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Com 30 indicações a prêmios, Vitor Rocha revela: ‘Era inevitável não fugir do teatro musical’

Artista fala ao R7 Teatro sobre o processo criativo, o sucesso de suas obras e a força da cena musical brasileira

R7 Teatro|Maria Cunha

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Vitor Rocha fala sobre trajetória no teatro e papel da música em suas criações Divulgação

Aos 28 anos, o ator, dramaturgo, diretor e produtor Vitor Rocha já soma uma trajetória de destaque no teatro musical brasileiro. Autor de sucessos como Cargas D’Água e Se Essa Lua Fosse Minha, ele transita entre teatro, cinema e literatura — linguagens que se cruzam o tempo todo em seu trabalho.

Nome presente entre os 90 jovens mais bem-sucedidos do país segundo a Forbes Under 30 (2019), o artista acumula 30 indicações a prêmios e acaba de conquistar o Bibi Ferreira de Melhor Dramaturgia pelo musical João, ao lado de Marco França.


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Nos próximos meses, Vitor verá suas histórias ganharem ainda mais espaço dentro e fora dos palcos. Ele assina o roteiro e protagoniza o filme musical original Nesta Data Querida, dirigido por André Leão, que estreia na 33ª edição do Festival Mix Brasil antes de chegar à televisão.

Já em 2026, o público poderá conferir sua adaptação teatral de Dona Flor e Seus Dois Maridos, com direção de Sérgio Modena.


Além das estreias, dois de seus trabalhos mais elogiados retornam à cena em 2026: Donatello, peça sensível sobre memória, envelhecimento e Alzheimer, e O Mágico di Ó, uma poética releitura nordestina de O Mágico de Oz.

Em entrevista ao R7 Teatro, Vitor fala sobre processo criativo, música, dramaturgia brasileira e o desafio de ser um artista múltiplo no país.


Entrevista com Vitor Rocha

1. De onde vêm as suas primeiras ideias para criar uma peça? Você parte de alguma experiência específica?

Eu acho que quase sempre de uma experiência pessoal. Especialmente em trabalho autoral, é muito difícil separar quem a gente é do que a gente faz. Acho que sempre vem de uma opinião, de uma vontade, de uma sensação. De algo que me emociona. Quando penso “gostaria de falar sobre isso porque esse assunto me toca”. Sempre acho que parte dali.


2. Como é o seu processo de escrita? Você costuma escrever sozinho, em grupo?

O meu processo, quase sempre, foi muito sozinho. E eu não sou uma pessoa sozinha, adoro conversar, trocar ideia... trabalho coletivo. Mas o trabalho autoral é do tamanho da dificuldade que ele traz: é preciso cavar dentro de você para encontrar as coisas que você quer falar — a sua própria opinião e motivação. Praticamente todos os trabalhos que eu fiz até hoje são roteiros que são meus, eu escrevi sozinho.

Mas, por ter um caminho muito pautado em cima do teatro musical, eu sempre trabalho com compositores, então eu acabo trocando sobre a história no processo. Eu gosto muito de estar perto da equipe criativa desde o começo, então mesmo que a história ainda não esteja escrita, eu já estou conversando com direção, pedindo para os atores lerem um negócio aqui ou ali para para me ajudar, e acho que para me inspirar de volta.

3. Suas obras tem uma identidade musical muito marcada. Qual é o papel da música no seu processo criativo?

Eu sempre sempre gostei muito de música — nunca fiz nada sem ouvir música. No musical, eu acho que a música é a licença poética quase em pessoa: permite a gente acessar coisas e dizer coisas que talvez, faladas, fossem duras ou complexas demais. Eu acho que a música quase abre uma “portinha” no coração das pessoas, que é um pouquinho mais fácil a história passar por ali. E então, era meio inevitável não fugir do musical.

Eu brinco, inclusive, que esse clima dos ritmos, essa identidade, é marcada, para mim, até quase que junto com a ideia. O Mágico di Ó tem o som do Nordeste. Se Essa Lua Fosse Minha são as cantigas, mas não são só, é uma coisa grandiosa.

Tem uma música do Donatello que é a música do avô, que ele fala várias palavras difíceis. E quando eu mandei essa letra para o Elton [Towersey], ele falou: “A gente podia pensar assim, o Alzheimer é, no final das contas, é uma grande confusão. Então, a gente podia fazer essa música com uma, uma coisa não tão harmônica, fazer um ritmo torto que as pessoas quando estão escutando, quase que não dá para cantarolar junto, porque eu acho que essa é a sensação que vai causar.

4. Suas peças têm universos muito distintos. O que une todas elas?

Essa é uma investigação pessoal minha muito grande. Teve uma época em que eu comecei a olhar para o meu trabalho, que eram as três peças: Cargas d’Água, Se Essa Lua e O Mágico di Ó, e muita gente elogiou e falava: “É muito poético, é brasileiro, é regional, a coisa das rimas”.

