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Pop Barroco - De Bach aos Beatles

O período barroco teve uma influência direta na música popular como conhecemos hoje. Mas nos anos 60 com essa inspiração criou-se um novo estilo, o Pop Barroco

Toque Toque|LEO VON, do R7

Quando escrevi o artigo sobre a banda Blossom Toes [leia aqui], meu tio de consideração e ícone do jornalismo brasileiro, Marcos Hummel, sugeriu que eu escrevesse sobre a influência da música barroca no pop e rock. Pela ideia e apoio constante à esse blog, esse texto é dedicado à ele.

Um pouco de história

Comumente, chamamos de Clássica toda música “formal” de tradicão ocidental, diferente das folclóricas e populares. Também damos o nome de Música Erudita que, na minha opinião, é mais apropriado. Isso porque são separadas em períodos, sendo que um deles chama-se Período Clássico. Por isso a confusão entre os termos “Música Clássica” e “Período Clássico”. Resumidamente, dentro da Música Clássica/Erudita, temos os períodos: Medieval (que vai do ano 500 até 1400), Renascentista (de 1400 até 1600), Barroco (1600–1750), aí sim o Clássico (1750–1820), depois o Romântico (1800–1910), Modernista (1890–1975) e Contemporâneo (1950 até o presente). Também existem divisões dentro de cada um deles. A música Barroca está entre o Renascentista e o Clássico e por isso, como toda evolução, aconteceu de forma sutil e gradativa, e muitos compositores conhecidos ficaram em “cima da linha”, simultaneamente entre dois períodos, com características musicais às vezes similares, outras bem diferentes. Bach, Vivaldi, Händel, Jean-Baptiste Lully (o pai da ópera francesa) estão entre os mais populares da era em questão. Já Mozart, Beethoven, Haydn e Schubert são do período Clássico.

O Barroco

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Sem entrar em muitos detalhes técnicos, o Barroco foi a época da "prática comum de tonalidade", que representa basicamente o que conhecemos como música popular. Sabe quando ouvimos alguma nota ou harmonia e conseguimos prever o que vem logo em seguida intuitivamente? Ou quando sabemos que aquela será a última nota ao final de uma música? Essa é a prática comum da música tonal que é baseada numa “tonalidade definida” com notas e acordes seguindo uma hierarquia que giram em torno de uma nota principal, o tom. Então quando dizemos que o tom de uma música é em Dó, ou em Lá Menor, por exemplo, pela "prática comum" as notas e acordes seguirão a hierarquia desses tons, geralmente começando e resolvendo em sua respectiva nota principal.

Sabendo disso, podemos ter uma ideia da importância e influência da música Barroca na música popular na forma que conhecemos hoje. Mas além das estruturas de composição e suas tonalidades, melodias e harmonias, a escolha dos instrumentos é igualmente importante para a definição do período. Principalmente o cravo, instrumento de teclas similar ao piano, mas também o órgão, cordas (violino, viola, cello e baixo) e sopro, como flauta, oboé, fagote, entre outros.

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O Pop Barroco

Já nos anos 60, surgiu um movimento chamado de Pop Barroco, ou Rock Barroco. Por ser um instrumento musical muito presente na maioria dos estúdios de gravação profissional na época, o cravo se tornou o personagem principal que deu origem ao estilo. Ele era usado em músicas Pop desde os anos 40, mas só nos anos 60 que foi colocado em posição de destaque nos fonogramas. Apesar dos Beach Boys em 1964 já usarem o cravo em músicas como “I Get Around” e “When I Grow Up to be a Man”, e “She’s Not There” dos Zombies ser considerado o ponto de partida desse sub-gênero, a maior influência que resultou na popularidade do estilo foi “In My Life” dos Beatles em ‘65. Os Beatles também já tinham ingressado nesse universo com o lançamento de Yesterday [leia aqui], que usou um quarteto de cordas, tipicamente barroco, na gravação.

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O termo "Rock Barroco" foi usado pelo material promocional do lançamento de “Walk Away Renée” do grupo Left Banke em 1966. Mas após o lançamento do álbum Rubber Soul dos Beatles que incluía "In My Life", os produtores ingleses e americanos começaram a usar e abusar do cravo, das cordas e de elementos da música erudita em geral. Os Rolling Stones com “Lady Jane” e os Beach Boys com “God Only Knows” do disco Pet Sounds são bons exemplos desse início do Pop Barroco. Aí os Beatles lançaram o disco Revolver com as faixas “Eleanor Rigby” e “ For No One” e em seguida o Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band que usava e abusava de elementos Clássicos, Barrocos, Vitorianos e Eduardianos misturados à psicodelia lisérgica da época.

Pete Townsend da banda The Who
Pete Townsend da banda The Who Pete Townsend da banda The Who

À partir desse lançamento, a música popular inglesa e americana caminharam lado a lado com o Barroco e o Clássico. Até as roupas do movimento Flower Power tinham influência do século XVIII, e artistas como o Jimi Hendrix e Pete Townshend da banda The Who, usavam trajes que fariam inveja à Bach e Haydn. Aqui no Brasil, artistas como Ronnie Von e os Mutantes foram os maiores representantes do estilo.

Em seguida obras como “Days of Future Past” do Moody Blues, “Odyssey and Oracle”, “Whiter Shade of Pale” do Procol Harum, definiram o Pop Barroco. Muitas bandas surgiram, outras já estabelecidas entraram nessa onda que eventualmente foi desafiada por outro som psicodélico vindo da cena musical de São Francisco.

O Pós-Pop-Barroco

Com seu declínio em popularidade nos anos 70, o “Pop Barroco” ou “Rock Barroco” ou até “Rock de Câmara”, acabou se transformando em outros estilos, principalmente no Rock Progressivo. Bandas como Yes, Jethro Tull e Gentle Giant, foram evoluções desse movimento que priorizavam a instrumentação, composição e arte musical, deixando em segundo plano os elementos mais populares do mainstream. Gentle Giant, por exemplo, usava influências Românticas, Clássicas, Medievais, além do próprio Barroco, em fusões com o Jazz, o Folk e o Rock, mesclando instrumentos clássicos e contemporâneos. Já The Electric Light Orchestra, juntou o som dos Beatles com elementos e instrumentação de grandes Orquestras, que resultou numa das sonoridades mais interessantes do Pop dos anos 70.

Na década de 90 até os anos de 2010, o estilo teve um retorno com o título de “Chamber Pop” (Pop de Câmara) dentro dos estilos Indie. Sua influência vinha principalmente do disco Pet Sounds dos Beach Boys, priorizando texturas e melodias com elementos e instrumentos da música erudita. A sonoridade por sua vez, era bem anos 60.

Da mesma forma que a música erudita evoluiu, se transformou e acompanhou nossa história até o século XX, a música popular contemporânea também. São reinvenções, inspirações, fusões que fazem os sons interessantes, ultrapassados, modernos e antigos, agradar ou desagradar em cada período histórico, condição geográfica, social e geração. Assim como nós vivemos em ciclo e constante evolução, nossa trilha sonora, o alimento de nossa alma, é contínua e perpetuamente vai nos inspirar a construir o que amamos e destruir o que não gostamos. Como diria um sábio filósofo contemporâneo, que por coincidência é meu pai: “As coisas vão e voltam mas acabam em Rock’n Roll”.

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