Patrocinada por ditadura, Beija-Flor canta Guiné Equatorial e leva título do Carnaval do Rio
Mesmo com polêmicas, escola encantou os jurados com desfile impecável
Rio de Janeiro|Do R7, com Agência Estado
A Beija-Flor de Nilópolis conquistou o Carnaval carioca de 2015 com homenagem a Guiné Equatorial. O 13º título da escola de Nilópolis veio cercado de polêmicas envolvendo um patrocínio que a agremiação teria recebido para o desfile "Um griô conta a história: um olhar sobre a África e o despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de nossa felicidade".
Embora a Beija-Flor estivesse entre as favoritas desde o começo, a apuração foi apertada. A escola de Nilópolis foi "perseguida" de perto pelo Salgueiro. No fim, a Vermelho e Branco ficou meio ponto atrás da campeã. A presidente do Salgueiro, Regina Celi, não achou o resultado injusto.
— Não faltou nada, não teve injustiça. Ano que vem corro atrás do primeiro lugar de novo. É Carnaval, todo mundo faz um belo Carnaval. O terceiro lugar foi para a Unidos da Tijuca, seguida por Portela, Imperatriz e Grande Rio. As seis escolas voltam à Sapucaí para o desfile das campeãs no próximo sábado (21).
Veja como ficou a classificação geral
Na outra ponta da tabela, a Viradouro foi a rebaixada. A escola, que voltou ao Grupo Especial em 2014, foi a que mais sofreu na avenida devido às chuvas.
Polêmica
Semanas antes do Carnaval, a Beija-Flor foi alvo de diversas críticas. Guiné Equatorial é governada há 35 anos pelo presidente Teodoro Obiang Nguema, contra quem pesam acusações de violações aos direitos humanos.
Especula-se nos bastidores que a escola recebeu R$ 10 milhões do governo do país africano. O embaixador da Guiné Equatorial no Brasil, Benigno-Pedro Matute Tang, negou que o país tenha financiado o desfile.
— Foram financiadores culturais. Um deu 50 euros, outro deu 100 euros. Não temos como saber quanto cada um deu, o valor exato. O governo não tem nada a ver com isso. Somente pessoas do meio cultural (...) O que a imprensa divulgou é uma soma muito excessiva. Se quiserem, podemos verificar e fazer a estimativa em detalhes em vez de falar no ar.
Confira todas as notas do Carnaval
Segundo o embaixador, autoridades do país vieram acompanhar o desfile com uma comitiva de quase 40 pessoas, incluindo o vice-presidente, Teodoro Nguema Obiang Mangue, e alguns ministros. O presidente Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, contudo, não viajou ao Brasil "por questão de agenda", disse o embaixador.
A responsável por levar o enredo para a escola foi a rainha de bateria, Raíssa de Oliveira. Outra especulação é que o vice-presidente do país e filho do mandatário, Teodoro Obiang Mangue (conhecido como Teodorín), teria se apaixonado por Raíssa. A musa da escola nega.
O desfile
Apesar da polêmica, o desfile da Azul e Branco, mais uma vez, foi impecável, com harmonia e evolução incríveis. Se não bastasse isso, foi preciso reverenciar o talento. O casal Selminha Sorriso e Claudinho comemoraram 20 anos com o pavilhão oficial da Beija-flor, conquistando a nota máxima no quesito.
O desfile abriu exaltando a ancestralidade na comissão de frente. No abre-alas, os povos ainda na floresta. Símbolos da cultura africana foram mostrados nas alas, que retrataram o continente como berço negro do mundo. Após a chegada dos colonizadores, as riquezas naturais da Guiné Equatorial, como o cacau e o petróleo. Por fim, a ascensão do país africano.