Vinícola usa canhão pra bombardear granizo a 500m de altura e salvar parreiras
Equipamento adotado por produtores de vinho da Serra Gaúcha é 100% ecológico e usa gás acetileno e ondas sonoras para desfazer os grãos de gelo antes que eles atinjam as árvores

O céu azul num dos pontos mais altos do Rio Grande do Sul engana. Olhando a paisagem dos vinhedos de Pinto Bandeira, na Serra Gaúcha, parece que o sol sempre brilha por lá. Nada poderia estragar o ecossistema perfeito e úmido para a cultura de uvas viníferas, em especial as chardonnay e pinot noir cultivadas ali. Mas não se engane: chove muito, faz muito frio, e essa combinação muitas vezes acaba com a lavoura. Foi na minha viagem de férias à região que decidi visitar a vinícola que produz hoje o que é considerado um dos melhores espumantes do Brasil (e, em vários testes cegos internacionais, do mundo).
A Cave Geisse surgiu da empreitada do engenheiro agrônomo e enólogo chileno Mario Geisse, que desenvolveu sua paixão pelo vinho desde a infância em Limarí, no Chile. Lá, aprendeu técnicas de vinificação com o mentor Perico e formou-se em Agronomia para trabalhar com pequenos produtores e cooperativas, até ingressar na vinícola Manquehue em 1973, acumulando experiência significativa antes dos 30 anos. Em 1976, foi convidado pela Moët & Chandon para impulsionar o mercado latino-americano, fixando-se na Serra Gaúcha, no Brasil, onde, em 1979, fundou a Vinícola Família Geisse, em Pinto Bandeira. Desde então, tornou-se referência na produção de espumantes de alta qualidade, utilizando técnicas tradicionais e destacando os terroirs brasileiros — a ponto de ser reconhecido como principal figura na transformação do espumante nacional.

Fiz um passeio de 4x4 na vinícola após uma madrugada gelada (preço R$500 para até 4 pessoas no carro, pela Wine Locals), que na região alcançou os quatro graus negativos. As poças d’água ainda estavam congeladas no chão, e isso porque já eram 11h da manhã. Foi aí que o nosso guia no passeio mostrou um primeiro sistema, que evita que as uvas congelem... São torres eólicas inteligentes, projetadas para captar o ar mais quente das camadas superiores da atmosfera — aquele que se forma naturalmente durante a noite — e direcioná-lo por meio de forte fluxo de ar até a superfície da plantação. Isso cria uma troca térmica que impede a formação de geada, mantendo as culturas protegidas.
Mas um segundo dispositivo, com aparência quase bélica, me chamou atenção: o canhão (sim!) antigranizo. A empresa responsável pelo equipamento é a SPAG (fui pesquisar no site deles depois). A solução é 100% ecológica e automatizada. São ondas de choque que saem desse canhão para interromper a formação de granizo nas nuvens, a 500 metros de altura dali. Um tubo de aço galvanizado amplifica as ondas geradas em uma câmara de combustão usando gás acetileno não poluente. A inteligência artificial integrada detecta automaticamente nuvens de granizo via radar, aciona o sistema no momento exato e o desliga quando o risco passa. É um tiro a cada 6 segundos.

Confesso que fiquei impressionada. Não tinha ideia desse uso da IA nos campos gaúchos de uvas. Impressionante também foi a hospitalidade e a infraestrutura que a Geisse está montando em Pinto Bandeira. Um lounge de degustação luxuoso, uma área de visita às caves digna daquelas que vi em Champagne e Épernay, na França, e, em breve, um restaurante para harmonizar os rótulos premiados com a comida internacional sempre tão bem servida na região de Bento Gonçalves. Mas isso é assunto para uma segunda coluna. Em breve, por aqui, vou contar um pouquinho do meu passeio por lá.

Por enquanto, me atenho a recomendar que, uma vez em Pinto Bandeira, visitem essa vinícola e provem o espumante tipo Nature deles — é o que tem menos açúcar no paladar e na composição, pois as leveduras consomem quase todo o mosto que fica na garrafa. Mais seco que o Brut e o Extra Brut, virou meu novo estilo de espumante preferido. É como passar do café com açúcar e adoçante para um bom café preto, sem nenhuma adição. Um caminho sem volta, eu diria.
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