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Elza Soares deu voz à juventude com discurso atual e engajado

Artista, que morreu na tarde desta quinta-feira (20), em casa, no Rio de Janeiro, estava longe de sentir o peso dos 91 anos de idade 

Música|Ricardo Pedro Cruz, do R7

Elza conseguiu fazer da trajetória pessoal matéria-prima para ressignificar tragédias
Elza conseguiu fazer da trajetória pessoal matéria-prima para ressignificar tragédias

Elza Soares cantou "até o fim", assim como prometido em A Mulher do Fim do Mundo. A artista, que morreu na tarde desta quinta-feira (20), em casa, no Rio de Janeiro, estava longe de sentir o peso dos 91 anos. Em mais de 60 só de carreira na música, a cantora acumulou uma discografia com 85 títulos, 17 pinos na coluna e uma coletânea de dores e alegrias da mulher preta, filha de uma lavadeira com um operário, criada na favela de Água Santa, no subúrbio do Rio de Janeiro.

Em entrevista ao R7, em outubro de 2019, ela foi direta ao rejeitar qualquer questionamento que a colocasse na posição de vítima da própria história (e idade), e categórica ao afirmar: "Eu não envelheci ainda. O dia que envelhecer, eu falo. Continuo a mesma. A Elza viva. Com os mesmos sentidos e desejos. Seguindo a vida. A que você conheceu de salto 15 dançando e cantando no palco”.

Nos últimos 20 anos, Elza conseguiu fazer da trajetória pessoal matéria-prima para ressignificar tragédias, atualizar o discurso, dialogar com novas gerações e, assim, se transformar em uma das principais vozes da juventude brasileira.

Com uma obra tão vasta, vale ressaltar, é praticamente impossível sintetizar todos os elementos desse processo tão pessoal e humano. Entretanto, o título dado pela BBC de Londres em 1999, de Melhor Cantora do Milênio, é ponto de referência de um momento responsável por chamar a atenção de um Brasil que, por vezes, não soube reconhecer o tamanho da cantora. 


“A princípio, eu senti vergonha. Havia muitos talentos, e eu sou uma cantora que não aparece muito na televisão. Mas, depois, eu pensei: ‘Tinha que ser eu’”, disse a intérprete, à época. 

Dura na Queda, em referência à canção oferecida a ela por Chico Buarque — e que abre o álbum Do Cóccix Até o Pescoço, de 2002 —, Elza, sem a pretensão de fazê-lo, dava ali um importante passo em direção às narrativas e às linguagens que passariam a apontar os novos rumos de sua vida e carreira.


“Eu sempre fui brigona. Mas botar a minha voz para que todos ouvissem, mesmo, foi depois desse disco”, contou. A Carne, composição de Seu Jorge e Marcelo Yuca, e um dos grandes marcos do disco, é a prova disso. “Essa canção representa tudo. Representa muito a mim e a todos nós negros. É uma música forte." 

Renovação do público

Cantora atualizou o público, a obra e o discurso nas duas últimas décadas
Cantora atualizou o público, a obra e o discurso nas duas últimas décadas

O público de Elza Soares, até 2014, era predominantemente composto de pessoas maiores de 55 anos. Nos últimos anos, com um trabalho liderado pelo empresário Pedro Loureiro, o cenário mudou. A proximidade com as necessidades da juventude estimulou a cantora a continuar produzindo novos discos, shows e, claro, discursos. 

“Eu tenho uma linguagem que vai muito bem com os jovens. E eu gosto de trazê-los, de trazer comigo essa garotada, essa juventude abandonada. Eu acho que eu falo e eles absorvem bem. Chega bem aos ouvidos dessa juventude. Eles vêm muito para mim”, explicou a artista. 

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