Atriz mais bem paga do mundo recebe quase R$ 100 milhões a menos que ator com maior cachê

Discrepância nos pagamentos por questão de gênero gera protestos e reflexões

Pop|Do R7

24/08/2015 - 00h25 (Atualizado em 20/04/2024 - 07h40)

A revista Forbes divulgou na última semana a lista com as atrizes mais bem pagas do cinema, com Jennifer Lawrence liderando. No começo do mês, a lista dos atores mais bem pagos já havia sido divulgada. Acontece que, comparando as duas relações, é possível perceber que os homens recebem muito mais dinheiro que as mulheres, mesmo que elas tenham feito tantos filmes quanto eles, com o mesmo potencial de bilheteria ou até dado mais lucro para os estúdios. Enfim, desempenhando as mesmas funções.

Para se ter uma ideia, o primeiro colocado da lista dos atores é Robert Downey Jr., que faturou US$ 80 milhões em 2015 (cerca de R$ 279 milhões), enquanto Jennifer Lawrence recebeu US$ 52 milhões (o equivalente a R$ 181 milhões). A diferença equivale a 35% menos de salário para ela, cerca de US$ 28 milhões (ou R$ 97,8 milhões).

Mas o que acontece para que essa discrepância seja tão grande? Em 2014, por exemplo, Jennifer foi a artista mais rentável para os estúdios de cinema, entre homens e mulheres. Isso quer dizer que foram os filmes estrelados pela atriz que deram mais retorno para as empresas no quesito faturamento. Mesmo assim, em 2015, ela ainda recebe um valor inferior ao dos homens que deram menos lucro no ano anterior. E não é só com Jennifer que isso acontece...

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Comparando os 10 homens mais bem pagos do cinema com as 10 mulheres mais bem pagas, todos eles recebem mais. Algumas vezes, a diferença é ainda maior do que a dos primeiros colocados. O jornalista especializado em cinema Rodrigo Salém diz que, infelizmente, pagar menos às mulheres ainda é comum em Hollywood.

— É uma área ainda
muito machista e é uma consequência de um pensamento retrógrado matemático:
quantos filmes feitos por mulheres tornaram-se fenômenos de bilheteria? Mas
como essas mulheres podem provar o contrário se não há tantas oportunidades para
os estúdios entregarem seus grandes filmes para elas?

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Rodrigo Salém revela alguns dos motivos por trás desse problema.

— A diferença salarial existe porque a indústria passou décadas
acreditando que mulheres não teriam a mesma gama de atuação dos homens: eles
podiam fazer de dramas de época a filmes de ação futuristas, enquanto as
mulheres ficavam presas às comédias românticas. Isso gerava um abismo salarial
estúpido.

O jornalista ainda fala se isso se repete no cinema brasileiro.

— O Brasil atua em outro ramo mais forte do entretenimento: as novelas. E a maioria delas possui atrizes tão grandes ou mais famosas que os homens. Só por isso existe uma possibilidade de que exista um disparate menor de salários. Mas não sei se é o suficiente

A filosofa Márcia Tiburi ressalta que esse problema vai além do mundo do cinema.

— Todos os países têm isso. A equiparação
salarial é uma luta do feminismo em todos os lugares e na maioria das áreas. Não
existe nenhum país do mundo em que as mulheres ganhem mais do que os homens. É uma questão de machismo estrutural, algo que já está enraizado, virou costume e as pessoas continuam "imitando" essas atitudes que desvalorizam a mulher.

Para Marcia, só existe uma explicação para o fato de mulheres ganharem salários inferiores desempenhando as mesmas funções que os homens.

— É revoltante porque não existe nenhum dado
que nos mostre um motivo além de machismo. É algo puramente ideológico. Esse problema começa no âmbito doméstico,
começa na casa onde a mulher tem que fazer tudo e os homens não devem se preocupar. Isso é o machismo estrutural, aquilo que continua da forma que sempre foi por simplesmente continuar

Outro caso deste ano que comprova a disparidade entre os salários de mulheres e homens em Hollywood veio à tona durante uma conferência da Netflix. A atriz Jane Fonda, que protagoniza a série Grace e Frankie ao lado de Lily Tomlin, revelou que os colegas de série Sam Waterston e Martin Sheen, que não são protagonistas da série, ganhavam a mesma quantia que elas.

