O que a morte de Marcelo VIPs revela sobre o fígado de pessoas com obesidade
A principal causa de transplante hepático até 2030 será a doença gordurosa não alcoólica, e não mais o álcool
LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA
Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

A morte de Marcelo Nascimento da Rocha, o famoso Marcelo VIPs, maior golpista do Brasil, reacendeu um debate urgente — e cheio de tabus — sobre saúde hepática, obesidade e cirurgia bariátrica.
Aos 49 anos, ele morreu em Joinville (SC) por complicações de uma cirrose hepática, doença que faz o fígado ficar cheio de cicatrizes e perder sua função aos poucos.
O advogado dele afirmou que a cirrose não teria relação com álcool, mas sim com complicações associadas à bariátrica — informação que rapidamente viralizou e levantou dúvidas na internet.
Mas, afinal, o que realmente pode causar uma cirrose? E qual é a relação entre obesidade, bariátrica e saúde do fígado?
Para responder essas questões, conversei com a cirurgiã bariátrica Carina Fernandes, que ajuda a jogar luz sobre um tema muito maior do que o caso isolado de Marcelo: a epidemia silenciosa das doenças do fígado na população obesa.

Afinal, o que é cirrose hepática?
Cirrose é o estágio final de uma sequência de agressões ao fígado. Como explica a Dra. Carina, “é quando o órgão fica cheio de cicatrizes e perde a capacidade de funcionar”. Ou seja: não é algo que surge de repente — é o resultado de anos de inflamação e dano progressivo.
Por muito tempo, a cirrose foi associada quase exclusivamente ao álcool. Mas isso mudou.
“Hoje sabemos que existem três grandes causas de cirrose: alcoolismo, hepatites virais e a doença hepática gordurosa não alcoólica — que é o final da esteatose“, diz a médica.
E é aqui que entra um ponto crucial: a obesidade é uma das principais vias para chegar à cirrose, mesmo sem uma gota de álcool.
A epidemia da gordura no fígado — e o papel da obesidade
A chamada doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) é hoje uma das condições que mais crescem no mundo. Segundo, na América Latina, 30% da população já tem algum grau de gordura no fígado.
E esse número só aumenta devido ao avanço da obesidade. O que era “só gordura” pode evoluir para:
- esteatose (gordura)
- esteato-hepatite (inflamação)
- fibrose
- cirrose
- câncer de fígado
- transplante
- morte
O mais impressionante — e preocupante — é a projeção para os próximos anos:
“A principal causa de transplante hepático até 2030 será a doença gordurosa não alcoólica, e não mais o álcool”, relata Dra. Carina Fernandes.
Ou seja: o fígado está adoecendo devido à obesidade antes mesmo do álcool ser parte da conversa.
E a bariátrica? Ela aumenta ou reduz o risco de cirrose?
Esse ponto é essencial diante das manchetes sobre Marcelo VIPs. Segundo a Dra. Carina, a resposta é clara: “Após a cirurgia bariátrica, o risco de desenvolver problemas hepáticos diminui — e diminui muito”.
A bariátrica é, hoje, o tratamento mais eficaz para reverter a gordura no fígado e até evitar a progressão para cirrose. Mas isso só é verdade sob uma condição: acompanhamento médico adequado.
Sleeve x bypass: qual técnica deve ser ecolhida?
A Dra. Carina explica que o tipo de bariátrica importa muito quando o paciente já tem alguma doença hepática antes da operação — mesmo que ainda não saiba.
Ela detalha: “Se o paciente já tem hepatite crônica, fibrose avançada ou cirrose, devemos fazer o Sleeve, e não o Bypass. O Bypass aumenta a pressão porta, e isso acelera a progressão da fibrose.”
A pressão portal é a pressão no sistema de veias que leva sangue ao fígado. Quando ela aumenta, quem já tem uma lesão hepática pode piorar mais rápido.
Se Marcelo já tinha uma doença hepática não diagnosticada — pela história de vida, obesidade, esteatose antiga ou hepatite, a gente não sabe? O que sabemos é que a escolha do tipo de bariátrica pode acelerar um processo que já estava em curso. Deve-se fazer uma investigação minuciosa antes de decidir pelo procedimento.
A Dra. Carina conta que pacientes que têm cirrose, já candidatos a transplante hepático e com obesidade, no HC, fazem o Sleeve e o transplante no mesmo tempo. Para você ter uma ideia de como a perda de peso melhora a cirrose.
Álcool após bariátrica: risco maior?
Há um mito de que “todo bariátrico fica mais sensível ao álcool e evolui para cirrose”. Essa não é a realidade. A Dra. Carina explica: “O álcool é prejudicial para qualquer pessoa, bariátrica ou não. O que muda é que o bariátrico pode sentir os efeitos mais rápido e, por ser líquido e hipercalórico, o álcool facilita o reganho de peso.”
Ou seja: o risco existe, mas não é exclusivo em pacientes que fizeram bariátrica.
O que o caso Marcelo VIPs revela
A história de Marcelo VIPs é cercada de polêmicas, mas um ponto é inegável: ele morreu de uma doença grave, silenciosa que está aumentando na população.
A obesidade, a esteatose e a evolução para cirrose não são assuntos de elite médica — são questões de saúde pública.
E, como diz a Dra. Carina, esse é o alerta: “Os números de doença gordurosa não alcoólica só sobem. Estamos vivendo uma epidemia.”
Marcelo VIPs tinha um passado controverso, mas sua morte expõe uma realidade que vai muito além dele: o fígado das pessoas obesas está adoecendo em ritmo acelerado.
E falar sobre isso — sem tabu, sem estigma, com informação real — é urgente.
✅Para saber tudo do mundo dos famosos, siga o canal de entretenimento do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp












