Pela 1ª vez no Grupo Especial, Inocentes de Belford Roxo abre desfile com Coreia do Sul “made in Brasil”

A estreia da Inocentes de Belford Roxo no Grupo Especial promete ser tão ousada quanto o rebuscado enredo As sete confluências do Rio Han — 50 anos de imigração da Coreia do Sul no Brasil. A escola de samba da baixada abriu o desfile do Grupo Especial do Carnaval do Rio na noite deste domingo (10). O carnavalesco Wagner Gonçalves aposta no seu estilo moderno e em uma narrativa dinâmica para surpreender público e jurados. Segundo ele, o que parece ser difícil vai se tornar muito fácil durante o desfile.

— A narrativa não linear é para confundir mesmo. Estamos apostando que a leitura fácil na Avenida seja um dos nossos triunfos. Criei um discurso pesado [para o enredo], que quem lê na internet não entende. O objetivo é surpreender, pensar que é mais simples do que se imaginava.

Para conhecer um pouco da cultura do povo sul-coreano e facilitar a compreensão do tema, que foi encomendado pela Associação Brasileira dos Coreanos em troca de patrocínio de R$ 2,5 milhões, mas não saiu do papel no Carnaval do ano passado, o carnavalesco passou 15 dias naquele país. Wagner conta que este foi o enredo que demandou mais tempo de estudo na sua carreira de seis anos como carnavalesco.

— O difícil foi montar o enredo. Foi um período de três meses de pesquisa, foi o que eu levei mais tempo.

Inocentes quer quebrar preconceito no Carnaval

O carnavalesco da escola da Baixada Fluminense pretende quebrar o preconceito que existe com os enredos que tratam de outros países. Segundo ele, o objetivo da agremiação é mostrar o conceito antropofágico do Brasil — o “devorar” da Coreia do Sul — com bom humor e leveza.

— Este preconceito que existe é em cima de falar sobre o que não é nosso. Vamos mostrar como o Brasil decodifica a outra cultura, como “abrasileiramos” os coreanos. É uma Coreia made in Brasil. O resultado plástico é muito leve, bem humorado, jocoso, sem ser desrespeitoso com a Coreia.

Carnavalesco da geração “pós-Paulo Barros”, como ele mesmo se define, Wagner estreiou no Grupo Especial com a Mangueira, em 2011, ao lado do carnavalesco Mauro Quintaes, com o enredo que homenageou o compositor Nelson Cavaquinho. Este será o seu voo solo na elite do Carnaval carioca.

— Eu acho que contar uma história linear, que não é ruim, tem carnavalesco que conta muito bem, mas não é o que me seduz, que me faz sair de casa. Eu tenho um compromisso com a minha escola e com a minha geração. Eu quero que as pessoas da minha idade se interessem pelo Carnaval, através da minha imagem, do meu trabalho. O Carnaval está se renovando.

E a ousadia de Wagner pretende tornar a Inocentes de Belford Roxo a terceira força da baixada, ao lado das coirmãs Grande Rio, de Duque de Caxias, e Beja-Flor, de Nilópolis. Para isso, a Inocentes investiu na contratação de profissionais experientes de agremiações tradicionais para ficar de vez no Grupo Especial: recrutou o intérprete Wantuir (que defendeu a Grande Rio nos últimos quatro carnavais), o mestre de bateria Celinho (que fez seu nome na Unidos da Tijuca) e o casal de porta-bandeira e mestre-sala Lucinha e Rogerinho (ex-Unidos da Tijuca, ex-Mocidade e ex-Portela; único casal que levou nota 10 dos jurados no ano passado).

— A escola tem um afã de município pobre. Essa posição no Grupo Especial mexe com a autoestima da comunidade.

As sete confluências do Rio Han serão contadas nos sete carros da escola. A segunda alegoria, que é o "xodó" do carnavalesco, será uma representação da ancestralidade na Avenida. Já o quinto carro trará novidades da ciência e tecnologia, com 55 homens e mulheres sarados. Sem dar muito detalhes, Wagner revelou ao R7 que o abre-alas mostrará as influências da Coreia do Sul na cultura brasileira.

A agremiação entra na Avenida com 27 alas e 4.200 componentes. À frente da bateria, vem Lucilene Caetano, nova rainha, mais conhecida como "musa do MMA".

Conheça o samba-enredo da Inocentes de Belford Roxo

Chegou o grande dia

Ao despertar de um sonho especial

Rufam os tambores na Avenida

Coréia do Sul, se faz Carnaval

E… as Sete Confluências vão fluir

Peço águas tranquilas pra seguir

Para a deusa do vento a proteção

Rosas de Sharon

Recomeço e transformação

O respeito aos seus ancestrais

Reflete nos antigos rituais

Um rio de amor me leva

O destino soprou, saudade

Um porto seguro, o fututo revela

Um bom-retiro de esperança e liberdade

Sinto a emoção

Em cada expressão da cultura popular

Navegar, mudar a direção

Num toque, se comunicar

A fé refletida na paz de um olhar

És um belo exemplo a seguir

Um caminho de luz a trilhar

E lá vou eu Colhendo os frutos dessa minha união

Braços abertos a imigração

Cinquenta anos nessa pátria mãe gentil

Coreia do Sul Tuas águas cristalinas são espelho

Na cadência da Baixada

Deságuam no meu Rio de Janeiro

Meu Oriente é você

Vim mostrar o meu valor

Inocentes, razão do meu viver

Avante, Cidade do Amor!