Era pior do que pensávamos. A vodca não era apenas vodca barata contaminada: era álcool de posto de gasolina contaminado

Era etanol usado em carro - contaminado com metanol - que foi adicionado em garrafas de bebida. No começo da semana, escrevi sobre a possibilidade da fonte de contaminação do metanol ser bebida alcóolica produzida de maneira incorreta em fabriquetas de fundo de quintal.

É bem comum mundo afora que a fabricação caseira de bebida alcóolica não descarte o metanol naturalmente produzido nesse processo e cause problemas de saúde aos consumidores. Mas o caso que se transformou numa crise nacional nas últimas duas semanas, é pior que isso.

Segundo o Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, suspeitos usavam o etanol extraído de um posto de combustíveis e misturavam em garrafas de gim, vodca e uísque. E esse etanol – que é o que alimenta o motor, o nosso “pão de cada dia” automobilístico – estava com mais de 40% de metanol. A declaração foi dada em entrevista coletiva nesta sexta-feira

A parte mais bizarra dessa “receita do crime” é o desfecho. Pensem comigo: o falsificador, o sujeito que estava tentando passar veneno adiante, foi, pasmem, prejudicado por uma organização criminosa ainda maior - que adulterava o combustível na bomba (lembram da operação contra os postos do PCC?).

É como se o cozinheiro clandestino que usou o óleo de baixa qualidade, descobrisse que a refinaria que vendeu o óleo para ele adulterou o produto de uma forma que o próprio cozinheiro se deu mal. É a bandidagem traída pela bandidagem! Uma dose dupla de falta de escrúpulos.

Aí você pensa, vou atrás de um teste rápido para conseguir consumir bebida em paz. Existe? Existem estudos, mas nada no mercado brasileiro. Só que criminosos já deram um jeito de falsificar isso também.

A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), emitiu hoje um alerta aos consumidores sobre tentativas de golpe relacionadas à crise das bebidas adulteradas.

“Nos últimos dias, têm circulado na internet anúncios de supostos reagentes capazes de identificar a presença de metanol em bebidas alcoólicas. As publicações direcionam os usuários a sites fraudulentos, com o objetivo de obter vantagem financeira e coletar dados pessoais, como o CPF.

A Senacon informou hoje que não há conhecimento sobre a comercialização de testes para detecção de metanol disponíveis para compra pela população em geral. A secretaria, por meio do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), está dialogando com universidades públicas para conhecer as soluções em desenvolvimento para a detecção de metanol em bebidas alcoólicas e avaliar possibilidades de cooperação técnica que contribuam para o enfrentamento da crise e o fortalecimento das medidas de segurança alimentar e sanitária."

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