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Baleia Azul: a banda independente que conquistou fãs antes mesmo de lançar sua primeira música

Formado por Xitos Marx e Tety Caires, a dupla de Itu viralizou nas redes sociais antes mesmo de lançar o primeiro EP e hoje é referência para artistas independentes.

Musikorama|Rodrigo d’SalesOpens in new window

A banda Baleia Azul, um duo de rock independente de Itu, São Paulo, tem se destacado no cenário musical brasileiro com uma abordagem única e empreendedora. Formada pelo casal Xitos Marx e Tety Caires, a dupla tem como objetivo claro tornar-se uma das maiores bandas do Brasil. Suas musicais soam como uma mistura do rock nacional de Rita Lee e Titãs, com o rock progressivo de Rush.

O que diferencia a Baleia Azul de outros artistas emergentes é sua história incomum: eles começaram a conquistar um público significativo e formar sua base de fãs antes mesmo de lançarem a primeira canção. Essa estratégia, focada em criar demanda e engajamento prévio, demonstra a visão profissional do duo, que busca fazer da música sua profissão de imediato.

Nesta entrevista, o casal de personalidade carismática e energia contagiante, fala sobre seu marketing digital, processo criativo, autogestão, filosofias e desafios enquanto artistas independentes.

O casal Xitos Marx e Tety Caires usou as redes sociais para transformar a Baleia Azul em um exemplo para artistas independentes de todo o país Divulgação/Viviane Aranha

Musikorama: A banda surgiu na era digital e utilizou muito bem os recursos virtuais para construir uma base de fãs antes mesmo de lançar a primeira música. Como foi essa estratégia? Partiu de uma ideia planejada ou aconteceu naturalmente?


Baleia Azul: Conquistamos um público por conta da nossa personalidade, nosso jeito. As pessoas dizem que somos carismáticos, com uma boa energia, porque acreditamos profundamente e com muita paixão na nossa música, no nosso sonho. Antes mesmo de lançar uma música, as pessoas nos viam falando disso e comentavam: “Pô, vou querer acompanhar, quero ver”. Um dos vídeos que mais nos trouxe seguidores foi o da geladeira vazia, mostrando de forma bem-humorada nossa realidade de largar tudo para viver da música.

As pessoas se identificaram com essa transparência, pois todo mundo tem um sonho e gosta de acompanhar histórias reais. Nossa banda é a nossa vida, e a gente está correndo atrás dela. Acho que as pessoas gostam de acompanhar histórias assim.


Musikorama: Quais bandas inspiram vocês na construção do conceito artístico?

Baleia Azul: Principalmente as bandas nacionais de rock dos anos 80, como Rita Lee, que é uma das principais referências para as letras — especialmente o humor que ela trazia, inclusive fora da música, algo que nos inspira bastante. Titãs também é uma banda que a gente gosta muito. Instrumentalmente, temos bastante influência do Rush, como muitas pessoas percebem, especialmente nas linhas de contrabaixo. É essa mistura que tentamos fazer.


O álbum 'EP do Sofá' está disponível em todas as plataformas digitais Reprodução/Spotify/Baleia Azul

As influências citadas pela Baleia Azul são evidentes em seu trabalho de estreia, “EP do Sofá”, como o espírito irreverente de Rita Lee que transparece em Tety e as linhas de baixo complexas de Xitos inspiradas no Rush. Apesar de serem uma banda jovem, o lançamento do álbum impressiona pela maturidade e coesão das obras.

Musikorama: Antes da Baleia Azul, vocês tiveram outras bandas?

Baleia Azul: Não, essa é a nossa primeira experiência como banda. O projeto Baleia Azul já era o projeto de vida do Xitos. A gente começou a querer fazer algo, mas adiamos por causa do nascimento do nosso filho, Juno. Começamos oficialmente no final de 2023, quando criamos a rede social e passamos a nos expor. Nosso show de estreia ocorreu só em junho desse ano, e não foi apenas a estreia da banda Baleia Azul, foi também a nossa estreia como artistas. Nunca havíamos subido em um palco. A Tety só havia cantado em karaokê mesmo [risos].

Musikorama: O show de estreia de vocês foi com repertório autoral?

