‘O Agente Secreto’ é carta aberta sobre o que o cinema brasileiro pode levar pro mundo
A produção dirigida por Kleber Mendonça Filho concorre à Palma de Ouro em Cannes
Cine R7|Cris Massuyama, em Cannes (França)

Uma explosão de cores e sons tipicamente brasileiros invadiu a Riviera Francesa nesse domingo (19). A delegação brasileira de O Agente Secreto chegou fazendo barulho em Cannes - no tapete vermelho, com direito a frevo e dancinha de Wagner Moura, e também nas telas, com um filme forte e repleto de camadas.
O Agente Secreto participa da competição principal do Festival de Cannes e reforça a boa fase do cinema brasileiro, que comemorou o primeiro Oscar de Filme Internacional neste ano.
Se Ainda Estou Aqui reunia um “dream team” do cinema da retomada (Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello, além de uma participação mais do que especial de Fernanda Montenegro), O Agente Secreto nos proporciona um outro grande encontro, de uma geração diferente: temos o diretor Kleber Mendonça Filho (de Bacurau e Aquarius) com o ator Wagner Moura, que construiu uma carreira internacional sólida nos últimos anos.
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O ar de mistério do título se prolonga por boa parte das 2h38 de duração. A obra se revela aos poucos. A trama começa com um surpreendente tom de humor, com direito até a uma imagem dos Trapalhões. Mas a história logo avança pra uma cena de suspense.
Assim como a foto de divulgação, O Agente Secreto é uma ligação misteriosa feita em um telefone público, o famoso “orelhão”: leva um tempo pra nossa ficha cair.
O diretor Kleber Mendonça Filho afirmou que escolheu o nome do filme porque era “misterioso, empolgante e sexy”. Estamos no Recife, no final dos anos 1970, vivendo o período de ditadura no Brasil, e a vida de um “homem comum” acaba se tornando uma rotina de segredos, esconderijos e fuga.
É a terceira vez que o diretor brasileiro participa da competição principal de Cannes. Ele ficou conhecido por fazer um cinema extremamente político. Agora, parece tentar fugir do panfletário - de certa forma, soa até como uma resposta aos críticos. O regime militar nunca é mencionado explicitamente. O longa-metragem envolve o espectador na atmosfera sufocante da opressão que cerca a vida do personagem de Wagner Moura.
Mas O Agente Secreto é pretensioso e ainda quer oferecer mais. Esta talvez seja a obra mais sofisticada do diretor, em aspectos como roteiro e direção de arte, que se traduzem em um Recife pulsante mesmo em meio à repressão. O valor da preservação da memória também é primordial na história. E a participação das personagens femininas produz grandes cenas.
Entre tantos elementos, o diretor ainda conduz a trama para que ela reforce o amor pelo cinema - em especial, pela sala de cinema. O Agente Secreto é uma carta aberta sobre o que o cinema brasileiro pode ser e tudo o que pode levar pro mundo.
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