Leda Nagle comemora nova fase na web: "É bom poder se reinventar"
Apresentadora quer fazer um programa ao lado do filho, Duda Nagle
Famosos e TV|Daniel Vaughan, do R7
Leda Nagle deu uma reviravolta surpreendente em seus 40 anos de carreira.
Depois ter causado comoção ao ser demitida do tradicional programa de TV Sem Censura, a jornalista se reinventou como YouTuber, há quase um ano. E, aos poucos, a nova geração está descobrindo o talento espontâneo de Leda.
Hoje, aos 66 anos, a jornalista continua mais ativa do que nunca. A apresentadora acaba de realizar mais uma temporada do Sarau da Leda (bate-papo com música ao vivo) e quer fazer um programa ao lado do filho, o ator Duda Nagle. Duda, aliás, é o mentor da transição da mãe para a internet.
— Ele é o grande incentivador da minha ida para o YouTube. O Duda me ajuda em tudo: na produção, direção e até nas pautas. Ele gosta disso.
O R7 flagrou o trabalho em família no dia da entrevista com a jornalista em São Paulo. Leda recebeu o Portal em uma área de lazer do apartamento de Duda, na Vila Madalena, zona oeste da capital.
Sorridente e com a voz rouca inconfundível, Leda cumprimentou o repórter, sem deixar de ficar de olho na sala vizinha. Do outro lado, Duda arrumava o set para a gravação do canal, que viria logo em seguida. Preocupado, o jovem de 34 anos ajustava as luzes, arrastava móveis e conferia até os petiscos para o convidado.
E o xodó do momento da apresentadora é mesmo o canal de vídeos. Com mais de 50 mil inscritos na plataforma, Leda continua mostrando assuntos pertinentes e, alguns deles, bem polêmicos. A recente entrevista com Zezé Di Camargo deu o que falar. O cantor afirmou que a ditadura militar nunca existiu no Brasil.
Apesar do sertanejo ter despertado controvérsia nas redes, Leda defende a democracia online.
— Apanhei bastante por causa disso. Algumas pessoas me acusaram de estar perdendo tempo ou de querer apenas ibope. Porém, outros internautas me elogiaram bastante. Internet é assim mesmo. E eu quero que cada um fale e pense o que quiser. Deve haver liberdade de expressão para os convidados e para quem está assistindo.
Para saber mais sobre a carreira e as novidades de Leda Nagle, o R7 conversou com a jornalista.
R7 — Ano passado, você foi demitida do Sem Censura (TV Brasil), após 20 anos à frente do programa. Isso gerou comoção geral.
Leda Nagle — Eu fiquei muito lisongeada e emocionada. E eu nem esperava que eu recebesse tanto apoio. Mas a TV não acabou para mim, ainda pretendo voltar com outro projeto. Agora, estou muito contente com a internet. É muito bom poder se reinventar.
R7 — Apesar de sair da TV, você acabou conhecendo um novo público na internet.
Leda Nagle — Sim. Estou gostando muito disso! O canal está indo devagar, mas está rolando. Por enquanto, eu estou fazendo um convidado por vez, mas a ideia é ampliar isso, fazer mesa redonda, entre outras ideias. Estamos com mais de 50 mil inscritos no canal e vamos comemorar um ano em março.
R7 — E você já foi reconhecida como youtuber na rua?
Leda Nagle — Eu fui com o Duda comprar algo em uma loja na Vila Madalena (SP) e o vendedor falou para ele que havia me reconhecido do YouTube! O Duda se amarrou nisso! Achei legal, porque o rapaz sabe pouco da minha carreira, pois, para ele, eu sou uma youtuber. [risos]
R7 — E também tem aqueles que te reconhecem por ser sogra da Sabrina Sato.