Baleia Azul: Sim, 100%. E a casa estava cheia! A gente estava super nervoso, mas saiu exatamente como o planejado. A galera cantando todas as nossas músicas, foi muito legal! Produzimos nosso próprio evento e deu tudo certo. Organizamos o show em parceria com outra banda autoral daqui de Itu, a Atrás do Céu. Nesse show, celebramos o aniversário de 45 anos dessa banda, a nossa estreia e o lançamento do ‘EP do Sofá’. Foi uma ótima estreia.

Musikorama: De onde veio a visão empreendedora para montar a banda e organizar tudo com tanta assertividade sem terem experiência prévia?

Baleia Azul: Pesquisamos muito em contas de Instagram e redes sociais que ensinam sobre empreendimento musical, porque desde o início decidimos tratar a banda como um negócio, não como um hobby. Queremos fazer disso nossa profissão. Criamos o Instagram da banda e seguimos apenas perfis que nos inspiram — de profissionais de música, marketing digital e empreendedores de outros ramos, inclusive muitos gringos, já que muita tendência chega ao Brasil só depois. É preciso sair um pouco da bolha da música para aprender com quem entende de negócios.

Hoje, todo artista precisa entender que a música também é um produto, um serviço que precisa ser vendido: o show, as músicas, tudo. Só paixão não basta; se ficarmos esperando que nossas redes sociais se autodivulguem, não vai acontecer. É preciso visão de negócio, planejamento e estratégia. Estamos empreendendo e aprendendo há pouco mais de um ano, e sabemos que esse é o caminho para colocar nosso projeto nos trilhos.

Em 7 de junho de 2025, Tety Caires e Xitos Marx subiram ao palco pela primeira vez como artistas autorais Jerri Rossatto Lima/Baleia Azul - 07.06.2025

Em apenas um ano e meio, a Baleia Azul já está à frente de muitas bandas. Eles entenderam cedo que ter boa música é essencial, mas não suficiente: é preciso que as pessoas descubram esse trabalho. Com uma visão profissional, decidiram encarar a banda como uma empresa, unindo amor pela arte a estratégias bem definidas, o que trouxe destaque ao projeto.

Essa maturidade também se reflete em como lidam com a própria identidade: a origem do nome Baleia Azul, que nada tem a ver com o polêmico “jogo da Baleia Azul” — um suposto desafio online associado a práticas autodestrutivas que ganhou grande repercussão mundial entre 2016 e 2017 — foi ressignificada pela banda e hoje abre espaço para conversas mais profundas sobre saúde mental.

Como eles afirmam, a boa arte permite diferentes interpretações e pode provocar reflexões importantes, como o enfrentamento da depressão.

Musikorama: O nome “Baleia Azul” sempre me gerou curiosidade, especialmente por remeter ao jogo de internet de conotação negativa, contrastando com o bom humor de vocês. Por que escolheram esse nome?

Baleia Azul: Eu, Xitos, sempre gostei de baleias. É meu animal favorito. Muito antes de conhecer a Tety, já queria uma banda chamada Baleia Azul. Quando surgiram as polêmicas do “jogo” da internet, cheguei a repensar, mas decidi manter o nome. O rock precisa ser provocativo e gerar reflexão, e o problema daquele episódio não era o nome, mas questões estruturais da sociedade. Ressignificamos e, hoje, o nosso nome simboliza resistência contra a depressão, que é algo que enfrento desde criança.

Muita gente estranha por acharem que esse nome remete a algo triste, mas isso nos permite falar sobre saúde mental, algo tão necessário. Nossas músicas trazem reflexões que podem incomodar, mas sempre carregam mensagens positivas. Nosso primeiro single, “Crescer”, feita para o nosso filho, é um bom exemplo: apesar de fofinha, sua letra lembra que é preciso aproveitar cada dia, pois um dia será o último.

Nossa música é honesta, muito a gente, e carrega naturalmente o que somos e o que sentimos.

(Xitos Marx)

Musikorama: As reflexões sobre depressão e questões existenciais nas músicas de vocês são intencionais ou surgem espontaneamente durante a composição?

Baleia Azul: As letras surgem de forma espontânea, nunca são planejadas para causar um efeito específico ou abordar determinado nicho. Muitas vezes, só percebemos depois o que estava por trás delas. A música “Parte de Mim”, quando a escrevi, achei que era algo inspirado nas coisas que a Tety me dizia, mas ao reler percebi que havia muito de mim ali, de um Xitos deprimido. Isso não dá para dissociar: desde a infância convivo com a depressão, questiono a existência, e isso acaba transbordando para as composições.

