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‘Cidade dos Sonhos’: clássico de Lynch discute a linha entre cinema, realidade e sonho

Filme é relançado nesta quinta-feira (17) nos cinemas em 4K remasterizado

Cine R7|Lucas Tinoco*

'Cidade dos Sonhos' é uma das obras-primas de David Lynch Divulgação

Qual é o limite do sonhar? Contemplar um filme ou qualquer forma de arte, em essência, seria ter um sonho lúcido? Afinal, presenciar coisas fora de seu escopo de realidade acaba sendo um olhar para o lúdico, mesmo que de maneira inconsciente. Seguindo essa linha, David Lynch retrata em Cidade dos Sonhos o que acha sobre cinema e sua relação com a imaginação onírica.

O filme de 2001, que volta aos cinemas nesta quinta-feira (17) em versão 4k, segue a história de Betty (Naomi Watts), uma garota que acaba de chegar em Hollywood, a terra dos sonhos da vida real.

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Em meio a tentar ser uma celebridade, ela encontra Rita (Laura Harring), uma mulher que sofreu um acidente e não sabe nem a certo seu nome e identidade. Assim, as duas começam a cooperar para que seus sonhos se realizem… ou, talvez, não.

Essa sinopse parece um ressoar bobo de palavras, com um filme muito mais extenso do que o abordado inicialmente. Mas esse é justamente o charme da marcante história de Lynch, algo muito além do que aparenta.


O começo do filme tem um senso extremamente cintilante, quase como se naquele mundo não houvesse contraste, e uma falta de maldade perceptível, principalmente, nos personagens.

Não há um mal estabelecido entre eles, somente em uma figura de um homem de aparência estranha que rapidamente some da obra. Até as outras figuras antagônicas presentes nesta viagem por Hollywood tem uma encenação infantil.


Eles são caricatos e estão presentes nas sombras, sempre cobertos de mistério, mas não aparentam uma ameaça real às protagonistas, mais parecendo coadjuvantes de uma série de desenhos infantis do que personagens que retratam algo mais realista e verossímil.

A fotografia também segue a mesma lógica do conto de fadas aplicada ao longa. Tudo é filmado com muita exposição de imagem, sem sombras. Quase lembra uma telenovela.


Isso porque Cidade dos Sonhos se interessa em mostrar uma realidade construída em cima de um pensamento principal: e se essa realidade imaginada fosse real?

Essa pergunta paira em toda a obra de Lynch, mas ainda mais aqui. Através dessa atmosfera fantasiosa, o filme acompanha a construção do encantamento e da beleza que o cinema provoca.

E como o próprio cinema seria uma forma de sonhar na realidade, com ele podendo erguer as mais diversas histórias para serem vistas com um passar de imagens em seu transmissor. Isso é o próprio artifício de ter um sonho, mas, agora, gravado em realidade.

Porém, Lynch é sagaz. Pois sabe que assim que o espectador sai de qualquer filme e se depara com a vida real, ocorre o desencanto. Assim, Cidade dos Sonhos destrói sua história por completo. Um pensamento da cabeça de certa personagem é o que foi apresentado até o clímax da obra. O seu desfecho? A vida real.

Em seu terceiro ato, a fotografia, direção e atuação de todos os personagens apresentados muda para o tom mais real possível. Lynch, então, fotografa tudo com extremo contraste, e de forma mais crua que antes.

A narrativa da obra também muda. Agora, a própria protagonista tem uma relação com a maldade, ao ser mostrada a sua verdadeira realidade, junto de uma encenação bem mais naturalista, esquecendo o clima de felicidade quase psicodélica anterior.

Ao chegar a seu final, é possível perceber que Cidade dos Sonhos aborda através de sua fotografia quase infantil e, em certas partes, quase aficionada pelo real, por suas atuações que mostram figuras reais e irreais e uma quebra de toda sua própria linha narrativa, que cinema é encanto e sonho e não há irrealidade mais encantadora que essa, a arte.

*Sob supervisão de Lello Lopes

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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