Com duas décadas de existência, doceria de Carole Crema fecha as portas e deixa formiguinhas órfãs
Empresária pretende se dedicar à produção industrial de doces para atender demanda de restaurantes e parceiros comerciais
Toda vez que uma doceria fecha as portas, um panda morre na China. E foi assim, com a tristeza de um pandinha falecido, que recebi a notícia do fechamento da tradicional loja de doces da Carole Crema.
Enquanto morei nas redondezas, era um ponto de parada nas minhas caminhadas diárias com a cachorra e depois, com meu filho bebê ainda no carrinho. Lá naquela esquina simpática dos Jardins, eu tomava um cafezinho na janela e pedia um doce... aquele bombom de morango coberto com chocolate ou uma fatia do imbatível bolo praliné, que permeou muitos aniversários na minha casa.
Me lembro de um episódio pandêmico. Aniversário da minha mãe, tudo fechado e a família só se encontrando ao ar livre com medo de contaminação (afinal, eu continuei trabalhando presencialmente e representava um eventual risco para a parte mais vulnerável dos meus parentes).
O bolo da Carole foi um alento naquela data. Passei na doceria, peguei o bolo recheado, nos encontramos todos nas redondezas do teatro TUCA, em Perdizes, onde meus pais moravam na época. Na frente daquele prédio que não era usado pra mais nada em meio à onda de Covid, apoiamos o bolo num mármore e cantamos parabéns.
O maravilhoso bolo praliné da Carole também esteve no primeiro aniversário do meu filho. Por esse e por tantos outros momentos eu agradeço a doceira. Por fazer de um bolo, mais que um bolo.
E também por isso espero que o próximo passo da jornada dela seja de sucesso e mais satisfação pessoal. Segundo comunicado da assessoria, este é “um momento de redirecionamento de energias”.
A ideia é dedicar integralmente à sua fábrica B2B, localizada no bairro do Butantã - vai vender para outras empresas em vez de se dedicar a consumidores finais como eu. Quem quiser comer o doce da Carole deverá procurar os clientes comerciais dela como Lanchonete da Cidade, Havanna, Casa Santa Luzia... ou então pedir um iFood, porque ela pretende continuar com food-service online, até que um showroom na unidade de negócio empresarial seja aberto no futuro. O cardápio, no entanto, ainda não foi divulgado.
A ideia da chef é triplicar a produção para empresas em 2025. “Para ter uma ideia, estou prestes a fechar com um cliente que vai passar a vender meu bolo de coco gelado e tem mais de mil lojas no Brasil inteiro. Estamos falando em 50 mil unidades de bolo por mês”, diz Carole.
A roda da economia gira e é natural que as pessoas e empresas evoluam. Longe de mim criticar a Carole por isso. Mas fica o lamento de uma consumidora enlutada pelas memórias às quais uma fatia de bolo remetia.
Valeu Carole!
(pra quem quiser ir pro bazar, o endereço da doceria é: R. da Consolação, 3161)
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