The Rolling Stones - A renascença internacional do Blues
O primeiro álbum dos Stones foi sem dúvida um dos melhores álbuns da explosão do Blues Inglês e uma alternativa ao domínio absoluto do Pop britânico em meados dos anos 60
Toque Toque|LEO VON, do R7
Em 1964, os Beatles dominavam o mundo e o sucesso deles só iria crescer. O quarteto de Liverpool dividia influências com quase todos os grupos que estavam surgindo na Inglaterra na famosa “Invasão Britânica”, como Little Richard, Elvis, Carl Perkins, Chuck Berry, Bo Diddley e Buddy Holly. O estilo dos Beatles fez com que se tornassem o fenômeno que se tornaram, tanto musical quanto visual. Terninhos uniformizados, cabelos parecidos e uma postura comportada nos palcos, diferente do que faziam nos tempos de Cavern Club, em sua cidade natal, e no Star Club em Hamburgo. É então, que surge um grupo completamente oposto à atitude "Beatle", The Rolling Stones.
Antes de '64
Mick Jagger e Keith Richards eram amigos de infância e colegas de escola nos anos 50 em Dartford, Kent na Inglaterra, mas Jagger se mudou para Wilmington, a 8km de distância, e só se reencontraram em 1961. Em Wilmington, Mick montou sua primeira banda de garagem com Dick Taylor e tocavam Muddy Waters, Little Richard, Chuck Berry, Bo Diddley e Howlin’ Wolf. Blues e Rhythm and Blues. O Rock ainda estava em sua formação e os estilos se confundiam com Country, Blues, R&B, com o “swing” (balanço) em comum. Após o reencontro dos dois em '61, começaram um parceria musical com outros integrantes chamada Blues Boys. Do outro lado, Brian Jones e Charlie Watts tocavam com a Blues Incorporated, um grupo com diversos músicos que posteriormente se tornaram referência no Blues inglês, incluindo membros Led Zeppelin e Cream. Em junho de 1962, após sairem da Blues Incorporated, surge a primeira formação dos Rolling Stones, o nome em homenagem à música “Rollin’ Stone” de Muddy Waters.
Invasão Britânica
Em pouco tempo, os Stones já tinham criado uma grande base de fãs, e eram considerados por muitos como uma alternativa ao Pop “comportado” dos Beatles. O empresário deles, Giorgio Gomelsky (sim, aquele do Blossom Toes LEIA MAIS), alegou que isso desencadeou a "renascença internacional do blues". Pouco depois, Andrew Oldham substituiu Gomelsky como empresário da banda e estabeleceu os Stones na mídia como os grandes rivais dos Beatles, apesar das bandas serem amigas. Oldham era menor de idade e sua mãe tinha que assinar todos os documentos importantes por ele, mas sua inteligência mercadológica era de gente grande. Ao invés de imitar os Beatles como todas as bandas em 1964, ele desconstruiu o quinteto (que inclusive já havia tentado usar os terninhos uniformes) com roupas que não combinavam, cabelos compridos e aparência rebelde, “um grupo imprevisível de indesejáveis”.
Após assinarem com a Decca (que havia rejeitado os Beatles alegando que grupos com guitarras estavam ultrapassados), por indicação de George Harrison, e conseguirem um single nas paradas, puderam agendar mais shows e saíram em tour em outras cidades além de Londres como banda de abertura para Little Richard, Everly Brothers e Bo Diddley. Nessa tour gravaram seu segundo single “I Wanna Be Your Man”, um presente de Lennon-McCartney que adoravam ajudar seus amigos. Mesmo assim, Oldham, empresário deles, aproveitava qualquer oportunidade para comparar os Stones aos Beatles e dizer que eles eram os "verdadeiros rebeldes", enquanto John, Paul, George e Ringo, eram “meros mortais… trabalhando duro para sustentar o establishment”.
O Primeiro Álbum
O primeiro álbum “The Rolling Stones” é magnífico. Uma verdadeira escola para o Blues inglês que se tornou referência. O disco consiste em versões de grandes nomes do Blues e R&B com o tempero musical da invasão britânica. “Route 66”, “I Just Wanna Make Love to You”, “I’m a King Bee”, “Carol”, “Tell Me”, “Can I Get a Witness” tiveram uma repaginada, modernizada e ficaram tão atuais em '64 quanto nos anos 40 e 50. A partir desse disco, abriram-se as portas para grandes grupos de blues no mainstream como Yardbirds (depois Led Zeppelin), Cream, Fleetwood Mac, e o caminho para o surgimento de ícones como Jimmy Hendrix.
Nos anos seguintes os Stones foram crescendo, encontrando o próprio som e estão aí até hoje, lotando estádios, conquistando fãs de geração em geração. Não acredito na já velha e cansada comparação aos Beatles. Eles eram diferentes apesar de serem da mesma época. Fizeram parte de um movimento que colocou a Inglaterra no mapa mundi do Rock’n Roll e cada um, a seu modo, estabeleceu o Rock, Blues e R&B como padrão da música Pop até o fim dos anos 2000. Então, como diz o ditado: “Em pedra que rola, não cresce musgo”.
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