Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Odair Braz Jr - Blogs

Silvio Santos não deixa nada de relevante para o Brasil, segundo vários críticos. Será mesmo?

Dono do SBT, que nos deixou há poucos dias, recebeu muitas homenagens mas também teve seu legado contestado

Odair Braz Jr|Odair Braz Jr.Opens in new window

Silvio Santos apresenta o Troféu Imprensa de 2002 Celso Junior/Estadão Conteúdo - 04.04.2002

A morte de Silvio Santos, neste sábado (17), trouxe milhares (milhões?) de manifestações de carinho e homenagens, mas também houve muita gente — importante, inclusive — criticando o apresentador e até afirmando que ele não deixa legado algum.

Claro, qualquer um pode concordar com isso, achar que Silvio Santos e seus negócios eram meramente mercantilistas e com o objetivo único de ganhar a maior quantidade possível de dinheiro. E o dono do SBT realmente tinha uma veia forte para lucrar e gerar grana. Mas daí a dizer que ele foi apenas isso e que não deixa nenhum tipo de legado cultural para o Brasil e brasileiros já tem uma distância grande.

Veja: o brasileiro é um tipo de gente que simplesmente adora televisão. Este aparelho faz parte da vida da população e é um dos objetos do desejo de qualquer um desde sempre. Praticamente não há quem não tenha uma TV em casa no país. No Brasil, TV é cultura, simples assim.

E Silvio, em seus quase 60 anos de atuação no universo televisivo, ajudou a cunhar e a difundir a televisão no Brasil. Ele começou no rádio, com pequenos trabalhos de locução e, em 1961, aos 30 anos, estreou na TV Paulista (que se transformaria mais tarde na Globo). A TV havia chegado ao Brasil em 1951, então, quando Silvio começou a trabalhar na área, a mídia tinha apenas 10 anos de vida. Trocando em miúdos, a gente pode dizer que ele é um dos precursores da televisão no Brasil. E ainda é mais pioneiro quando se fala em apresentador de programas de auditório no país.


Se Silvio Santos tivesse trabalhado apenas na TV Paulista, que em 1965 foi comprada por Roberto Marinho, como o apresentador que foi e desaparecido a seguir, já seria suficiente para colocá-lo nos livros de história sobre a mídia. Haveria um capítulo só para ele.

Silvio permaneceu na TV Paulista quando se transformou na Globo e aprimorou cada vez mais seu estilo único em frente às câmeras. Começou a fazer escola com seu jeito de lidar com a plateia, de conversar com seu público e encontrou uma maneira de vender seus produtos, de promovê-los naquela telinha.


Só aí já existe um legado cultural. Um legado televisivo, um jeito de fazer televisão que era só dele, desenvolvido por ele e que seria copiado à exaustão nos anos e décadas seguintes.

E aí veio a TVS, que virou SBT, e a influência cultural (televisiva) de Silvio continuou a se expandir. Sim, sempre com um lado forte comercial andando ao lado, mas ainda assim, havia cultura de massa ali. É impossível negar isso.


Muita gente pode não concordar — e não gostar —, mas o SBT deu ao mundo programas que se tornaram clássicos como o Qual É a Música?, Namoro na TV, Portas da Esperança. Tudo aos domingos, dia que virou sinônimo de Silvio, principalmente nos anos 80 e 90. Ele também colocou no ar o TV Powww, o primeiro videogame jogado via telefone da TV brasileira em que as pessoas participavam ativamente. Interatividade total muito tempo antes da internet pensar em nascer.

E, você que defende a ausência de legado cultural de Silvio Santos/SBT, pode espernear à vontade de raiva, mas novelas mexicanas e Chaves hoje fazem parte da vida dos brasileiros. Da vida cultural até.

Chaves tem milhares de fãs no Brasil, especialistas que sabem absolutamente tudo sobre aquele menino mexicano. Há livros brasileiros a respeito de Chaves, sites, grupos de Whatsapp etc. Se isso não é cultura, o que seria?

O mesmo vale para as novelas mexicanas, que são apreciadas por aqui até hoje. Elas viraram assunto nas revistas e sites especializados e estão presentes, de alguma forma, em nossas vidas. Os folhetins mexicanos se tornaram influência para as novelas aqui no Brasil, veja você. Ganharam remakes.

Para além das atrações estrangeiras, Silvio mostrou um jeito diferente de olhar para o público brasileiro. Ele enxergou isso antes de todo mundo e fez muita gente correr atrás. Deu trabalho para a concorrência, que demorou décadas para se igualar a ele. Se é que igualou.

De novo: você pode criticar Silvio Santos — ele cometeu vários erros também, claro —, pode dizer que pegou alguns caminhos controversos e pode mesmo simplesmente não gostar dele. Mas ele foi um personagem importantíssimo para a formação da TV, que é um instrumento cultural relevante no Brasil. Que atinge milhões de pessoas todos os dias. Silvio e seu trabalho estão em pé de igualdade com o que o Pelé — que também errou — representou para o país e com o que Roberto Carlos ainda é (também cheio de erros). Existe uma trindade aí com estes três caras. Eles ajudaram a construir um país e sua cultura.

Você não gosta do Silvio? Ok, mas não dá para distorcer a realidade. Ele foi gigante, inclusive culturalmente.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.