‘Maníaco do Parque’ é um filme confuso e perdido em si mesmo
Longa, que estreou no streaming nesta sexta-feira, é prejudicado por sua edição
Cine R7|Julia Pujar*
Em 1998, a mídia foi tomada pelo caso do “Maníaco do Parque”, nome atribuído a Francisco de Assis, condenado à prisão por matar sete mulheres e abusar sexualmente de outras nove. Quase 30 anos depois, a história ganha um filme que pretende abordar muitas de suas facetas, mas acaba se perdendo nele mesmo.
Maníaco do Parque relata a investigação que se seguiu após a descoberta dos corpos das vítimas no Parque do Estado até o momento em que Francisco é preso, dividindo a narrativa entre o ponto de vista do assassino, interpretado por Silvero Pereira, e a jornalista fictícia Elena, vivida por Giovanna Grigio, que investiga e cobre o caso para o jornal em que trabalha.
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Apesar de ter uma narrativa simples, Maníaco do Parque, dirigido por Maurício Eça (o mesmo da trilogia de filmes do caso Suzane von Richthofen) é um filme confuso. O longa pretende tratar a complexa personalidade de seu retratado, o apagamento da história das vítimas e criticar a cobertura da mídia do caso na época. Porém, na prática, nenhum dos pontos chega a ser completamente desenvolvido.
A grande culpada é a edição do filme. Silvero Pereira, por exemplo, dá brilhantemente vida a Francisco de Assis, perceptível desde sua linguagem corporal até a mudança de voz e expressão em cenas-chave, mas é sabotado pelo próprio longa, já que este não dá tempo de tela o suficiente para o ator apresentar e desenvolver as diferentes facetas do personagem.
Giovanna Grigio entrega uma das melhores atuações da sua carreira. A atriz é habilidosa em mostrar a progressão do desgaste mental de sua personagem conforme a investigação avança, porém o desenvolvimento natural tanto de Elena quanto do caso é extremamente comprometido pelas diversas interrupções da edição.
O problema do ritmo do filme ainda torna sua narrativa recheada de cenas expositivas. Toda a problemática da mídia é resumida a diálogos simples e clichês. A resolução do caso é baseada em conveniências e informações cruciais que surgem sem explicação, podando a naturalidade da progressão da investigação.
O problema sobra até mesmo para o elenco, como a personagem de Mel Lisboa, que faz o seu melhor para dar o mínimo de dinamismo a um papel que se resume apenas a jogar informações na cara do telespectador (algo que foge do escopo da atriz).
Até mesmo o que deveria ser o destaque do filme - as vítimas - é deixado para a última hora e precisa de mais e mais diálogos clichês para se encaixar no todo. Felizmente, Giovanna Grigio, junto das intérpretes das vítimas, consegue compor uma cena emocionante que dá um respiro ao tópico.
O mesmo acontece entre a atriz e Silvero, que no auge do filme entregam uma cena em que mostram a dramaticidade que deveriam ter tido a chance de expor durante o filme inteiro.
Apesar de uma narrativa interessante e um elenco dedicado, Maníaco do Parque é um filme perdido em si mesmo e que não consegue enxergar o potencial que sua dupla protagonista tinha para dar de sobra. O longa chegou ao Prime Vídeo nesta sexta-feira (18).
*Sob supervisão de Lello Lopes
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.