— Isso não nos deixa felizes. A série não se chama Sol e Robert (nomes dos personagens de Waterston e Sheen), mas sim Grace e Frankie.

Na internet, foi criada uma petição para que essa situação fosse alterada. Mais de 36 mil pessoas assinaram. Na descrição, a criadora da petição dá um exemplo interessante.

— Em 1980, Lily Tomlin e Jane Fonda estrelaram juntas Como Eliminar Seu Chefe, uma comédia sobre três mulheres que viram a mesa contra um chefe sexista e intolerante, o que mostrou o sexismo no local de trabalho com uma nova perspectiva. Agora, ironicamente, Tomlin e Fonda revelaram à imprensa que, apesar de sua nova série da Netflix Grace and Frankie ser centrada em suas personagens, elas estão recebendo o mesmo salário que os atores coadjuvantes, que interpretam seus ex-maridos

A disparidade salarial entre homens e mulheres chega a atrapalhar a economia. Quem argumenta isso é Agnelo Pacheco, dono da agência de publicidade Agnelo Comunicação, uma das maiores do País.

— Essa
diferença de salários, do ponto de vista do mercado e da economia, é ruim. A mulher é uma consumidora mais presente, mais atuante. Se a
mulher ganhasse salários equivalentes ao do homem, ela gastaria mais e isso
seria bom para o mercado. Quanto mais mulheres, melhor para a economia

A empresa de Agnelo é responsável por uma campanha que viralizou nas redes sociais. Batizada de The Unfair Menu (ou O Cardápio Injusto), a ação mostra pessoas reais entrando em um restaurante e se deparando com um aviso de que os homens teriam que pagar 30% a mais por simplesmente serem homens.

— Nós filmamos as reações das pessoas, que ficavam indignadas. Quando chamavam o gerente para pedir uma explicação, descobriam que fizemos diversas pesquisas com relação aos salários pagos e, na média, as mulheres recebem 30% a menos que os homens, desempenhando os mesmos trabalhos. Se elas recebem 30% a menos, nada mais justo cobrar 30% a mais deles. Então as pessoas reagiam de outra maneira. Não esperávamos tanta repercussão. Chegamos a 2 milhões de
visualizações. É uma campanha de conscientização para a desigualdade salarial por questão de gênero. No fim, as pessoas recebiam o jantar de graça por terem participado

Márcia Tiburi também chama a atenção para a representação das mulheres nos filmes.

— É mais difícil ver mulheres com papéis de protagonistas. O número de homens protagonistas é maior e existe também a questão de como elas são representadas nos filmes. Tudo isso faz parte do problema.

Uma pesquisa realizada em 2014 pela Universidade do Sul da Califórnia traz dados que corroboram essas informações dadas por Márcia. A pesquisa foi solicitada pelo Geena Davis Institute on Gender in Media, com o apoio da ONU Mulheres e da Rockefeller Foundation. Constatou-se que menos de um terço dos personagens com falas nos filmes são mulheres e que menos de um quarto, cerca de 22,5%, das vagas de trabalho no mundo do cinema são ocupadas por mulheres. Ao site da ONU Mulheres, a atriz Geena Davis falou sobre o poder da representação.

— A verdade é que as mulheres são seriamente subrepresentadas em quase todos os setores da sociedade no mundo todo, não apenas na tela. Entretanto, na maioria dos casos, simplesmente não estamos cientes do alcance disso, e as imagens na mídia exercem uma influência poderosa na criação e perpetuação dos nossos preconceitos inconscientes. Contudo, as imagens da mídia podem também ter um impacto muito positivo nas nossas percepções. Lamentavelmente, há poucas mulheres na posição de CEO ao redor do mundo, mas podemos ter várias nos filmes. Como incentivamos mais meninas a buscarem carreiras em ciências, tecnologia e engenharia? Criando hoje várias personagens em filmes que trabalham em ciências, tecnologia, engenharia, matemática, política, direito e outras profissões

Para que você tenha uma ideia, Angelina Jolie, a 7ª colocada na lista das atrizes mais bem pagas, recebeu em 2015 o mesmo salário que o 30º colocado da lista dos homens, Will Ferrell

No Oscar 2015, Patricia Arquette foi eleita a Melhor Atriz Coadjuvante por Boyhood — Da Infância à Juventude e fez um discurso sobre a diferença de salários entre mulheres e homens em Hollywood.

