Garantido vence Parintins cantando o povo, mas é esquecido por ele
Boi vermelho venceu o Caprichoso no 54º Festival de Parintins. Evento deveria ser exaltado como patrimônio nacional, mas está fora dos holofotes
Ziriguidum|Thiago Calil, do R7
O boi-bumbá Garantido foi o campeão do 54º Festival de Parintins. O resultado veio após apuração realizada na tarde desta segunda-feira (1º). O vermelho empatou com o Caprichoso na primeira noite de apresentações (28 de junho) e se saiu melhor nas outras duas (29 e 30).
Com o enredo Nós, o Povo, o boi cantou as lutas, as alegrias e a liberdade dos brasileiros em cada um dos dias de disputa. Mais de 40 mil pessoas passaram pelo bumbódromo de Parintins (AM) para prestigiar o festival folclórico.
Mas o Brasil é um país muito grande. E, em tanto território, algumas coisas se perdem pelo continente. O Festival de Parintins deveria ser enaltecido de ponta a ponta do nosso chão, era para estar na capa de jornais, na televisão e bombando nas redes sociais. Mas pouco se escuta falar sobre ele.
O fato de acontecer em uma ilha do Amazonas, localizada a 369 km de Manaus, talvez justifique parte do desprestígio do grande público. Mas não é razão. Além de ser algo da nossa cultura, da nossa gente, vale lembrar que Parintins é responsável por outra grande festa popular tupiniquim ser o que é: o Carnaval das escolas de samba.
As alegorias de São Paulo e Rio de Janeiro ganharam outra cara após a experiência dos profissionais que trabalham nos bois chegar nos sambódromos. Eles são tão importante na festa do sudeste que, passado o Festival, a grande maioria deixa família no Amazonas para trabalhar nos barracões do Carnaval.
Sucessos nacionais
Começe a cantar os versos "A cor do meu batuque tem o toque e tem o som da minha voz. Vermelho, vermelhaço, vermelhusco, vermelhante, vermelhão...”. Provavelmente você ganhará companhia no coral. Mas, o que muita gente pensa ser um hino esquerdista, é uma toada do Garantido. Vermelho foi gravada em 1996 por Fafá de Belém e David Assayag, hoje levantador do boi contrário.
O sucesso da música só comprova como o Festival de Parintins é tão Brasil quanto o Carnaval e fala a língua da nossa gente, independentemente de regionalismos. Quer outro exemplo? Tic, Tic Tac ("Bate forte o tambor...") foi sucesso internacional em 1996 com a banda Carrapicho, mas é uma toada, também do Boi Garantido, do ano de 1993.
O Festival de Parintins ainda não tem famosa pagando ganhar o título de Sinhazinha da Fazenda — um dos personagens da festa — nem para ficar dançando na frente da bateria dos bois. Mas isso, aliás, é algo que deixa a festa do Amazonas melhor em relação à prima badalada de fevereiro.
O fato é que um país que não celebra uma festa tão típica, tão indígena e tão folclórica como o Festival de Parintins é um país que joga fora sua própria história e sua própria cultura.
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