Escolas de torcidas: de ‘patinho feio’ a protagonistas do Carnaval
Agremiações oriundas de organizadas de futebol já sofrerem rejeição de parte do público, mas hoje estão entre as mais aguardadas
Ziriguidum|Thiago Calil, do R7
As escolas de samba oriundas de torcidas organizadas de time de futebol já foram consideradas um problema para uma parte dos fãs de carnaval. Se o risco antes era que os torcedores importassem o comportamento dos estádios para as arquibancadas do sambódromo – estas bem mais amistosas e acolhedoras –, hoje elas se tornaram as protagonistas da festa paulistana. Mais: as escolas a serem batidas por quem deseja pôr a mão na taça do Carnaval.
Em várias listas de destaques e apostas das duas noites do Grupo Especial, elas estão presentes. A Gaviões da Fiel, após enfrentar problemas em diversos quesitos na avenida, dificilmente vai ficar na briga pelas primeiras posições. Mas, inegavelmente, está entre as favoritas do público da arquibancada, menos interessado no que o jurado vê e mais preocupado com o espetáculo em si.
A agremiação corintiana fez um desfile histórico. No carnaval que marcou as comemorações dos 50 anos da torcida, a escola era a mais aguardada de 2020. Afinal, foi a primeira vez que o carnavalesco Paulo Barros, figura de importância inquestionável nos cortejos da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, assinou um desfile em São Paulo. E ele cumpriu o esperado: encheu os olhos da arquibancada, foi ovacionado na avenida e, independentemente de resultado, fez uma apresentação que estará entre as mais lembradas deste ano.
Cheiro de campeonato
A Mancha Verde tinha a expectativa que toda escola que carrega o rótulo de atual campeã tem. E mostrou que gostou de levar a taça para casa. Ao contrário da rival preta e branca, não foi o desfile mais empolgante. Porém, o luxuoso e minucioso trabalho de barracão somado ao chão bem ensaiado, credenciaram a escola palmeirense como, talvez, a mais forte candidata ao título de 2020.
E o protagonismo é mais do que merecido. Vale lembrar que a verde e branco foi a que mais sofreu preconceito em razão de sua origem. A ascensão da Mancha para a elite nos anos 2000 resultou num Grupo Especial das Escolas de Samba Desportivas. Com isso, todas as entidades vindas do futebol deveriam disputar uma competição à parte. O resultado foi que a escola palmeirense teve que disputar sozinha o campeonato de 2007, já que a Gaviões estava no Acesso naquele ano. A divisão esportiva, felizmente, se encerrou para o Carnaval seguinte, após dois anos.
Já a Dragões da Real tem uma história diferente. A escola que mais separa futebol e carnaval é também a que tem a trajetória mais constante entre todas desde que chegou ao Especial. De 2011 – quando se apresentou como campeã do acesso – para cá, a agremiação são-paulina só ficou fora dos desfiles das campeãs em duas ocasiões (2012 e 2016). Além disso, acumula dois vice-campeonatos. Em 2020, quando cantou A Revolução do Riso: A arte de subverter o mundo pelo divino poder da alegria, vai mais uma vez brigar pelas primeiras colocações do carnaval e, quem sabe, conquistar o inédito título do especial.
Tradição x Inovação
O protagonismo das “agremiações futebolísticas” coincide com fase ruim de grandes símbolos do Carnaval Paulistano. Prova disso foi a arquibancada do grupo de acesso, mais disputada do que a do especial. E não era para menos. Estavam na avenida Nenê de Vila Matilde, Camisa Verde e Branco e Vai-Vai, agremiações com mais campeonatos em São Paulo.
Enquanto o berço do samba foi tendo dificuldade de se adaptar aos novos modelos de desfile e organização de escola, outras foram crescendo e assumindo papel de destaque: Mocidade Alegre, o maior nome do Carnaval de 2000 para cá, e, mais recentemente, Acadêmicos do Tatuapée Império de Casa Verde.
Para 2020, a “novidade” pode vir de Águia de Ouro e Tom Maior. Dragões, Mancha e Mocidade completam o bloco das favoritas.
Samba para quem é de samba
A Rosas de Ouro foi outro destaque de 2020. Só não a classifico entre as favoritas por problemas nos acabamentos das alegorias, muito provavelmente em razão das chuvas que castigaram as escolas nos últimos 20 dias. Mas a agremiação reforçou uma lição que já havia ficado clara há tempos: escola de samba precisa de samba.
Última a se apresentar, a azul e branco deixou o público do Anhembi com fôlego de início de noite. Em um ano de safra geral bem ruim de se ouvir, foi impossível resistir ao carro de som comandado por Royce do Cavaco. O resultado foi uma escola leve, que se divertiu e empolgou quem aguentou esperar o amanhecer de domingo para vê-la.
A apuração do carnaval paulistano acontece nesta terça-feira (25), às 16h. Que vença a melhor. Mas, independentemente do resultado, a festa paulistana sai da avenida ainda maior e vitoriosa em 2020.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.