— Para cada mulher que deu à luz um contribuinte desta nação, nós lutamos por direitos iguais de todos. É a nossa hora de termos igualdade nos salários, de uma vez por todas, e direitos iguais para as mulheres dos Estados Unidos da América

Meryl Streep e Jennifer Lopez aplaudindo Patricia Arquette
Patricia Arquette foi a vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, por sua incrível atuação em Boyhood — Da Infância à Juventude. Em seu discurso de agradecimento, Patricia defendeu que as mulheres merecem igualdade nos salários e nos direitos. Ela foi aplaudida de pé, mas quem roubou a cena foi a dupla Meryl Streep e Jennifer Lopez que ovacionaram Patricia e ficaram super empolgadas com a fala da colega

Outro exemplo que diz muito sobre a mulher no mercado do cinema é a quantidade de mulheres indicadas e ganhadoras do Oscar. Se pegarmos, por exemplo, a categoria de de Melhor Direção, apenas UMA mulher venceu o prêmio em 88 anos de cerimônia. Kathryn Bigelow foi a primeira mulher a ganhar apenas na 82ª edição do Oscar, por seu trabalho em Guerra ao Terror

Para Márcia Tiburi, infelizmente, estamos longe de alcançar uma equivalência nos salários.

— Resolver isso seria justiça e respeito, mas essas são coisas parecem mais difíceis do que são de conseguir.

Um relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho) deste ano revela que a renda global das mulheres continuará atrás da dos homens nos próximos 70 anos se a diferença salarial for diminuída na velocidade atual

Outra comparação além da que você vê acima é que Mark Wahlberg, o décimo da lista dos atores mais bem pagos, ganha apenas US$ 3 milhões a menos que a segunda mulher da lista, Scarlett Johansson, que fatura US$ 35,5 milhões.

O jornalista Rodrigo Salém opina que há uma perspectiva de melhora em todas essas diferenças, puxada pelas próprias atrizes, que estão revoltadas com essa situação, e por exemplos como o de Jennifer Lawrence, que rendeu bilhões aos estúdios de cinema em Jogos Vorazes.

— Mas é um processo bem mais lento do que gostaria. Meryl Streep está criando oficinas de roteiro para mulheres acima dos 40 anos. Reese Witherspoon produz filmes com personagens femininas fortes. E o sucesso de Jogos Vorazes mostra que essa bobagem de que "mulher não pode lutar como homem" está acabando. É essencial que Charlize [Theron] ou Scarlett Johansson tomem posições duras em relação a negociações de contrato. Isso pode não refletir tanto no momento, mas as consequências para o futuro serão maravilhosas

A revista Forbes divulgou na última semana a lista com as atrizes mais bem pagas do cinema, com Jennifer Lawrence liderando. No começo do mês, a lista dos atores mais bem pagos já havia sido divulgada. Acontece que, comparando as duas relações, é possível perceber que os homens recebem muito mais dinheiro que as mulheres, mesmo que elas tenham feito tantos filmes quanto eles, com o mesmo potencial de bilheteria ou até dado mais lucro para os estúdios. Enfim, desempenhando as mesmas funções. Para se ter uma ideia, o primeiro colocado da lista dos atores é Robert Downey Jr., que faturou US$ 80 milhões em 2015 (cerca de R$ 279 milhões), enquanto Jennifer Lawrence recebeu US$ 52 milhões (o equivalente a R$ 181 milhões). A diferença equivale a 35% menos de salário para ela, cerca de US$ 28 milhões (ou R$ 97,8 milhões). Mas o que acontece para que essa discrepância seja tão grande? Em 2014, por exemplo, Jennifer foi a artista mais rentável para os estúdios de cinema, entre homens e mulheres. Isso quer dizer que foram os filmes estrelados pela atriz que deram mais retorno para as empresas no quesito faturamento. Mesmo assim, em 2015, ela ainda recebe um valor inferior ao dos homens que deram menos lucro no ano anterior. E não é só com Jennifer que isso acontece... Acesse o R7 Play e assista à programação da Record quando quiser

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