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Patricia Lages

Análise: Querem controlar o que você fala

Vivemos em um país onde a maioria critica o governo (qualquer que seja ele), mas, por outro lado, quer conceder mais poder ao Estado. Essa conta fecha?

Patricia Lages|Do R7

A ingerência governamental na fala das pessoas é algo inédito nas democracias ocidentais
A ingerência governamental na fala das pessoas é algo inédito nas democracias ocidentais

Que o Brasil é um país controverso todo mundo sabe. Mas o que não se pode entender é o que leva uma população esmagada e oprimida pelo governo — qualquer que seja ele — a querer conceder ainda mais poder à grande máquina do Estado.

Você compra um carro e lá está o governo para levar a sua parte sem ter de dar nada em troca, nem mesmo o mínimo, como um asfalto razoável, por exemplo. Você compra uma casa e cai de costas com o valor do ITBI, além de arcar anualmente com o IPTU, mesmo sem ver onde esse dinheiro é empregado.

Você formaliza o seu micronegócio abrindo uma Microempresa Individual (MEI) e o governo estará lá, desde o primeiro dia, para fazer o papel daquele sócio que só atrapalha, mas que comparece religiosamente para buscar a sua porcentagem. Sem esquecer de que, se a sua MEI crescer além do limite pré-estabelecido, você será “punido” com o desenquadramento e, portanto, terá que pagar alíquotas maiores de imposto.

Realmente vivemos em um país muito criativo, pois transformar a ideia de punir quem cresce – e faz a roda da economia girar – em lei e ainda fazer as pessoas acharem isso bom, exige um certo grau de genialidade...


Não bastasse o controle que o Estado já exerce sobre nós e sobre nosso dinheiro, agora querem conceder ao Governo o poder de controlar o que falamos, a exemplo do que anda acontecendo no Canadá. Afinal de contas, o Brasil precisa copiar o que acontece nos países de primeiro mundo, não é mesmo? Mas essa cópia só funciona com o que não acrescenta nada.

O professor de psicologia da Universidade de Toronto, Jordan Peterson, foi alvo de protestos depois de se recusar a obedecer uma lei que obriga as pessoas a deixarem de usar os pronomes “he” e “she” — ele e ela — e passem a usar um pronome que nem sequer existe na língua inglesa: “ze”. A justificativa é eliminar, por força de lei, o gênero masculino e feminino das falas.


A ingerência governamental na fala das pessoas, ou seja, exercer uma interferência que as obriga a usar um tipo de linguagem pré-determinada é algo inédito nas democracias ocidentais. Mas para que ninguém perceba o controle extremo e para que haja aceitação por parte da população, essa imposição vem com uma roupagem de diversidade e inclusão.

Aqui no Brasil já vemos a substituição de “a” e “o” por x, substituindo o uso de meninos e meninas por “meninxs” e o uso da letra “e”, como em “alunes” para se referir a alunos e alunas. A professora de Língua Portuguesa Cintia Chagas, destacou em seu Instagram que vai continuar dizendo “boa noite a todos” e que a obrigação de cumprimentar com “boa noite a todos e a todas” é desnecessária, uma vez que “todos”, segundo as normas do nosso idioma, inclui homens e mulheres.


E quanto a você? Vai aderir ao controle que a patrulha do idioma quer impor ou prefere ter o direito de, pelo menos, continuar usando a Língua Portuguesa da forma correta?

Patricia Lages

É jornalista internacional, tendo atuado na Argentina, Inglaterra e Israel. É autora de cinco best-sellers de finanças e empreendedorismo, palestrante e conferencista do evento “Success, the only choice” na Universidade Harvard. Apresenta quadros de economia na TV Gazeta e RecordTV e é facilitadora da RME para o programa mundial WomenWill – Cresça com o Google.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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