Anulação da condenação de Daniel Alves mostra a dificuldade de ser mulher no Brasil
O caso traz à tona a complexa realidade de ser mulher em um mundo ainda marcado pela violência e desigualdade

Eu não queria ter uma filha mulher. Nunca quis. Sempre disse isso. Desde o momento em que soube que estava grávida. Por anos me convenci de que essa “preferência” por ser mãe de menino era coisa de personalidade. “Não tenho paciência para frescuras de menina, sou mais prática, mais bruta, gosto desse universo de molecagens”. Era o que eu me dizia, naquela repetição que vira mantra de autoconvencimento!
Deus e o Universo me ouviram e sim, sou mãe de menino. Minha casa é lotada de homens, até meu buldogue transborda testosterona… Mas com o tempo entendi que esse meu “desejo” de ser mãe de menino era muito mais um “medo” de ser mãe de menina.
A chegada da minha sobrinha, uma versão maravilhosa minha e da minha cunhada juntas num só ser, me fez olhar para o que sempre temi. Amo ser mãe de menino, mas com certeza amaria igual ser mãe de uma menina. O universo feminino é um desafio delicioso.
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O que no fundo eu não queria era que minha filha, o ser mais amado por mim, encarasse esse mundo misógino, machista, violento e cruel com as mulheres. Morremos todos os dias por resolvermos separar do marido agressor. Por pegarmos um ônibus sozinha ao sairmos do trabalho e sermos perseguidas por um stalker. Morremos aos 12, aos 20, aos 30, aos 40, 50…
Amo ser mulher. Mas acho muito, muito, muito assustador. Morro de medo de ser mulher. Cada vez mais. Quantas vezes já não pensei: “se eu fosse homem não estaria passando por isso!”. Fala sério. Você já não pensou isso?
Tá errado. Eu amo ser mulher. Pra que desejar ser do outro sexo para me sentir segura? Para me sentir respeitada?