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Encontrar defeitos onde não tem: entenda a dismorfia corporal

Exposição exagerada a redes sociais pode provocar distorções na percepção da própria aparência

Viva a Vida|Júlia Putini, do R7*

Preocupação obsessiva com a aparência é intensificada pela exposição às telas
Preocupação obsessiva com a aparência é intensificada pela exposição às telas

Estar mais tempo em casa significa ficar mais tempo exposto às telas luminosas de celulares, computadores, tablets e afins. Além do home office, muitos passam ainda mais momentos de seu tempo livre conectados às redes sociais, seja tirando fotos e testando filtros, seja acompanhando selfies de outras pessoas.

Esse hábito aparentemente inofensivo tem impactado na autoestima de muitas pessoas, principalmente mulheres e meninas, que se vêem cada vez mais insatisfeitas com o próprio reflexo nas telas. Essa insatisfação obsessiva tem nome: Transtorno Dismórfico Corporal, ou dismorfia, uma condição que atinge cerca de 2% da população mundial.

A cada dia surgem cada vez mais recursos para alterações da imagem, de modo que as pessoas têm postado fotos de si mesmas com aparências alteradas, muitas vezes distantes da realidade. Soma-se a exposição precoce de crianças às telas, que tem poder de impactá-las a partir de um padrão de beleza irreal.

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O desenvolvimento de procedimentos estéticos, a facilidade de encontrá-los e a propaganda feita pelas chamadas influencers também exercem fortes efeitos na percepção das pessoas sobre si mesmas. Um exemplo disso é a falecida blogueira Liliane Amorim, que já tinha um corpo visto como perfeito e, mesmo assim, se submeteu a uma cirurgia plástica que acabou levando-a à morte.


Segundo a psiquiatra Maria Francisca Mauro, é necessário diferenciar pessoas que estão se sentindo discretamente incomodadas com alguns aspectos de sua aparência de outras que são consumidas por esses pensamentos, a tal ponto que chega a prejudicá-las na realização de tarefas que envolvam a própria imagem, como por exemplo ligar a câmera durante uma chamada de vídeo ou até mesmo tirar uma foto.

"Essa pressão é maior em pessoas que já previamente apresentavam algum sofrimento quanto à forma que se percebem, sendo mais recorrentes nos mais jovens, que ainda estão no processo de formação de sua imagem corporal", completa a profissional. 


De acordo com a psicóloga Fabiane de Faria, ficar muito tempo em frente às telas é como passar um dia inteiro em frente ao espelho.

"Você tem mais espaço de tempo para se observar e, em consequência disso, as críticas chegam", diz ela. "É como se passasse um dia olhando uma parede e começasse a reparar em muitas rachaduras que antes eram imperceptíveis", completa Fabiane.


Autoimagem distorcida

Para algumas pessoas, essa distorção em relação à própria imagem tem feito com que elas procurem ajuda médica para a realização de cirurgias plásticas. O objetivo, nesses casos, é alcançar uma aparência idealizada por elas e reforçada pelo uso de filtros e outros recursos que as mídias sociais proporcionam para tornar as pessoas mais próximas de um determinado padrão de beleza.

Levando-se em conta esse desejo, a psicóloga Fabiane lembra que é preciso manter em mente que a cirurgia plástica é uma mudança na imagem física de um indivíduo para sempre. "Os jovens tendem a pensar somente no agora e por isso seria muito relevante a conscientização em relação aos resultados e mudanças que isso implica", alerta ela.

Apesar de tudo parecer extremamente simples pelo modo que é exposto na internet, realizar qualquer procedimento tem diversos riscos que são ignorados.

"A rede social poderia ajudar mais se as famosas deixassem explícito como foi [o procedimento estético], se tiveram dor, inchaço, assimetrias, coisas normais num pós-operatório. Mas infelizmente passam uma imagem superficial que influencia pessoas a acreditarem tanto em resultados extraterrestres, quanto em profissionais mágicos", ressalta a cirurgiã plástica Cláudia Francisco Oliveira.

*Estagiária do R7, sob supervisão de Luciana Mastrorosa

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