As letras refletem essa realidade, mas não de forma planejada; são o resultado de uma vivência pessoal, de alguém que busca sobreviver e encontrar sentido um dia de cada vez. É pesado admitir isso, mas também é verdadeiro. Nossa música é uma tentativa de tornar a vida suportável, tanto para nós quanto para quem ouve. Não escrevemos pensando em atingir um público específico ou levantar bandeiras, mas porque somos essas pessoas vivendo tudo isso, tentando resistir. Nossa música é honesta, muito a gente, e carrega naturalmente o que somos e o que sentimos.

Compositor intenso, Xitos Marx já tem material para três álbuns da Baleia Azul Divulgação/Baleia Azul

Apesar de não contar com uma banda fixa ou grande estrutura, a Baleia Azul se destaca pelo planejamento. Cada canção nasce documentada em partituras, tablaturas e videoaulas, facilitando que músicos freelancers apoiem a agenda da banda.

O olhar empreendedor do casal reflete uma maturidade rara entre artistas em início de carreira. O duo lança suas músicas de forma independente e assume integralmente os registros, o marketing e a divulgação. Nas redes sociais, apostam em clipes alternativos, versões ao vivo e acústicas para manter o “EP do Sofá” em circulação e ampliar o alcance do trabalho. O álbum ainda ganhou uma edição especial em CD com demos exclusivas, distribuída como brinde a quem adquire produtos da banda — uma estratégia que estimula a geração de receita e reforça a autossuficiência do projeto.

Ter foco é essencial: quando você divide sua atenção entre vários projetos, nenhum avança de verdade; mas quando dedica toda a energia a um único projeto, ele decola muito mais rápido.

(Tety Caires)

Musikorama: Qual seria o primeiro passo que vocês aconselharia para quem quiser montar uma banda hoje?

Baleia Azul: O primeiro passo é ter clareza. Sente-se numa cadeira e coloque tudo no papel: qual é o plano, o objetivo, o público-alvo e as referências da banda. Organize as ideias e defina os próximos passos para trazer o projeto ao público, criando redes sociais, conectando-se com pessoas e ir construindo audiência. Foco é essencial: quando você divide sua atenção entre vários projetos, nenhum avança de verdade; mas quando dedica toda a energia a um único projeto, ele decola muito mais rápido.

Se você quer viver de música, tem que tratar a banda como um trabalho. Senão vira hobby, e um hobby caro. As pessoas esperam um momento propício para se dedicar ao sonho delas, só que esse momento não existe. É o agora. Mete a cara e vai! Porque vai ser difícil de qualquer jeito, mas se for para passar perrengue, que seja buscando o nosso sonho, saca?

As pessoas esperam um momento propício para se dedicar ao sonho delas, só que esse momento não existe. É o agora.

(Xitos Marx)

Musikorama: Vocês têm muita clareza sobre o som e a arte que querem fazer. Mas e quanto ao público? Vocês sabem exatamente quem acompanha a banda e o que esperam de vocês?

Baleia Azul: Ainda não temos total clareza sobre isso. Nosso público é muito amplo: tem crianças, adolescentes e até pessoas idosas que se conectam com as letras e com os conteúdos.Cultivamos uma comunidade. Procuramos estar sempre perto dos fãs, respondendo mensagens com atenção, às vezes com áudio, vídeo ou foto. Temos até um grupo secreto no WhatsApp, o Cardume, para conversar diretamente com quem acompanha e apoia o nosso trabalho.

No palco, a Baleia Azul une irreverência e técnica em uma performance intensa que ecoa o rock dos anos 70 e 80. Divulgação/Jerri Rossatto Lima

A trajetória da Baleia Azul mostra como combinar autenticidade e estratégia para gerar bons resultados. Em pouco tempo construíram uma base fiel de fãs, lançaram um álbum maduro e estruturaram uma operação criativa e bem planejada. Tornaram-se referência para artistas independentes que sonham em viver de sua música.

Com ainda muito pela frente, a banda segue firme em seu propósito de crescer e ocupar seu espaço no rock nacional. E, se depender da paixão e da dedicação que entregam em cada passo, a Baleia Azul certamente se tornará uma das maiores bandas de rock do Brasil.

Ouça o "EP do Sofá" no player abaixo e siga Baleia Azul e Musikorama nas redes para acompanhar de perto a evolução da cena do rock independente.

@bandabaleiaazul | @digaomusik | @musikoramamusic

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