Logo R7.com
Logo do PlayPlus
R7 Viva a Vida

Ronaldo Fraga leva carne seca para a passarela da SPFW

Em entrevista exclusiva ao R7, estilista revela as inspirações de seu inverno 2014

Moda|Deborah Bresser, especial para o R7

A quinta-feira (31) promete no São Paulo Fashion Week. É Dia das Bruxas, ok, mas é dia de deusa também. Gisele Bündchen vai cruzar a passarela, levando aquelas roupinhas da Colcci, para deleite da galera que anda saudosa da musa, há pelo menos três temporadas longe do evento.

É também dia de conhecer mais uma história de Ronaldo Fraga, o estilista que, a cada temporada, ensina um pouco do Brasil para os brasileiros.

Desta vez, a aula de Ronaldo Fraga passa pelo sertão nordestino, de onde nasceu a coleção “Carne Seca ou um Turista Aprendiz em Terra Áspera”, que ele apresenta às 16 horas nas tendas erguidas no Parque Villa-Lobos. Conversar com Ronaldo sobre o nascimento de suas coleções é sempre empolgante.

Ele se embrenha nos confins do Brasil para descobrir personagens, histórias e imagens que ninguém mais viu. Seu inverno 2014, por mais contraditório que pareça, vem do semi-árido.


— Recebi um convite do Sindicato de Curtumes para participar de um projeto, envolvendo um designer e um estilista, para conhecer alguns fabricantes de couro brasileiros.

O couro nacional, como tantas outras matérias-primas brasileiras, padece de valorização. O couro sai daqui, vai para a Europa, lá ganha novas texturas, cores e formatos, para retornar como insumo de primeira. Para inverter esse ciclo, o projeto de integrar moda ao curtume rendeu o que Ronaldo vai mostrar na tarde de hoje.


“Grande parte do que vai ser visto na passarela é couro”, conta o estilista, com exclusividade, para o R7.

Um dos artistas com quem Ronaldo trabalhou foi Espedito Seleiro, de Nova Olinda, no Cariri cearense. O pai era seleiro e um dia foi obrigado, pelo bando de Lampião, a fazer uns calçados para a tropa do cangaceiro. Nascia, sem querer (ele fazia sela, não sapato), a sandália quadrada de couro, que ajudou, muitas vezes, o bando a despistar os meganhas por não deixar pegadas típicas no solo.


Espedito encantou-se com a história, cresceu, e, em vez de seleiro, virou sapateiro. Dono de habilidades incríveis, conseguiu, segundo Ronaldo, desenvolver réplicas até de escamas de peixes.

“A coleção é um texto de Graciliano Ramos, ilustrado por Espedido Seleiro”, explica o estilista, sempre tão repleto de referências culturais e artísticas.

E, assim como a de Graciliano, a obra de Ronaldo dispensa exclamações e reticências. Esse sertão que surge na coleção é masculino, rude, mas a influência se apresenta mais nas cores e texturas, do que na modelagem. A roupa é feminina, como a literatura de Raquel de Queiroz, que tem um tom de macho.

Ronaldo Fraga sempre promoveu esse casamento da moda com a arte e a cultura, e foi um dos três estilistas brasileiros que tiveram projetos aprovados no Ministério da Cultura para captação de recursos via Lei Rouanet. Sobre o tema, ele fala abertamente.

— Eu sabia que iria causar um barulho, a moda ainda é vista com muito preconceito. Achei bom, pois pelo menos trouxe a moda a outro patamar de discussão. O meu projeto do Rio São Francisco nasceu de uma coleção, virou exposição e agora ficará permanentemente em uma cidadezinha no entorno do rio.

Nada a ver, portanto, com poder levantar uns trocados para desfilinho em Paris, certo? Para Ronaldo, assim como a arte se libertou do museu, a moda está querendo se libertar da roupa. Com ele, isso já aconteceu. Cada desfile, um causo. Coisa de mineiro, uai!

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.