Fundo lança apoio de R$ 1,6 milhão a empreendedores negros
Programa de Recuperação Econômica para Pequenos Negócios de Empreendedores Negros premiará 47 iniciativas até 20 de dezembro. Saiba como participar
Virtz|Nayara Fernandes, do R7
A crise causada pela pandemia colocou à frente das grandes empresas um desafio de urgência: fortalecer pequenos negócios liderados pela população negra, correspondente à maioria dos empreendedores no Brasil. É nesse momento histórico que surge o Programa de Recuperação Econômica para Pequenos Negócios de Empreendedores Negros, iniciativa do Fundo Baobá em parceria com o Instituto Coca-Cola Brasil, Banco BV, e Instituo Votorantim.
Serão premiadas até 47 iniciativas de empreendedores negros com um investimento de R$ 30 mil para cada projeto vencedor, contabilizando um investimento de mais de R$ 1,6 milhão. As inscrições podem ser feitas até dia 20 de dezembro no site do Fundo Baobá.
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Em entrevista ao R7, a diretora de Programa do Fundo Baobá, doutora em saúde pública e consultora em justiça social Fernanda Lopes conta que a iniciativa surge como o primeiro fundo de captação de recursos dedicado à promoção da equidade racial no Brasil.
Sem incorporar lente racial, não é possível trazer transformação
“O Fundo Baobá surge como um legado da Fundação Kellog, que faz uma escuta atitva junto a organizações e lideranças que já tinham recebido o apoio da instituição. Um dos pontos que ficam é o enfrentamento ao racismo e promoção da igualdade racial como estratégia de transformação da realidade brasileira”.
De acordo com Lopes, 2020 é um ano atípico na agenda de recuperação econômica na promoção de equidade racial. Este é o quinto edital lançado pelo Fundo Baobá desde janeiro, dado que reflete não somente o momento de urgência, mas uma nova atenção da iniciativa privada à correção das desigualdades sociais.
“Isso está ficando mais nítido no Brasil, mas é um movimento global também acelerado pelos compromissos firmados em 2015 como repercussão da agenda de desenvolvimento sustentável”, explica Lopes.
“Quando essas instituições se dispõem a olhar para aqueles que historicamente ficaram para trás, percebem que é importante fazer um investimento diferenciado na população negra e indígena. Sem incorporar a lente racial, não é possível trazer a transformação em um país de maioria negra onde a população vivencia as piores condições de vida e os maiores obstáculos de acesso à saúde, educação e emprego de qualidade. Ao olhar para essa realidade, não basta assumir que é preciso transformar os efeitos visíveis: precisamos ter emprego e trabalho decentes. Mas antes precisamos estar vivos e ter dignidade para acessar o mercado de trabalho.”
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Com um desenho inédito no Brasil, o Programa de Recuperação Econômica para Pequenos Negócios de Empreendedores Negros se dedica a premiar iniciativas formadas por três representantes de pequenos negócios, com o objetivo de amplificar o impacto no entorno dos empreendedores contemplados. Dentro das iniciativas, cada um dos três participantes recebe o investimento de R$ 10.000,00. Fernanda Lopes, que também é doutora em saúde pública pela Universidade de São Paulo, explica que a estratégia foi pensada especialmente para o combate à crise econômica causada pela pandemia de covid-19.
“Se em um primeiro momento os investimentos estavam mais focados à prevenção, acesso à informação e comunicação de risco, com a reabertura parcial pensamos em como construir e caminhar para a recuperação, ainda que a crise sanitária não tenha sido vencida.”