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Fazer ghosting virou uma coisa normal nos namoros. Será que isso é certo?

Apesar do corte de comunicação em um relacionamento ser uma prática controversa, especialistas apontam que ele pode ser apropriado em algumas situações

Viva a Vida|Catherine Pearson, do The New York Times


Ghosting é o corte de toda comunicação sem explicação e tornou-se parte inevitável do namoro moderno Surprising_SnapShots/Pixabay - 21.07.2020

Há aproximadamente uma década, Brenna Holeman teve seu primeiro encontro perfeito com um homem que conhecera em um aplicativo de namoro. Era uma noite chuvosa em um bar aconchegante de Londres. Antes mesmo que o encontro terminasse com um beijo, eles já tinham feito planos para o próximo encontro. “Ele até me mandou uma mensagem naquela noite dizendo: ‘Não consigo parar de sorrir’”, contou Holeman, de 40 anos, que escreve um blog sobre suas viagens e que agora mora no Canadá. O homem também escreveu: “Mal posso esperar para ver você de novo.”

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Mas, quando ela mandou uma mensagem para confirmar o horário do próximo encontro, não obteve resposta.

O ghosting (que pode ser traduzido livremente como “se fazer de fantasma”, “fazer outro de fantasma” ou “desaparecer”), termo popular para o corte de toda comunicação sem explicação, tornou-se parte inevitável do namoro moderno. E, de acordo com psicólogos e investigadores, pode ser ainda mais difícil de suportar do que a rejeição total, porque envolve uma grande incerteza.

Elizabeth Earnshaw, terapeuta matrimonial e familiar licenciada na Filadélfia, afirmou que pessoas que são transformadas em fantasmas “começam a questionar sua realidade”: “Elas olham para trás e se perguntam: ‘Onde foi que perdi os sinais de que alguma coisa não ia bem? O que há de errado comigo por pensar que estávamos nos divertindo tanto em nosso último encontro?’”


Muitos clientes dela, de várias idades, gêneros e orientações sexuais, lutaram contra uma “crise de autoestima” depois de repetidamente se tornarem fantasmas. Mas, em um mundo acelerado de aplicativos de namoro e opções infinitas, será que é normal se fazer – ou ser feito – de fantasma?

Terapeutas, pesquisadores e uma especialista em etiqueta avaliaram opções de quando você pode fazer ghosting com a consciência tranquila e quais maneiras existem para contornar o problema.


Medindo as consequências

Embora o ghosting ainda seja uma área de pesquisa relativamente nova, alguns dados estão começando a surgir. Em um estudo de 2019, 25 por cento dos participantes disseram que tinham sido fantasmas de um parceiro romântico e pouco mais de 20 por cento afirmaram que eles próprios tinham feito alguém de fantasma.

Outro estudo pequeno, que focou especificamente os usuários de aplicativos de namoro, descobriu que 85 por cento já tinham sido transformados em fantasmas em algum momento, o que levou muitos entrevistados a se sentirem tristes ou irritados e a experimentarem baixa autoestima; alguns também se sentiram mais desconfiados do mundo.


As pessoas que foram transformadas em fantasmas têm tendência a ruminar. Ficam se perguntando: “O que está acontecendo? Por que ele/ela não está me respondendo? Com isso, vem uma grande incerteza”, disse Richard Slatcher, professor de psicologia da Universidade da Geórgia que estuda relacionamentos íntimos.

Terapeutas como Earnshaw vêm observando há anos as consequências da prática de ghosting, sobretudo porque muita gente já se cansou dos aplicativos de namoro. As pessoas realmente não devem fazer outras de fantasmas se puderem evitar. Segundo ela, o processo é doloroso, especialmente quando acontece repetidas vezes.

Os clientes de Earnshaw geralmente perguntam: “Será que estou fazendo alguma coisa que sempre faz com que isso aconteça?” Alguns até se questionam: “Como pude ser tão desprezível a ponto de alguém não se importar sequer em me dizer adeus?”