E eu amava, mas, em alguma medida, no meio da pandemia, eu comecei a me questionar se eu só sabia fazer isso. Foi quando eu olhei para as histórias e falei: “Sem perceber, as três têm chuva e falam sobre chorar. Eu sou uma farsa, estou escrevendo a mesma história há três anos e não sei fazer de outro jeito”.

Foi quando veio Bom Dia Sem Companhia, que praticamente não tem nenhuma frase poética. Toda vez que eu escrevia alguma coisa poética, eu falava: “Eu não vou falar de Brasil, não vou fazer rima, não vai ter coisa lúdica”.

E eu lembro que, quando a peça estreou, algumas pessoas me falavam: “Sempre essa poesia, essa identidade”. A partir dali, eu comecei a olhar e falar: “Tem alguma coisa que não tem a ver com a forma”.

Eu acho que é, no final das contas, a minha visão de mundo. Como diz em O Mágico di Ó: “Quando eu falo do mundo, revelo o que há em mim”. Então, eu acho que a forma como eu abordo, o medo de sair de casa, questões da terapia, o luto, me fez abrir o olho e falar: “No final das contas, não importa muito a estética e a rítmica que eu escolho, o que junta tudo isso é a minha forma de ver a vida”.

Quando eu concluí isso, eu comecei a olhar para trás e falar: “Que legal, essa é a única coisa que nunca vai me limitar, porque a minha visão de mundo muda e evolui a cada dia”.

5. Olhando para sua trajetória, o que mais te surpreende no Vitor que saiu de Minas?

Acho que o mais surpreendente é ter conseguido fazer tudo isso. Vim de uma cidade com 20 mil habitantes, sem teatro, livraria ou cinema. Cheguei em São Paulo com 17 anos e, de repente, estava trabalhando com teatro, tive livros publicados, gravei um filme, levei histórias para muitos lugares.

Sei que tem muito trabalho envolvido, mas também tem o momento certo, a sorte de ter sido visto no meu primeiro espetáculo, Cargas d’Água. E tem a realidade dura de fazer teatro no Brasil — “abaixo da linha do Equador”, como digo. Não estamos falando de Broadway.

E, ao mesmo tempo, percebo que oito anos ainda é muito pouco dentro de uma carreira inteira.

6. Qual o maior desafio de ser multiartista?

Acho que é a tendência que as pessoas têm — e que nós mesmos temos — de colocar tudo em caixinhas: “ele é escritor”, “ela é jornalista”. Isso limita.

Ser multiartista significa estudar áreas diferentes simultaneamente. Não é porque estou estudando roteiro que isso automaticamente me torna um ator melhor, nem porque faço dublagem que isso me melhora como cantor. Cada área exige dedicação própria.

E, mesmo assim, o mundo insiste em reduzir tudo a uma coisa só. Admiro muito artistas que habitam muitos lugares — como o Lin-Manuel Miranda — porque acho que isso permite criar histórias diversas, inclusive personagens que eu, por exemplo, nunca viveria em cena.

8. Como você enxerga o teatro musical brasileiro hoje? Ainda tentamos imitar o modelo americano?

Acho que sim, mas com particularidades. O que copiamos não é o processo americano — que envolve anos de testes, off-Broadway, ajustes — e sim o modelo de montagem: um diretor de fora vem, monta em um mês, fica em cartaz por alguns meses e acaba.

Mas vejo mudanças acontecendo, ainda que lentamente: mais diretores brasileiros, mais montagens não-réplica, mais autonomia artística.

E ao mesmo tempo existe uma galera — da qual eu me sinto parte — que está apostando em musicais originais brasileiros. Uma turma que faz porque acredita no trabalho, mesmo sabendo que não é o caminho mais fácil.

9. Tem alguma história que você ainda quer contar?

Tem alguns temas... eu brinco que a minha “gavetinha” está sempre cheia e aumentando. Tem muitas histórias que eu quero escrever, que eu tenho guardadas aqui, mas eu acho que são todas bem originais.

Eu tenho muita vontade de falar sobre coisas que eu ainda não vi retratadas em teatro musical. Todos os dias que eu vou vivendo, eu vejo uma coisa que eu falo: “Isso seria legal colocar em alguma história”.

Tenho muita vontade de fazer uma peça que tenha orquestra, algum lugar mais lírico, embora eu não cante lírico, mas é um tipo de arte que eu admiro e adoraria escrever algo para esse universo.

10. O que você tem aprendido sobre você ao longo desses anos criando histórias?

Acho que tenho conhecido mais a minha própria voz — entendido o que penso, o que sinto, o que realmente acredito. Percebi também o quanto escrever me reconecta com minha origem e com o país em que vivo.

E acho que aprendo, todos os dias, a me colocar no lugar do outro. Para escrever personagens com verdade, preciso sentir empatia por todos eles — desde a protagonista até o vilão.

Escrever me faz descobrir possibilidades, imaginar saídas diferentes para temas difíceis e sonhar com outras formas de olhar para a vida.

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