Leo Jaime aproveita sucesso na TV e retoma carreira como cantor: "Tem jovem achando que comecei agora"
Músico acaba de lançar a turnê Leo "Guanabara" Jaime
Pop|Helder Maldonado, Do R7

Com 30 anos de carreira, Leo Jaime é um dos artistas mais versáteis da geração do rock oitentista. Ele é um dos poucos representantes daquela época que conseguiu se reinventar, mesmo após o rock nacional entrar em crise, no fim dos anos 90.
Desde então, Leo se arriscou como ator, escritor, roteirista, dublador e apresentador de TV. Ele considera que essa multiplicidade é o segredo da permanência na mídia durante mais de três décadas.
— Acredito que a versatilidade e a resiliência tenham a ver com a duração da minha carreira. Teve momentos em que eu pensei que não apareceriam mais trabalhos, mas tudo tem ciclos e eu posso me considerar um cara de sorte porque tive a oportunidade de ser testado em outras atividades.
Mas o momento é de volta às raízes e à música. Além das participações bem-sucedidas que tem realizado nos programas Amor e Sexo e Papo de Segunda, Leo agora cai na estrada com a turnê Leo "Guanabara" Jaime, que tem apresentação agendada para o dia 23, no Tom Brasil, em São Paulo. Neste show, o artista relembra seus sucessos musicais e histórias por trás das canções e dos bastidores do rock nacional.
O show tem a parceria de Fernando Caruso nos textos e a participação de Alexandre Costa na bateria, Ricardo Palmeira na guitarra e violão e João Pompeo nos teclados.
Em entrevista exclusiva ao R7, ele comenta esse resgate da carreira musical, o sucesso na TV, o atual posicionamento político conservador de sua geração e como lida com as críticas sobre os problemas de saúde que o fizeram ganhar peso. Leo tem gordura visceral, entre os órgãos (pan-hipopituitarismo). A deficiência hormonal dificulta o emagrecimento.
R7 — Jaime, você é hoje um dos artistas mais bem-sucedidos da sua geração. Acredita que a versatilidade ajuda nisso?
Leo Jaime — Acredito que a versatilidade e a resiliência tenham a ver com a duração da minha carreira. Teve momentos em que eu pensei que não apareceriam mais trabalhos, mas tudo tem ciclos e eu posso me considerar um cara de sorte porque tive a oportunidade de ser testado em outras atividades e acabei solidificando a multiplicidade como marca. Tudo o que eu faço me dá prazer e tem a ver comigo, com o que eu penso. Nisto sou inegavelmente vitorioso. Mas considero sua observação um elogio, pois faço parte de uma geração rica em talentos e personalidades admiráveis.
R7 — Como você foi de cantor para um artista multimídia?
Leo Jaime — Antes de ser conhecido como cantor já tinha dado inicio a outras atividades, como escrever e atuar. Fiz alguns filmes no início da carreira, e isso ajudou a deixar claro meu interesse. Também foi preciso ter humildade para começar em outras funções, sabendo que seria visto como um estranho no ninho. Tenho sido bastante responsável e cuidadoso ao longo da vida. Acho que não tenho páginas desagradáveis na minha trajetória, embora tenha tido minha dose de fracassos. Todos têm, não é? Amo televisão, cinema, teatro, literatura, gastronomia, enofilia, turismo, tanta coisa! Acho que eu gosto de gostar. E, de vez em quando, experimento trabalhar em algumas dessas paixões. Tem dado certo e me sinto sempre renovado.
R7 — No novo show, como você divide essas facetas?
Leo Jaime — Sim, a ideia é essa. Encontrar com a minha essência. Foi o caminho que encontrei para voltar a compor. E estou compondo depois de alguns anos achando que a fonte tinha secado. O fato de não haver mais uma indústria do disco forte, um mercado de fácil leitura, o hábito de fazer discos periodicamente, desestimulam a criação de novas canções. Mas quando comecei, não sabia que um dia alguém iria querer ouvir e escrevia assim mesmo. E fazia o que me dava na telha, que é a estrutura básica deste show. Não respeitar nenhuma fórmula que não seja a expressão sincera das minhas intuições.
R7 — Você pensa em retomar a carreira como músico em tempo integral em algum momento ou isso não é cogitado?
Leo Jaime — Tem sido assim, embora eu tenha o Papo de Segunda e pretenda ficar lá por tempo indeterminado - eu adoro aquele encontro semanal, aqueles caras, aquela turma que está por trás das câmeras — mas acabei recusando algumas propostas de TV, cinema e teatro, inclusive musicais. Algumas por incompatibilidade de agenda e outros porque não queria reservar um tempo para compor e bolar este show novo que é uma obra em construção. Nunca fica pronto! Na minha cabeça, claro.
