Campeonato da Beija-Flor não representa vitória da ditadura de Guiné Equatorial
Escola de Nilópolis homenageou o país africano na Sapucaí
Carnaval 2015|Thiago Calil, do R7
Não teve para ninguém. A Beija-Flor foi a grande campeã do Carnaval carioca de 2015. E, se o assunto é desfile de escola de samba, não há o que se contestar. Mais uma vez, a Azul e Branco de Nilópolis atravessou a Sapucaí com luxo estrondoso, acabamentos fascinantes, evolução e harmonia impecáveis... Que time vencedor!
Mas a polêmica tomou conta do noticiário: a Beija-Flor teria recebido recursos milionários de Guiné Equatorial para financiar seu desfile — a escola e o governo negam. Além de ser um dos países mais pobres do mundo, a nação é governada por um presidente ditador, ao qual recaem acusações de violação aos direitos humanos.
É importante deixar claro que a vitória da Beija-Flor não representa a vitória do governo de Guiné. O país não se tornou um lugar melhor ou pior por causa do desfile. Foi uma vitória do Carnaval brasileiro, da cultura afro e de uma escola bem preparada.
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O que pode ter pesado sobre a escola é o fator sorte. A chuva que caiu no Rio de Janeiro prejudicou demais as escolas da primeira noite. Das seis últimas colocadas, quatro foram as agremiações que abriram o Carnaval do Rio.
Outra vitória do Carnaval 2015 é do dinheiro. Não há como negar que um dos motivos da beleza plástica do desfile da Beija-Flor é a força do capital. Mas não foi a primeira nem a última escola a fazer um enredo patrocinado. Aliás, oferecer um espetáculo no nível que se vê na Sapucaí custa caro. Antes vir de empresas privadas ou de fora do que recorrer ao dinheiro público, correto?
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Vale lembrar que dinheiro não compra harmonia, não compra evolução, não tem nada a ver com comissão de frente ou mestre-sala e porta-bandeira. Isso são méritos dos componentes.
O acerto da Beija-Flor foi, em vez de focar exclusivamente no país homenageado, falar sobre o povo afro, a cultura negra... Isso é Carnaval. Quando ao resto, Beth Carvalho resumiu magistralmente na canção “Dia Seguinte”:
“E depois quando a festa acabar o que vai ser dessa vida? Vai voltar ao que era antes de passar pela avenida. Nem melhor , nem pior porque não pode ser mais dolorida. Que será desse mundo de branco e de azul quando o som das pastoras emudecer e o som da batida do surdo parar igual um coração para de bater”.