Leda Nagle — Pois é, agora eu sou chamada de "mãe do Duda" ou a "sogra da Sabrina"... [risos] Mas o Duda é o maior barato porque é super na dele. E ela é uma guerreira, trabalhadora e muito bem-humorada. E ainda trata bem meu filho! Então, como eu não vou gostar dela! [risos]
R7 — E o Duda te ajuda na produção online?
Leda Nagle — Ele é o grande incentivador da minha ida para o YouTube. O Duda faz de tudo um pouco: produção, direção e até pautas. Ele gosta disso.
"Agora eu sou chamada de mãe do Duda ou a sogra da Sabrina"
R7 — Parece que você está bem adaptada aos tempos de internet.
Leda Nagle — Sim. Eu tenho feito muitas coisas com essa tecnologia... além dos vídeos que eu mesma posto nas redes (ela pega o celular e mostra como faz ao repórter), estou gravando um podcast. E eu faço as entrevistas por celular em qualquer lugar que me dá vontade. Também não estou preocupada com o tempo de duração do bate-papo. Primeiro, me disseram que as entrevistas seriam mais curtas, cerca de 15 minutos. Mas eu não estou nem aí, pois coloco no ar o que eu quiser. Quem não gostar, é só deixar de ver ou dividir em partes. [risos]
R7 — Recentemente, você fez o Sarau da Leda, em São Paulo. Como surgiu a ideia?
Leda Nagle — O sarau veio durante uma conversa com o produtor musical Thiago Marques Luiz. Eu já havia feito algo parecido para um evento corporativo, daí a gente transformou isso em um projeto no Rio. Foram dois meses com bate-papos e musicais com artistas como Agnaldo Timóteo, Marcos Valle, Alcione e outros. Então, a ideia veio para São Paulo com o mesmo formato. É bem espontâneo, sem roteiros, onde eu converso ao sabor da pessoa. A gente pretende fazer outras temporadas no ano que vem, talvez, em março, depois do Carnaval.
"Eu fui criticada por causa da entrevista com o Zezé. Mas deve haver liberdade de expressão para todos"
R7 — O Sarau da Leda vai ser lançado de alguma maneira?
Leda Nagle — Sim. Nós gravamos tudo e vamos ver o que faremos com o material. Pode ser exibido em um canal a cabo ou na minha plataforma do YouTube, ainda não tenho isso definido.
R7 — E você foi pioneira em fazer esse tipo de bate-papo cultural na TV.
Leda Nagle — Eu sempre gostei de cultura, prioritariamente. Mesmo no Sem Censura, onde eu tratava de todos os assuntos, eu trazia músicos, atores, autores... É que nos últimos 21 anos eu fiz um "mix", então é o que todo mundo está mais acostumado. Mas, dentro da minha história, eu fui pioneira em fazer as entrevistas culturais do Jornal Hoje (Globo) de sábado.
R7 — E você realizou entrevistas históricas nesse período.
Leda Nagle — Eu dei muita sorte, mas também batalhei para conseguir isso. Fiz muitas coisas na TV que me orgulho.
R7 — Você surpreendeu o Carlos Drummond?
Leda Nagle — Eu estava começando. Eu liguei para a casa do Drummond e ele mesmo atendeu. Foi bárbaro! Revendo isso agora, eu vejo como eu era nova... e quantas coisas que não perguntei! A gente amadurece na vida, na maneira de fazer uma entrevista. Por outro lado, se eu não fosse tão nova, não tinha ligado na maior cara de pau. [risos] Na verdade, tem uma vantagem de ser jovem, que é não ter o compromisso de saber exatamente "tudo sobre a obra do poeta"... O jovem ainda está sem noção. [risos] Daí, ele quer bater um papo com o Drummond, fazer uma coisa mais espontânea.
R7 — Além do Drummond, que era muito fechado, você ainda conseguiu raridades como Ayrton Senna e Tom Jobim.
