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Pacto entre Warner e Suno pode dividir a música em dois mercados

Warner e Suno selam parceria para treinar IA com catálogo e likeness de artistas, criando um novo mercado que negocia a inspiração usada pelos modelos.

Musikorama|Rodrigo d’SalesOpens in new window

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Uma única obra agora serve a dois sistemas: o da música e o dos modelos que aprendem com ela. Inteligência artificial/Leonardo AI

A Warner Music passou de inimiga a aliada da Suno. Depois de acusar a empresa de usar catálogos protegidos para treinar IA, encerrou o processo e fechou um pacto para licenciar músicas, vozes, nomes, imagens e likeness de artistas que toparem entrar no programa.

Em troca, a Suno promete modelos “limpos”, treinados com dados autorizados, e um produto mais controlado: menos liberdade no plano gratuito, downloads pagos e foco em uso profissional.


À primeira vista, parece só a velha história: majors negociam primeiro, independentes assistem de fora. Mas o que nasce aqui é um segundo mercado, diferente do que a indústria já conhece.

De um lado permanece o mercado clássico da música: obra, fonograma, show, sync, streaming, merch, turnê. Nele, majors e independentes já convivem há décadas, com assimetrias de acesso, mas ainda discutindo em torno de músicas concretas.


Do outro lado começa a se formar o mercado dos modelos. Nele, o que se negocia não é só o direito de explorar uma obra final, e sim o direito de usar um catálogo inteiro como inspiração licenciada para que a IA crie milhares de novas músicas no futuro. A obra deixa de ser apenas produto e passa a ser também matriz de estilo: um DNA sonoro que alimenta modelos capazes de gerar variações em escala.

O diretor executivo da Warner Music Group, Robert Kyncl, disse que a gravadora "aproveitou essa oportunidade para criar modelos que aumentam a receita" Reprodução/YouTube/@RoyalTelevisionSociety

Esse segundo mercado muda a lógica porque os contratos passam a tratar o uso de nome, imagem, likeness, voz e composições como insumo de treinamento, e não apenas como fonogramas a serem distribuídos. Parte do valor migra da música individual para o modelo que foi treinado nela e que continuará gerando obras derivadas por anos. Quem assina sem entender isso pode estar vendendo não só a exploração de sua obra, mas também o direito de a IA se inspirar nela para abastecer um ecossistema inteiro de músicas futuras.


A compra da Songkick pela Suno entra nessa mesma lógica: a empresa que gera música por IA agora também controla dados sobre shows, públicos e cenas locais. O passo seguinte pode ser usar esse fluxo real de comportamento de fãs para refinar ainda mais os modelos – aproximando, na prática, o mercado dos modelos do mercado ao vivo.

Esse novo mercado levanta perguntas que o anúncio não responde. O que não está claro é se os artistas serão pagos por uso real detectado (via sistemas de fingerprint capazes de identificar fragmentos dentro das saídas da IA, como soluções do tipo ProRata vêm testando com catálogos de majors) ou se tudo será resolvido em grandes montantes fixos entre empresa de IA e gravadora, com repasse genérico para o bolo do catálogo.


Também não sabemos o que acontece com quem já teve obra usada em treinamentos anteriores, nem como ficam os catálogos independentes que não participam do pacto, mas podem continuar presentes em datasets opacos. E o detalhe mais sensível: o processo não foi até o fim nos tribunais. Não houve decisão que estabelecesse limites claros para o setor. Houve um acordo à porta fechada entre Warner e Suno, que resolve a vida das duas, mas deixa o resto da indústria olhando de fora para um precedente sem transparência.

Falar em “dois mercados” aqui não é repetir mainstream vs indie. É separar quem vai jogar também no mercado da inspiração licenciada para modelos, com algum acesso a negociação e informação, e quem vai continuar restrito ao mercado tradicional da obra pronta, sentindo o impacto da IA sem saber como, onde e quanto sua música entra na equação.

Depois desse pacto, a discussão séria não é se a IA “é boa ou ruim para a música”. A discussão séria é outra: quem vai ter acesso às contas e quem vai ser obrigado a confiar num sistema que transforma sua obra em combustível, sem mostrar o mapa de onde esse combustível está queimando.

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