Empresa lança carne de caju como alternativa à proteína animal
Com hambúrguer vegetal, bolinhos e até feijoada, marca se destaca como a primeira do mundo a usar a fibra de caju no preparo de pratos flexitarianos. A iniciativa tem parceria com a Embrapa e ajuda o meio ambiente.
É de comer|Do R7
Depois do hambúrguer de quinoa, da almôndega de grão de bico ou mesmo da bolonhesa de soja, a turma flexitariana ou vegetariana agora tem uma nova opção de proteína vegetal para substituir o consumo de carne: os pratos à base de fibra de caju. A foodtech Amazonika Mundi chega ao mercado com uma bandeira: evitar o desperdício de 366 mil toneladas de polpa de caju, que eram descartadas por ano pela indústria de sucos e levar opção à mesa do brasileiro que consome carne bovina, suína, de aves ou de peixes.
À frente do projeto pioneiro está Cello Camolese Macedo. Formado em comunicação, ele começou no ramo gastronômico em 1991 à frente de alguns bares em São Paulo (Brancaleone e Grazie à Dio) e depois logo foi pro Rio de Janeiro, onde abriu outras casas, as mais recentes a Casa Camolese e o Mistubá. Em 2020, entrou pro mundo das foodtechs com a Amazonika.
O uso da carne de caju em pratos salgados da culinária brasileira não é de agora. Temos receitas consagradas, como a moqueca de caju, servida em restaurantes de cozinha nordestina como o Balaio IMS, em São Paulo, do chef Rodrigo Oliveira. Aliás, o prato desbanca todos os outros na lista de preferência dos clientes, sejam eles vegetarianos ou não. Dá pra fazer coxinha com carne de caju, no lugar do frango. Escondidinho de carne de caju. Enfim, pense num tempero e use as fruta como uma carne desfiada mesmo (só não se esqueça que precisa espremer bem o suco antes, até a polpa ficar sequinha).
Mas o processamento dessa fibra, para que ela se trasforme em hambúrgueres, bolinhos, feijoada e até falafel, é inédito entre as foodtechs que apostam no mercado sem proteína animal. A empresa de Cello ainda tem um apelo para a preservação da Amazônia ao usar ingredientes locais como extrato de açaí, óleo de patauá, óleo de sacha inchi, tucupi preto, pimenta assîsîurucum, feijão-manteiguinha de Santarém e farinha d'água de Bragança.
A companhia diz que sabe a origem de cada alimento que usa na preparação dos pratos e eu conversei com o Cello para tentar entender como o caju, que eu costumo pagar bem caro para fazer meus drinks aqui em São Paulo, chega até o Rio de Janeiro, onde fica a sede da Amazonika, com um preço competitivo.
O caju é uma fruta cara, principalmente aqui no sudeste, se comparada a muitas outras. Quem são os seus fornecedores de fibra, são empresas que trabalham com o suco ou a castanha do caju? E como vocês conseguem chegar a um preço competitivo?
Cello: Sim, a polpa do caju é reaproveitada, a partir do descarte da indústria de sucos. Damos um novo significado à essa polpa e aumentamos a cadeia de valor da cajucultura, uma das mais importantes do Nordeste do país. Além disso, nossos produtos são clean label, ou seja, têm o rótulo limpo. Isso significa que tudo que tem nas caixas da Amazonika Mundi são ingredientes naturais, comida de verdade. Não temos conservantes, nem transgênicos, nem aromas naturais. Assim, é muito mais fácil criar um produto saudável e com um preço competitivo.
Como funciona a parceria com a Embrapa?
Cello: É uma parceria de sucesso no desenvolvimento de produtos, que inclui inovação em tecnologia, sabor, sustentabilidade e saúde. Temos uma relação sólida, que ainda promete muitas novidades para o futuro.
Onde funciona a fábrica de vocês? Como fazem o transporte e armazenamento da fibra do caju?
Cello: Nossa fábrica está localizada em Niterói, que é a cidade onde alguns dos sócios moram. Os primeiros clientes e as primeiras feiras da marca foram, inclusive, em Niterói. A fibra do caju passa por um processo de tratamento e é seca. Assim, ela é transportada do Nordeste para o Rio. Na fábrica, ela passa por um complexo processo de lavagem e é reidratada, antes de ser utilizada em nossas receitas.
Onde os produtos da Amazonika Mundi estão sendo vendidos? Há planos de expansão em território nacional? Como está sendo a aceitação no mercado fluminense.
Cello: A aceitação do público está sendo incrível, só recebemos respostas positivas, exaltando o sabor do produto, em comparação aos concorrentes. Atualmente, estamos no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Espírito Santo, em Mato Grosso, no Ceará, no Piauí e em Alagoas. Em breve, chegaremos a mais estados e temos planos, inclusive, de exportar o produto, disponibilizando em países do exterior. Já estamos em conversas adiantadas com Austrália, Estados Unidos, Canadá e outros. É um produto altamente exportável e com apelo no exterior, pelo que a marca representa e pela questão da preocupação e da valorização da Amazônia.
Ao apelar (no bom sentindo) para a brasilidade nos produtos a Amazonika, como entrante, mira os já estabelecidos no mercado, como a Fazenda do Futuro ou até mesmo a linha vegana da Seara? Ou a ideia é ser uma marca mais nichada?
Cello: Temos muitos diferenciais em relação aos nossos concorrentes, em especial a questão do rótulo limpo. Os produtos da Amazonika Mundi, mesmo os análogos à proteína animal, são comida de verdade. Não temos aditivos esquisitos na fórmula. Além disso, somos a primeira e única foodtech do mundo a utilizar a fibra de caju como ingrediente-base de produtos análogos à proteína animal. Os ingredientes amazônicos também são um grande diferencial. Temos a rastreabilidade de cada insumo e sabemos o impacto que geramos no planeta. Ao comprarmos de pequenos produtores da Amazônia, contribuimos para preservar quase 4 milhões de hectares, ajudando a manter a floresta em pé.
Qual é o principal valor da marca, que tipo de consumidor ela quer alcançar?
Cello: Nosso propósito é promover, por meio do reino vegetal do nosso país, um consumo consciente e prazeroso, proporcionando um equilíbrio entre corpo, alma e natureza de forma sustentável e inovadora. Temos três pilares fundamentais: sabor, saúde e sustentabilidade. Nosso consumidor é jovem e antenado às demandas do meio ambiente. É uma turma engajada e que está preocupada com o que consome e com seus impactos no planeta.
Como vocês conseguem transformar a fibra do caju em algo parecido com carne? E como vocês resolvem o problema do excesso de sódio, comumente encontrado em alguns rótulos veganos/vegetarianos industriais?
Cello: Não podemos revelar todos os nossos segredos, né? Mas digamos que foi um trabalho longo do nosso departamento de Pesquisa e Desenvolvimento, para que o produto fosse criado do zero, com tecnologia aliada a ingredientes naturais e brasileiros.
Tecnologia brasileira, matéria brasileira, solução brasileira para um problema mundial. Aguardemos mais novidades, mas é ótimo ver uma novidade que, além de oferecer alterantiva ao consumo de protéina animal, também evita o desperdício de uma matéria-prima tão valiosa. Quer saber mais? Me segue lá no mei insta, o @ehdecomer
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