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Há 25 anos, Carla Perez assustava o mundo em Cinderela Baiana, o pior filme brasileiro de todos os tempos

O longa, lançado em 1998, é um clássico da ruindade cuja existência a dançarina não gosta nem de lembrar

Odair Braz Jr|Do R7


Carla Perez em 1998, no cartaz de 'Cinderela Baiana'
Carla Perez em 1998, no cartaz de 'Cinderela Baiana'

Volta e meia a gente vê na imprensa críticas que dizem que o filme do Flash é tosco, que Zack Snyder não sabe dirigir e que um longa qualquer é “inassistível”. Certeza absoluta de que quem escreve essas coisas ou não viu ou apagou da memória Cinderela Baiana, produção que tem Carla Perez como “atriz” principal e que completa agora 25 anos de lançamento.

Para saber do que se trata o filme — afinal, quase ninguém assistiu a ele —, o negócio é pensar num longa incrivelmente surreal, sem roteiro, sem atores e totalmente sem noção. Tudo isso ainda não dá a dimensão exata do que é Cinderela Baiana, um verdadeiro clássico da ruindade nacional e, certamente, um dos piores filmes brasileiros de todos os tempos.

Sério, não há concorrência para o que Carla Perez fez. Sabe aquele tipo de produção em que nada, mas absolutamente nada se salva? Pois foi isso que aconteceu aqui. Ou melhor, salva-se uma única peça: Lázaro Ramos, que estava bem no início de sua carreira e fez um papel secundário no longa.

O filme é um desastre em todos os sentidos: roteiro, direção, produção, distribuição, atuações e o que mais você quiser enumerar. A história mostra uma família extremamente pobre do interior da Bahia. Eles não têm o que comer e vivem mendigando. A filha do casal, a menina chamada Carlinha, passa fome, mas adora dançar, mesmo sem música nenhuma tocando. Magrelinha e descalça, a garota não para de requebrar um só instante no meio da caatinga, já dando a entender que viria a ser uma grande dançarina no futuro.

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A história vai se desenvolvendo até que Carlinha cresce e vira uma moça em Salvador. Ela tem o sonho de ser dançarina, mas é muito pobre e vive perambulando pelas ruas da cidade ao lado de seus amigos; um deles é Chico (Lázaro Ramos). Papo vai, papo vem, surge um empresário inescrupuloso que quer encontrar a melhor dançarina para conseguir explorar e ganhar muito dinheiro. Ela é Carlinha, obviamente.

De tão ruim, o filme foi um grande fracasso de bilheteria e uma vergonha para sua protagonista, que renega o trabalho até hoje. Como é uma raridade em vídeo, a internet virou sua casa, na qual tem muitas visualizações e se tornou uma espécie de hit do riso involuntário por causa de seus diálogos sem sentido e cenas sem pé nem cabeça. Nada faz muito sentido ali, na verdade, não apenas as falas.

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Carlinha faz o símbolo da paz no fim do filme
Carlinha faz o símbolo da paz no fim do filme

Há algumas cenas verdadeiramente surreais. Uma delas é quando morre a mãe de Carlinha: alguém (não se sabe quem) prepara o velório. O pai e a menina chegam em casa e veem a mulher morta, cercada por velas e flores. Quem preparou aquilo? Vai saber. Na sequência, os dois viram as costas e vão morar em Salvador. Assim, com a mãe morta ali. Não esperaram nem o enterro. E qualquer cena é motivo para colocar Carla Perez dançando, sem nenhuma explicação. De onde vem a música para o povo requebrar no meio da rua? Mais mistério.

A sequência final é uma coisa de louco. Já famosa, Carlinha surge num carrão branco no meio de uma estrada, onde encontra algumas crianças trabalhando. Vendo aquela situação, a Cinderela Baiana faz um megadiscurso delirante contra a exploração infantil. Ela pega uma enxada das mãos de uma garota e diz: “Me dê isso, menina, você devia estar estudando e brincando, não jogada na estrada para ganhar uns míseros trocados para matar a fome”. Carlinha joga a enxada longe, pega uma gaiola que aparece do nada e manda: “Vai, passarinho, assim como as crianças, você também tem direito à liberdade”. As aves voam.

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A moça discursa mais um pouco, faz o símbolo da paz com as mãos e começa a tocar do mais ABSOLUTO NADA o hit Pau que Nasce Torto/Melô do Tchan. Claro que a Cinderela e as crianças saem dançando loucamente, com mais um monte de gente que se junta a elas.

A cereja do bolo desse finzinho é um helicóptero que entra em cena com dois soldados que seguram fuzis. O que estariam eles fazendo ali, no meio de uma região tão afastada da cidade e que não oferece risco nenhum a ninguém? São muitas perguntas.

Grana zero

A direção e o roteiro de Cinderela Baiana são de Conrado Sanchez, diretor da Boca do Lixo (reduto independente do cinema de São Paulo). Em sua defesa, em entrevistas, Sanchez disse no passado que apenas metade do roteiro acabou sendo filmado, tudo devido às dificuldades da produção e ao baixo orçamento.

O resultado é que praticamente ninguém do elenco era ator. Havia apenas Lázaro Ramos, do teatro independente na época e em começo de carreira, e também Perry Salles. Houve ainda uma participação de Alexandre Pires, então namorado de Carla.

Com falta de recursos, o filme foi uma tragédia total, o que inclui a atuação da própria Carla, que pensava em se lançar como atriz. Isso, ao menos, Cinderela Baiana nos trouxe de positivo: ficamos livre de vê-la atuando por aí.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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