Peeling de fenol: o que é e quais os riscos do procedimento que causou a morte de um jovem
Tratamento agressivo não é indicado para pacientes jovens e pode causar até problemas oculares
Mais um jovem morreu em decorrência de um procedimento estético. Henrique Chagas, de 27 anos, faleceu em uma clínica na zona sul de São Paulo após a realização de um peeling de fenol — tratamento conhecido por ser extremamente agressivo —, segundo informação da Record TV.
Porém, o que é exatamente esse procedimento, como ele é feito, quais são as orientações e todos os riscos que o envolvem? Para sanar todas as dúvidas, o Makes & Afins conversou com o doutor Fabio Rebucci, médico dermatologista chefe do ambulatório de cirurgia dermatológica da Faculdade de medicina do ABC, com 23 anos de experiência em peeling de fenol.
O que é o peeling de fenol?
“O fenol é uma substância química utilizada desde a Primeira Guerra Mundial para tratamento daqueles pacientes feridos por pólvora. É um ácido que atinge até as camadas mais profundas da pele formando um novo colágeno, mais firme e esticado, e causa uma dor muito grande quando aplicado”, explica o Fabio Rebucci.
Durante o procedimento o profissional divide o rosto do paciente em cinco unidades e aplica uma solução de fenol com os produtos específicos. “Passamos numa unidade e só depois de uma hora aplicamos na outra. Nunca pode passar tudo de uma vez porque senão, realmente, pode resultar nos problemas cardíacos listados”, explica.
O processo todo dura de cinco a seis horas e, enquanto isso, o paciente está recebendo uma hidratação venosa, ou seja, soro na veia em infusão rápida para que o fenol seja todo expelido pelo rim. No final, é aplicado uma máscara que fecha a área exposta, protegendo a pele. A máscara característica do peeling é formada pele pela que está sendo “trocada”, não pelo produto aplicado.
“Uma coisa importante é o paciente ter esclarecimento em relação ao pós-operatório, que é muito longo e doloroso”, alerta o especialista.
Quais são os riscos do procedimento?
O médico conta que o principal risco do peeling de fenol é a morte. “A causa dessa morte é a dor e não outros problemas cardiológico ou nefrotóxico, por exemplo. Então quando você passa o ácido e não tem um controle de dor correto feito pelo médico, essa dor pode causar arritmia e a arritmia virar uma parada cardíaca. Provavelmente o que aconteceu com esse menino.”
Porém, além da morte, existem outros problemas que são comuns. “[O tratamento] pode resultar em uma diferença de cor na pele, então o paciente pode ficar com manchas mais claras no rosto. O tratamento também pode ser afetado por cicatrizes com queloides e até exacerbar uma doença de pele já existente”, revela Fabio.
Quando realizado numa pessoa jovem, que não tem indicação e a pele não está preparada para receber o ácido forte, o fenol também pode causar um esticamento dos olhos, que ficam meio abertos, causando problemas graves de ressecamento na região para sempre.
Para quem é indicado o peeling de fenol?
Fabio é categórico ao dizer que o fenol só deve ser feito em pessoas com muitas rugas e muita flacidez do rosto.
“Ele não pode ser feito em pessoas jovens, somente em pessoas com muitas rugas e muita flacidez, ou seja, acima dos 40 anos. Realizar o procedimento em um jovem de vinte e poucos anos é totalmente errado, porque a pele do jovem não consegue cicatrizar tanto, então é mais propensa a outros problemas como cicatrização ruim ou queloide”, explica.
Existe uma crença de que o procedimento também é indicado para o tratamento de marcas de acne, mas isso é um mito.
“Cicatriz de acne é um afundamento, uma perda de volume. As espinhas na adolescência comem a gordura da pele, só que o peeling de fenol não repõe essa gordura, então não tira aquele afundamento [...] e não é indicado para cicatriz de acne. Melhora muito pouco”, revela o especialista.
O peeling também é contraindicado para pacientes com doenças cardíacas, hepatite, insuficiência renal, gestantes e lactantes. Depois, a pessoa não pode tomar sol por três meses e precisa ficar em casa por, no mínimo, 15 dias. Além disso, não pode lavar o rosto, nem mexer muito a boca e só deve ingerir alimentos pastosos ou por meio de canudinho.
Como é feita a avaliação para o procedimento?
O médico conta que a avaliação para saber se um paciente tem ou não indicação deve ser feita pelo dermatologista, que solicitará uma avaliação cardiológica.
“O tratamento só é feito quando o cardiologista libera o paciente, quer dizer que o paciente não tem problemas cardíacos que possam atrapalhar na hora do procedimento.”
Como funciona a anestesia para a realização do peeling de fenol?
A anestesia é o procedimento mais importante do peeling, porque, se o médico não garante que o paciente não vá passar a dor, pode causar arritmias e parada cardíaca. Existem dois tipos possíveis de anestesia: bloqueio anestésico local ou com sedação total.
“Ou o médico vai infiltrar um anestésico no rosto, ou então o anestesiologista vai fazer essa sedação do paciente no centro cirúrgico.”
Quais profissionais podem realizar o tratamento?
Em nota, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) afirmou defender “que procedimentos invasivos devem ser feitos por médicos capacitados e treinados para identificar e tratar eventuais complicações, uma vez que é um tratamento que tem repercussão sistêmicas, já que o peeling de fenol é cardiotóxico, hepatotóxico e nefrotóxico, e somente o médico em um ambiente adequado ou em clínica autorizada pode fazer esse procedimento.”
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.