WorldBeyondWar.org, ele explicou que ainda pretende adicionar um coro. Na visão dele, o coro simboliza a canção como canto coletivo:
Todas as pessoas comuns, no mundo todo, protestando contra o genocídio em Gaza e contra todas as guerras e sofrimentos impostos pelos oligarcas
De Londres ao Rio: o alcance de uma luta
Quando um artista desse tamanho escolhe cantar o nome de Marielle, algo importante acontece na disputa de narrativas. Para quem acompanha política brasileira, ela já é símbolo. Mas, quando Waters inclui Marielle no mesmo verso que Anne Frank, ele ajuda a situá-la numa linha histórica de enfrentamento à violência de Estado.
Isso tem duas consequências:
- Internacionalização da memória – a história de Marielle deixa de ser apenas um trauma brasileiro e passa a ser referência em debates globais sobre direitos humanos.
- Pressão moral prolongada – mesmo com os irmãos Brazão e o ex-chefe de polícia Rivaldo Barbosa denunciados como mandantes, cada homenagem mantém viva a cobrança por julgamento e condenação dos responsáveis pelo assassinato de Marielle Franco.
Para o público brasileiro, ver esse nome ecoar em uma canção chamada “Sumud” é um lembrete desconfortável de que essa luta retratada na canção continua aberta aqui dentro, na realidade concreta das favelas e periferias.
Entre o rock e a política, nenhuma neutralidade
Roger Waters é uma figura controversa. Suas posições sobre Palestina, Israel e geopolítica são alvo de críticas, debates acalorados e acusações de excessos. Mas há um ponto incontornável: ele escolheu conscientemente usar seu capital simbólico para tensionar o debate público.
“Sumud” é mais um capítulo da fase em que Roger Waters trata a canção como lugar de denúncia. Ao colocar Marielle nessa obra, ele fixa o nome dela no repertório simbólico da resistência contemporânea.
Para quem ouve do Brasil, escutar essa história narrada a partir de um palco estrangeiro causa um estranhamento necessário: lembra que a trajetória de uma vereadora brasileira virou parte de um manifesto internacional.
No fim, a faixa não está ali para oferecer respostas, senão para manter perguntas em circulação. E essa talvez seja a função mais honesta da música quando se aproxima de temas como esse: impedir que a história seja tratada como assunto encerrado.
Para ficar por dentro de críticas e artigos sobre o mercado da música, nos siga nas redes sociais: @musikoramamusic | @digaomusik
✅Para saber tudo do mundo dos famosos, siga o canal de entretenimento do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp
