Como o metanol vai parar na bebida que você toma?
Hipótese mais provável e com mais relatos no restante do mundo é de falha no descarte do mosto na fabricação caseira de destilados. Médicos Sem Fronteiras registram 40 mil casos no mundo, em três décadas
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Final de semana de sol em São Paulo, bares lotados, dias perfeitos para se tomar uma caipirinha, mas não. O trabalhador nem pode se divertir mais em paz. Pelas minhas andanças etílicas de sábado e domingo pude notar somente chopinho nas mesas dos lugares que frequentei. Ou vinho branco gelado.
Entre um copo e outro fiquei pensando, que diabos a pessoa tem na cabeça pra adicionar metanol pra fazer “render” a bebida alheia... Mas essa não é a hipótese mais provável pra contaminação, embora não esteja descartada.
Os destilados contaminados pelo metanol em todo o mundo têm normalmente uma origem caseira. A falha está no processo de fabricação de fundo de quintal e não numa adição posterior. Explico.
O metanol, em quantidades mínimas e inofensivas, pode ser formado naturalmente durante a fermentação do mosto (o líquido açucarado que será fermentado no processo de produção da bebida alcoólica), principalmente a partir da quebra da pectina presente em cascas e polpas de frutas ou vegetais (como o bagaço da cana-de-açúcar na cachaça) pela ação da enzima pectinase.
No processo de destilação de bebidas como cachaça, uísque, vodca ou gim, o metanol se torna um perigo quando o processo não é conduzido corretamente, pois ele é naturalmente concentrado nas frações iniciais do destilado:
O metanol possui um ponto de ebulição mais baixo (64,7 °C) do que o etanol (álcool comum, 78,3 °C). Por causa dessa diferença, durante o aquecimento do mosto fermentado no alambique (destilador), o metanol vaporiza e condensa primeiro, concentrando-se nas frações iniciais do destilado, que são chamadas de “cabeça”.
No processo correto (boas práticas de fabricação), destiladores profissionais e fabricantes regulamentados precisam descartar rigorosamente essa fração “cabeça” do destilado.
Ao fazer isso, eles removem a maior parte do metanol e outras substâncias indesejáveis. O perigo surge quando a destilação é feita de forma inadequada, sem precisão, ou em equipamentos incapazes de separar corretamente as frações.
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Nesses casos, a fração “cabeça” com altas concentrações de metanol acaba sendo misturada com o “coração” (a parte principal, rica em etanol, que será consumida), elevando o teor de metanol para níveis perigosos.
Isso é motivo de estudo em saúde pública. Segundo levantamento dos Médicos sem Fronteiras, o mundo já registrou mais de 40 mil casos e 14 mil mortes em 27 anos.
Ainda segundo a organização, 71% dos surtos de envenenamento por metanol ocorrem na Ásia, principalmente nas Filipinas e Indonésia.
A fonte de intoxicação por metanol na Indonésia é frequentemente o álcool local produzido ilegalmente, conhecido como “Arak” – uma bebida destilada feita de flor-de-coco, arroz e cana-de-açúcar.
Desde 2017, a mídia indonésia noticiou mais de 200 casos de intoxicação por metanol no país. No entanto, o número total de casos relatados de pessoas confirmadas ou suspeitas de intoxicação por metanol é provavelmente superior a 1.100, com mais de 700 mortes.
Nas Filipinas, houve problema também com uma bebida alcoólica conhecida como “lambanog”. Há relatos também em Cuba, na produção de rum caseiro.
Por isso, a cerveja ou o vinho acabam sendo mais seguros, pois há menos fabricação caseira de fundo de quintal do que no caso dos destilados. E por isso também a situação atual causa desespero nas autoridades e fabricantes legalizados. Sabe-se lá a quantidade de garrafas que foram preenchidas com essa fabricação caseira errônea e distribuídas por aí...
A nós, bebedores de bons drinks, só resta o lamento... E a espera que essa onda de contaminação cesse pra gente voltar a poder tomar nosso negroni em paz.
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