R7 — No Amor e Sexo, você foi descoberto por uma nova geração. Como é participar de um programa de comportamento e lidar com um público mais jovem?
Leo Jaime — Tenho muito orgulho deste programa e da parceria com a Fernanda. Fui chamado para escrever o piloto e participei da criação do programa até achar que já tinha dado minha contribuição. Mas quanto a ser descoberto por outras gerações acho que a Malhação foi ainda mais importante. Cheguei a ler em redes sociais adolescentes dizendo: Ih, o Nando da Malhação está virando cantor de verdade! Tem jovem achando que comecei agora. Acredito que Amor e Sexo foi um divisor de águas na minha vida. Senti que renascia para uma nova etapa da carreira. Acho que aquele programa é um marco na história da TV e também na conscientização dos brasileiros sobre assuntos relacionados à sexualidade. Depois dele ficou muito mais fácil debater as coisas. Curioso é que eu não a conhecia antes desta primeira reunião. Um dia, o Ricardo Waddington me ligou dizendo que estavam pensando em fazer um programa sobre sexo na Globo e que em todas as reuniões meu nome aparecia. Ele, Rafael Dragaud, Fernanda e eu fomos o núcleo de criação. Posso dizer que o Ricardo foi o meu Tarantino.
R7 — Além disso, você é dublador de animações e atinge também o público infantil. Ser ator facilitou virar uma referência nessa área?
Leo Jaime — Eu adorei dublar animação! É um negócio muito sério e que exige precisão! Fiz um teste e fui aprovado pelo pessoal de Hollywood, que é quem decide estas coisas. Antes já tinha dublado cantando. Amo trabalhar para crianças. Ser ator é o mesmo que ser músico. Em inglês o verbo para atuar e tocar é o mesmo: to play. Que quer dizer também, brincar, jogar. Eu gosto disso tanto quanto gosto de escrever e compor. Mas o que eu gosto mais, mesmo, é de fazer sucesso. Amo! E tenho sorte porque os projetos que me escolhem acabam sendo muito bem sucedidos. Divertida Mente, não por minha causa, ganhou o Oscar. Mas ninguém pode dizer que não sou pé quente!
R7 — Muitos artistas de sua época se mostram conservadores, enquanto você sempre teve um comportamento mais progressista. Como analisa roqueiros tomando posicionamentos muitas vezes reacionários?
Leo Jaime — Acho estranho, mas entendo. Sofremos pressão tanto da direita quanto da esquerda quando começamos. Era a crítica dizendo que éramos uma febre de um só verão, filhotes do imperialismo, essas besteiras; e a censura do outro tentando calar o “foco de subversão”. É bom lembrar que quem fez passeata contra a guitarra elétrica não foi a direita. Mas sou democrático e acho que é preciso respeitar as opiniões e não ser intolerante com os intolerantes para não justificar a intolerância deles e não se tornar um. Sou a favor de acelerador e freio. Acelerando mais do que freando, óbvio. Mas uma coisa é indiscutível: precisamos distribuir melhor as riquezas. Hoje o que vejo são as misérias proliferando e as riquezas cada vez mais concentradas. Terei comprido meu ciclo na terra e não terei visto a vida mais justa para a maioria. Quase a totalidade da população da terra não vive, não faz escolhas, apenas sobrevive como dá.
R7 — Você foi um fenômeno das redes sociais quando ela ainda estava no começo. Lidar bem com a tecnologia é um diferencial que sempre manteve você em evidência?
Leo Jaime — Eu fui salvo pelas redes sociais. A mídia tinha fechado a porta para mim, mas o público não. Foi aí que voltei a ser convidado, escalado, lembrado: quando ficou evidente que o público tinha, e tem, um carinho enorme por mim.
R7 — Leo, você sempre lidou bem com as críticas ao seu corpo. Mas poucos sabem que o ganho de peso é fruto de uma doença. Como lida com isso?
Leo Jaime — Eu luto contra o bullying. Acho que ele é mecanismo que perpetua o machismo, o racismo e todo tipo de preconceito. A "brincadeira desagradável" é a que dá indulto para a entrada de todos estes males na nossa intimidade. Quando uma criança maior intimida uma menor por ser gorda, magra, diferente, orelhuda, pobre, preta, seja lá o que for, está claro: quem é mais forte tem o 'direito' de intimidar o mais fraco. Eu tenho um filho, ele não faz bullying e não fica amigo dos meninos que fazem. Ninguém tem o direito de me fazer mal por eu ser quem eu sou ou como eu sou fisicamente. Se é brincadeira, todos riem. Se alguém fica chateado, não é brincadeira. É a semente do ódio.
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