Quando considerar o uso de fantasmas

Ainda assim, há momentos em que é apropriado, e até mesmo sábio, fazer ghosting, disseram especialistas. “Se a pessoa foi agressiva ou fez você se sentir inseguro, é uma boa justificativa para ir embora sem dar explicação”, exemplificou Earnshaw. Ela também aprova essa atitude quando uma pessoa simplesmente não respeita os limites. “Se ela não está ouvindo o que você já expressou, então acho que está tudo bem dar o fora em silêncio”, afirmou Earnshaw, acrescentando que hesita até mesmo em categorizar essa situação como ghosting.

No estudo que descobriu que a maioria dos namorados on-line eram fantasmas, os motivos que as pessoas deram para desaparecer foram complexos: algumas fizeram isso porque temiam um comportamento verbalmente abusivo ou mesmo perseguição; outras disseram que não deviam nada à pessoa com quem conversavam em um aplicativo; e algumas alegaram que não queriam machucar ninguém expressando a rejeição verbalmente. “Às vezes, para a pessoa que está desaparecendo, é bem mais fácil. Ninguém gosta de dar más notícias”, comentou Rachel Sussman, psicoterapeuta da cidade de Nova York e autora de “The Breakup Bible” (algo como “A Bíblia do Rompimento da Relação”).

Earnshaw acha que uma boa pergunta a fazer antes de transformar alguém em fantasma é: estou pensando em transformar essa pessoa em fantasma simplesmente porque quero evitar uma conversa desagradável? Se a resposta for sim, é mais gentil oferecer um adeus e até mesmo uma explicação breve.

Um jeito melhor de sair

Se você esteve em apenas um ou dois encontros, uma mensagem de texto encerrando as coisas geralmente basta, ensinou Elaine Swann, especialista em etiqueta de Carlsbad, na Califórnia. Ela reconheceu que esse pode até ser um conselho surpreendente vindo de uma defensora das boas maneiras, mas observou que os padrões de etiqueta evoluíram.

Seja breve, ela recomendou. Diga algo como: “Não acho que sejamos uma boa opção, mas desejo felicidades para você e espero que encontre a conexão que procura.”

Se, no entanto, você teve mais de um ou dois encontros ou teve intimidade física de alguma forma – “mesmo que apenas namorando” –, Swann acredita que terminar pessoalmente ou por uma ligação telefônica é uma boa ideia. (Caso você não aguente fazer isso, uma mensagem de correio de voz também funciona.) É importante que a outra pessoa ouça sua voz e seu tom, recomendou Swann, acrescentando que você não deve tentar “consertar” a pessoa ao sair: “Você não precisa fazer desse momento uma aula.”

Como lidar com o ghosting?

Sussman costuma dizer a seus clientes que, mesmo que tenham tido um encontro realmente bom (ou vários), devem se proteger contra as turbulências emocionais dizendo a si mesmos com antecedência que é possível que não venham a ter mais notícias da pessoa: “Lembre-se de que, infelizmente, o ghosting agora é normal e acontece com todo mundo.” Essas histórias vêm de clientes de todos os tipos. “Até uma supermodelo já me disse: ‘Não deveria ter dito o que disse, ou não deveria ter usado aquilo’”, revelou Sussman.

Mas seja gentil consigo mesmo. Os dias e as semanas seguintes ao ghosting são um bom momento para praticar o autocuidado emocional: ver amigos, escrever em um diário, dedicar-se a um hobby ou movimentar o corpo, sugeriu Earnshaw.

Ao mesmo tempo, você pode ajudar a diminuir os danos à sua autoestima simplesmente lembrando a si mesmo – sempre que necessário – que é provável que o problema não seja você, disse Sussman.

Depois de seu encontro perfeito em Londres, Holeman novamente foi vítima de ghosting; dessa vez, era alguém com quem ela estava saindo havia meses. Ela escreveu sobre suas experiências em seu blog há quase uma década. Foi sua postagem mais popular. Nos comentários, os leitores compartilharam as próprias histórias de ghosting.

Falar sobre as experiências foi catártico e revelador para Holeman, enquanto se recuperava de uma “espiral de ansiedade”. Sua confusão e sua mágoa iniciais diminuíram até que percebeu que o silêncio às vezes diz muito. “Essa pessoa estava me mostrando quem era. Estava me mostrando que era imatura, carecia de empatia e não se importava sequer em enviar uma mensagem curta. O que mais me encorajou a ir em frente foi entender que nenhuma resposta é a resposta.”

c. 2024 The New York Times Company

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