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Autoestima na quarentena: preciso ser produtivo o tempo todo?

Para algumas pessoas, viver o ócio têm sido uma das principais dificuldades durante o isolamento social. Psicanalista explica qual o impacto na autoestima

Viva a Vida|Hysa Conrado, do R7

Para psicanalista, a falta de uma rotina afeta a produtividade e, por consequência, a autoestima
Para psicanalista, a falta de uma rotina afeta a produtividade e, por consequência, a autoestima

“Tento respeitar o que sinto e ao mesmo tempo surge algo dizendo que preciso produzir, ler ou pesquisar tal coisa. Mas há dias em que nada parece interessante”, desabafa Kauan Almeida, de 27 anos, que é formado em fisioterapia e se prepara para um doutorado em Educação.

Neste momento, em algum lugar da internet, há uma live que convida para a prática de yoga, outra que ensina uma receita incrível até para quem não sabe cozinhar, um tutorial de como customizar um shorts jeans em casa, a blogueira que diz que esse é o melhor momento para desengavetar projetos e aproveitar o “tempo livre” do isolamento social.

Como se já não bastasse o estresse coletivo de vivenciar uma pandemia, há ainda um bombardeio que convida o tempo inteiro à produtividade. Para muitos, este era o golpe que faltava para colocar a autoestima em xeque.

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Para a psicanalista Ana Paula Oliveira, vivenciar a quarentena fez com que as pessoas se olhassem mais e percebessem coisas que não viam durante a correria do dia a dia. Por não haver uma rotina estabelecida de fora para dentro, elas sentem que não conseguem produzir o quanto deveriam. E, segundo a especialista, a autoestima da população brasileira está atrelada ao quanto se é produtivo.

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“O isolamento fez com que as pessoas entendessem que precisam de um espaço de escuta. Aumentou muito a procura por terapia nesse momento, porque quando eu não posso me organizar pelo o que eu faço, preciso me organizar pelo o que eu sou e as pessoas se dão conta de que não sabem quem são elas mesmas. Aí mexe na autoestima nesse sentido”, explica Oliveira.

A professora Isabely Fonseca, de 24 anos, afirma que não se deixa levar pela cobrança de ser uma pessoa produtiva neste momento e que adotar esta postura só foi possível graças ao cuidado que dedica à saúde mental desde antes da pandemia. “Tudo bem às vezes eu não conseguir escrever um projeto ou pintar uma casa. Nessa hora, vejo que o ano de terapia me ajudou quanto à autopercepção e conhecimento de meus limites”.


Pensar a produtividade a partir do desejo

Eu quero fazer yoga? Desengavetar aquele projeto? Tenho que fazer porque estão dizendo que essa é a hora? Para a psicanalista, a melhor forma de estabelecer uma rotina durante a quarentena é pensar a partir do desejo e do que faz sentido dentro da realidade de cada um. Se não existia um hábito de leitura antes, a culpa de não conseguir ler um livro por semana agora não é do estresse provocado pelo isolamento social.

“Tenho incentivado as pacientes a observarem o quanto elas desejam fazer aquilo. Talvez todos esses incentivos não sirvam para todo mundo, não é porque estão dizendo que tem que fazer, que a gente precisa repetir. As pessoas sentem dificuldade de administrar uma rotina que não seja pontuada por um outro e se cobram pois não conseguem vivenciar o ócio”.

Colocar uma roupa bonita para ficar em casa, ou fazer uma maquiagem para encarar o home office ou as tarefas domésticas tem sido um dos principais assuntos entre as influenciadoras de moda. Para Oliveira, é importante que as pessoas consigam se arrumar minimamente, pois o autocuidado também é fundamental para a saúde mental, mas com cuidado para que isso não vire mais uma cobrança.

“Não precisa colocar um salto alto, mas se arrumar. Em tempos de quarentena, em que a rotina foi atravessada por um existir sem ocupar-se da imagem, observo que as blogueiras colocam uma supervalorização dessa estética”, explica. Para ela, é importante retomar hábitos que proporcionem sentimentos de conforto, segurança e serenidade.

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