A onda do álcool zero ‘pegou’ no Brasil antes do Carnaval
Indústria começa a adaptar portfólio e estuda vender marcas famosas de bebidas alcoólicas para atender novo gosto do mercado consumidor, impulsionado pela geração Z

Seja pelo excesso do fim do ano, seja pra poupar o fígado pro Carnaval que em 2025 vem só em março - o chamado Janeiro Dry (ou Janeiro Sem Álcool) pegou...
Basta entrar em qualquer desses mercados que vendem muito destilado e cerveja gelada para notar que os produtos “zero álcool” vêm ganhando espaço nas prateleiras. Mesma coisa nos cardápios: mocktails (coquetéis sem álcool) e cervejas zero ganham mais linhas nos menus. Foi-se o tempo em que pra ficar abstêmio recorria-se a suco de tomate e refris.
O esquenta pro Carnaval sem ressaca está aí dando seus sinais. Corona Cero e Heineken 0 já começam a ser vendidas nas festas de bloquinhos antecipados, disputando espaço nos isopores com as versões tradicionais e a queridinha mineira xeque-mate (rum, mate, limão).
Mas a onda álcool-free “pegou” não só no Brasil. A redução na bebedeira está fazendo com que marcas icônicas reavaliem seus portfólios até a ascensão de alternativas sem álcool. A indústria agora enfrenta desafios e oportunidades em um cenário onde os consumidores estão cada vez mais conscientes de suas escolhas.
O declínio no consumo tradicional
Na França, um dos países mais associados ao vinho, os dados mostram uma mudança drástica nos hábitos. Em 1980, metade da população bebia vinho diariamente; em 2022, esse número caiu para apenas 10%. A média anual de consumo per capita diminuiu de 116 litros na década de 1960 para 17 litros em 2018.
O que era um elemento inseparável da mesa francesa está se tornando cada vez mais raro, especialmente entre os jovens. Hoje, 39% dos franceses com menos de 35 anos afirmam não consumir vinho, enquanto a popularidade da cerveja, incluindo rótulos artesanais, cresce no país.
Mesmo com preços acessíveis – garrafas de Bordeaux custando menos de €3 e vinho a granel mais barato que suco de laranja –, a demanda por vinhos mais baratos despencou, obrigando o governo francês a investir €200 milhões para comprar estoques excedentes e apoiar agricultores que estão arrancando vinhas menos lucrativas.

Crescimento de bebidas sem álcool
Enquanto o consumo de álcool tradicional diminui, o mercado de bebidas sem álcool está em franca expansão. Globalmente, as vendas dessas alternativas atingiram US$ 20 bilhões em 2023, dobrando em cinco anos e crescendo 20% apenas naquele ano, muito acima do aumento de 8% registrado pelas bebidas alcoólicas tradicionais.
Movimentos como o “Dry January” e o apelo por estilos de vida mais saudáveis têm impulsionado a popularidade de cervejas, vinhos e destilados sem álcool, que agora ocupam um espaço antes reservado às opções alcoólicas.
Essa mudança também reflete uma tendência geracional. Nos Estados Unidos, quase um terço da população participa do “Dry January” e, como na França, os jovens estão liderando o movimento em direção ao consumo consciente. A busca por alternativas mais saudáveis e econômicas está redefinindo os hábitos globais.
No começo de 2024, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou que a Corona Cero como a cerveja oficial dos Jogos Olímpicos, estendendo sua participação até a edição de Los Angeles, nos Estados Unidos, em 2028. Foi a primeira vez que uma cerveja zero patrocinou a competição.
Os desafios da indústria
Grandes empresas como a britânica Diageo enfrentam pressões crescentes para se adaptar a esse novo cenário. A empresa está revisando seu portfólio, considerando a venda de ativos icônicos como a marca de cerveja Guinness e sua participação na Moet Hennessy, em meio a desafios financeiros e mudanças no mercado. A empresa também está ajustando suas expectativas de crescimento e investindo em estratégias para atrair consumidores mais jovens e conscientes.
Além disso, concorrentes como Pernod Ricard e Remy Cointreau também sofrem com a desaceleração no consumo após o boom da pandemia. O foco agora está na inovação e em atender às demandas por bebidas premium e sem álcool, enquanto lidam com o impacto de taxas de juros mais altas e um mercado global mais competitivo.
Impactos culturais e econômicos
A transição para um consumo reduzido de álcool traz benefícios para a saúde pública, mas também gera repercussões culturais e econômicas. Na França, por exemplo, a redução no consumo de vinhos mais baratos afeta diretamente a paisagem rural, enquanto em outros países, a popularidade de bebidas sem álcool sinaliza um afastamento das tradições associadas ao álcool.
Um futuro de escolhas conscientes
Com consumidores mais atentos à saúde, à sustentabilidade e à qualidade, o futuro do setor de bebidas alcoólicas será moldado pela capacidade de adaptação das empresas. A ascensão das alternativas sem álcool e a transformação dos hábitos de consumo sugerem que, embora o papel do álcool como símbolo cultural possa estar diminuindo, um novo mercado dinâmico está emergindo, redefinindo o que significa celebrar e compartilhar momentos em um mundo em constante mudança.
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