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Vítima de boicote, Fernanda Montenegro diz que não desce do salto

Atriz de 85 anos ganha prêmio de R$ 300 mil da Fundação Conrado Wessel em SP

Entretenimento|Miguel Arcanjo Prado, editor de Cultura do R7

Fernanda Montenegro discursa ao receber Prêmio Fundação Conrado Wessel de R$ 300 mil pela trajetória na Cultura
Fernanda Montenegro discursa ao receber Prêmio Fundação Conrado Wessel de R$ 300 mil pela trajetória na Cultura

“Estou de pé ainda; e de salto alto”. Assim, Fernanda Montenegro, atriz de 85 anos, definiu seu estado de espírito, em conversa exclusiva com o R7, pouco antes de subir ao palco da Sala São Paulo, na noite desta segunda (15), para receber o Prêmio Fundação Conrado Wessel na categoria Cultura, no valor de R$ 300 mil, por sua trajetória artística.

Fernanda é uma das mais importantes atrizes do mundo. Já ganhou o Leão de Ouro do Festival de Veneza, o Urso de Prata do Festival de Berlim, além de ser a única atriz brasileira indicada ao Oscar de melhor atriz, por seu trabalho no filme Central do Brasil, de Walter Salles.

A importante condecoração vem para atriz em um momento que seu nome está no centro de um amplo debate nacional, sobretudo por conta do boicote que sua personagem homossexual, Teresa, sofreu na novela Babilônia (Globo), após reação negativa de parte conservadora do público à trama.

No folhetim, a personagem de Fernanda é casada com a personagem vivida pela atriz Nathália Timberg, outro grande nome da dramaturgia nacional. A importância do casal homossexual na trama foi diminuída. As personagens, que deram um beijo no capítulo da abertura, agora estão relegadas ao segundo plano na trama escrita por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga.


Na conversa com o R7, Fernanda, sempre muito educada, fez questão de se colocar no lugar de "atriz de teatro" e de recordar sua trajetória de sete décadas dedicadas aos palcos, arte ainda ignorada por boa parte da sociedade.

— Eu estou com 85 anos. Não esperava esta homenagem desta dimensão. Porque eu sou uma mulher de teatro. E nós não temos uma cultura teatral altamente credenciada; não temos. Vivemos, embora quando somos reconhecidos, em uma marginalidade que não faz parte da "grande cultura". Então, quando me dão um prêmio desta dimensão, desta fundação tão importante, e eu sendo uma mulher de teatro, eu passei revista a minha vida. E aí você vê que alguma coisa você fez da sua vida. Não foi só o ofício pelo ofício. Tinha um propósito.


Fernanda Montenegro: "Estou de pé ainda; e de salto alto"
Fernanda Montenegro: "Estou de pé ainda; e de salto alto"

"Movimentos de libertação"

Fernanda ainda fez questão de lembrar o trabalho artístico feito ao lado de seu marido, o ator e diretor Fernando Torres, que morreu em 2008. Trabalho este sempre defendendo com coragem a liberdade.


— Depois de 70 anos em um palco, na televisão, no cinema, nos debates também, nunca em uma política engajada de partido nenhum, mas nos grandes movimentos de libertação sempre estivemos lá eu e meu marido, Fernando Torres, com quem fui casada 60 anos.

A atriz ainda ressaltou a dedicação de fazer sua arte comunicar com tipos distintos de público, nunca menosprezando as plateias populares.

— Fernando e eu formamos uma dupla corajosa de chegar a todas as plateias. Nunca ficamos fechados em um pequeno teatro de elite, em uma plateia de poder aquisitivo. Enfim, que se tenha como "grande cultura". Sempre fizemos teatro nas periferias, nas favelas, para o povão.

O prêmio da Fundação Conrado Wessel foi recebido com gratidão por Fernanda, sobretudo por viver momento tenso de sua carreira, com seu nome no centro de discussões muitas vezes marcadas pelo ódio e pela falta de respeito ao outro.

— Receber o Prêmio da Fundação Conrado Wessel é uma hora bonita na minha vida. Se eu não receber mais nenhum prêmio na minha vida, fechei com chave de ouro. É bonito.

Questionada pelo R7 se é uma atriz guerreira, Fernanda Montenegro fez um breve silêncio antes de construir sua resposta.

— Eu sempre acho que não vou chegar lá... E acabo chegando. Estou de pé ainda; e de salto alto.

Grande talento nacional

Para Américo Fialdini Jr., diretor presidente da Fundação Conrado Wessel, “Fernanda é a maior atriz da dramaturgia nacional”. Segundo ele, a entidade “tem a função de reconhecer os grandes talentos nacionais”.

— É importante que alguém faça isso, porque, quando o espaço está vazio, alguém ocupa.

Questionado pela reportagem por que o Brasil respeita cada vez menos a arte, a ciência e a cultura, foco da premiação, Fialdini fez uma consideração.

— Eu acho que as pessoas não estão sendo devidamente educadas. Por seus pais, provavelmente. É uma questão de família. Você, como pessoa educada, reconhece e valoriza as pessoas educadas que são os exponentes da sociedade. Quando você não tem a educação, a sociedade precisa ser educada, para pensar em valorizar os seus valores.

Outros premiados

Além de Fernanda, também receberam o Prêmio da Fundação Conrado Wessel, no valor de R$ 300 mil cada um, o físico José Goldenberg, na categoria Ciência, e o cardiologista Protásio Lemos da Luz, na categoria Medicina.

Também receberam conjuntamente o valor de R$ 200 mil do Prêmio FCW de Arte Fotografia os fotógrafos Gabriel Monteiro Pinoti Affonso, de São Paulo, e André de Libero Hauck Ferreira e João Teixeira Castilho, ambos de Belo Horizonte.

Leia o blog Atores & Bastidores, de Miguel Arcanjo Prado

Leia o blog R7 Cultura, de Miguel Arcanjo Prado

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