Leda Nagle — Sim. O Senna era fechadíssimo, tinha dificuldades com entrevistas, pois era muito tímido. E participei de um programa na TVE (TV Educativa do Rio), Leda Nagle com Certeza, que tinha um formato que eu tenho vontade de repetir. O entrevistado levava três amigos com ele. Então, isso deixava tudo mais à vontade no estúdio. Eu gravei assim com o Tom Jobim e foi maravilhoso. É uma entrevista antológica, que mostra o Tom bem relaxado.
"O Tim Maia nunca faltou ao meu programa. Ele dizia que 'Leda Lagle é uma grife!'"
R7 — E você também conquistou os polêmicos Tim Maia e Lobão.
Leda Nagle — Eu adorava conversar com o Tim Maia. Ele chegava atrasado, mas nunca faltou às entrevistas. Ele dizia: "Leda Lagle é uma grife". (risos) E eu entrevistei o Lobão várias vezes. Recentemente, ele participou do meu sarau, em São Paulo, e foi um amor. Mas todos da produção estavam tensos com a presença dele... Daí, o Lobão chegou no teatro e disse: "Hoje estou fofo". [risos]
R7 — Você também sabe lidar bem com uma "saia justa". Lembra de alguma?
Leda Nagle — Teve uma cantora mal humorada que ficou furiosa com um convidado no Sem Censura. Ela destratou ele por algum motivo, daí eu dei um "sossega leão" nela. [risos] Durante o programa, eu pedi um intervalo e disse: "Na volta, eu entrevisto a fulana de tal que vai cantar". Mas ela retrucou: "Não vou cantar, não!" Daí, eu olhei para a câmera e finalizei: "Tá bom, eu volto com a fulana de tal que não vai cantar". [risos] E, depois, ela cantou! Você tem que improvisar nessas horas.
R7 — Falando em momentos polêmicos, recentemente sua entrevista com Zezé deu o que falar. Você foi até criticada por não ter sido mais severa quando ele falou que não existiu ditadura militar no Brasil.
Leda Nagle — Eu apanhei bastante por causa disso. Algumas pessoas me acusaram de estar perdendo tempo ou de querer apenas ibope. Porém, outros internautas me elogiaram bastante. Internet é assim mesmo. E eu quero que cada um fale e pense o que quiser. Deve haver liberdade de expressão para os convidados e para quem está assistindo.
R7 — Então, na sua opinião, é preciso deixar o entrevistado à vontade?
Leda Nagle — Posso fazer um contraponto, mas eu não quero bater de frente com quem eu convidei. Ele pode falar o que quiser e eu, delicadamente, vou mostrar se concordo ou não. Essa é a minha opinião. Senão, parece que eu trouxe o entrevistado para a "fogueira". No caso do Zezé, ele já havia me confessado pouco antes de gravar que iria soltar uma "bomba". E, como eu disse, só fui mostrando minha opinião sobre o assunto.
R7 — A entrevista com Jean Wyllys também causou alvoroço.
Leda Nagle — Foi uma confusão! Três deputados pediram processo por falta de decoro, em Brasília (DF). Só porque eu perguntei o que ele faria se o mundo fosse acabar. Daí, o Jean falou que "usaria todas as drogas e transaria com todo mundo, de todos os sexos". Mas, nessa hora, você vai falar o que para a pessoa? [risos] E, atualmente, todo mundo tem uma opinião e quer discordar de tudo. Porém, a falta de liberdade para falar o que quiser pode se transformar em uma censura.
R7 — Você não fica triste com os comentários negativos?
Leda Nagle — Eu leio tudo. No comecinho, eu fiquei chateada com esses haters, mas agora isso não me atinge. São sempre os mesmos caras...
R7 — E quais são os planos para o futuro?
Leda Nagle — Eu farei mais temporadas do Sarau da Leda, tenho meu podcast e quero ampliar o canal do YouTube. E eu e o Duda temos um projeto para um programa. Será Os Nagle, onde vamos entrevistar o mesmo convidado, cada um com seu olhar sobre o assunto.