Itália quer quase 500 mil trabalhadores estrangeiros até 2028
Novo plano de imigração legal amplia oportunidades e indica prioridades econômicas do governo italiano

A Itália atravessa um cenário demográfico delicado, marcado por envelhecimento acelerado da população, baixa taxa de natalidade e crescente dificuldade para preencher vagas em setores essenciais.
Para enfrentar esse quadro, o governo decidiu ampliar de forma significativa a entrada de trabalhadores estrangeiros, apresentando o maior programa trienal de vistos de trabalho já estruturado no país.
Ao mesmo tempo, Roma criou uma via especial para descendentes de italianos, incluindo brasileiros, reforçando a estratégia de atrair mão de obra qualificada e manter a economia em funcionamento.
O desafio demográfico e a falta de profissionais
Estudos recentes indicam que, entre 2024 e 2028, o mercado italiano terá necessidade de cerca de 3 milhões de novos trabalhadores, sem incluir o setor público. Desse total, aproximadamente 640 mil vagas devem ser preenchidas por imigrantes, mais de 20% da demanda nacional.
A razão é conhecida: um grande volume de aposentadorias, pouca reposição de jovens e forte necessidade de profissionais em áreas como agricultura, construção civil, turismo, indústria e cuidados com idosos. É nesse contexto que o governo passou a defender, de maneira explícita, a ampliação da imigração legal para sustentar o crescimento econômico.
Decreto Flussi 2026–2028: quase 500 mil novos vistos de trabalho
O decreto do presidente do Conselho de Ministros, publicado na Gazzetta Ufficiale, autorizou oficialmente 497.550 entradas de cidadãos de países fora da União Europeia entre 2026 e 2028. O programa contempla trabalho subordinado não sazonal, trabalho sazonal e trabalho autônomo.
A distribuição prevista é a seguinte:
- 164.850 autorizações em 2026
- 165.850 em 2027
- 166.850 em 2028
Na prática, são cerca de 165,8 mil novas oportunidades por ano, tornando esse o maior plano trienal de vistos de trabalho já implementado pela Itália. A decisão foi confirmada por comunicados oficiais e repercutida por veículos internacionais como a Reuters.
Setores que mais precisam de trabalhadores
O governo italiano concentra sua busca por profissionais especialmente em áreas nas quais a falta de mão de obra é mais crítica. Entre os setores com maior demanda estão:
- agricultura e atividades sazonais no campo
- construção civil e obras de infraestrutura
- turismo, hotelaria e restauração
- indústria, logística e transporte
- serviços de assistência a idosos e cuidados pessoais
São segmentos nos quais a presença de trabalhadores estrangeiros já é tradicional e onde a carência atual ameaça a capacidade produtiva do país.
Via especial para descendentes de italianos: trabalho fora da cota
Em paralelo ao Decreto Flussi, a Itália criou um mecanismo que permite que descendentes de italianos em países da diáspora, incluindo Brasil, Argentina, Estados Unidos, Austrália, Canadá, Venezuela e Uruguai, solicitem vistos de trabalho fora da cota.
Esse novo caminho estabelece que:
- o solicitante precisa comprovar ascendência italiana em linha reta;
- é obrigatório ter uma oferta de emprego válida na Itália;
- os pedidos não entram na contagem anual de cotas, o que reduz a concorrência;
- após período de residência legal, pode haver possibilidade de acesso facilitado a processos de naturalização, conforme as normas vigentes.
A medida reflete uma resposta à realidade demográfica: ao mesmo tempo em que reforça o controle sobre a imigração irregular, o governo abre espaço para quem possui vínculo histórico com o país.
Como se candidatar às vagas de trabalho na Itália (Decreto Flussi e via para descendentes)
A Itália não aceita inscrição direta de estrangeiros: todo processo começa com um empregador italiano, que solicita o Nulla Osta (Autorização do governo italiano que permite que o empregador contrate um trabalhador estrangeiro fora da União Europeia) no “click day” do Decreto Flussi ou pelo canal especial para descendentes de italianos, que é mais rápido e fora da cota.
O primeiro passo para o brasileiro é conseguir uma oferta de trabalho, por meio de portais oficiais como ClicLavoro e EURES, além de plataformas como LinkedIn, Indeed e agências autorizadas.
Com o Nulla Osta aprovado, o candidato agenda o visto de trabalho no consulado, viaja e, ao chegar na Itália, deve solicitar o Permesso di Soggiorno em até 8 dias. Não existe cadastro direto no governo, nem reserva de vagas, nem possibilidade de pedir o visto antes do empregador.
As áreas com maiores chances de contratação incluem agricultura, turismo e hotelaria, construção civil, logística, limpeza, assistência a idosos e restaurantes. Para empregos sazonais, não é exigida experiência prévia; para não sazonais, geralmente sim.
Atenção a golpes: não existe venda de vagas, contratos garantidos ou Nulla Osta pago, o processo é sempre gratuito para o candidato.
O que isso representa para os brasileiros
Para o público brasileiro, os impactos são diretos e relevantes. Descendentes de italianos ganham uma oportunidade inédita de ingresso por meio de um canal exclusivo, desde que apresentem documentação completa e tenham contrato de trabalho.
Já brasileiros sem ascendência italiana podem disputar as vagas do Decreto Flussi nas modalidades de trabalho sazonal, não sazonal ou autônomo, conforme o perfil profissional e as exigências de cada setor. Em ambos os casos, a chave para o sucesso é um processo bem estruturado, com atenção rigorosa às normas oficiais.
A Itália busca trabalhadores, mas dentro de um modelo de imigração organizada, com regras claras e monitoramento constante.
Cada situação exige análise própria
Mesmo diante de números expressivos, é essencial reforçar que:
- os requisitos de cada visto — prazos, documentos, qualificações exigidas — são definidos em normas específicas;
- mudanças políticas podem alterar datas de “click day”, cotas e critérios de admissão;
- toda decisão deve ser baseada em informações atualizadas diretamente dos órgãos oficiais italianos, como a Gazzetta Ufficiale, Ministero dell’Interno, Ministero del Lavoro e consulados.
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Por Carlos Silva – Jornalista 0099348/SP e influencer digital
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